UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI
Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal – PPGBA
Ana Carolina Pereira Machado
UM CAFEZAL EM FLOR: O PAPEL DOS RECURSOS TRÓFICOS, DE
NIDIFICAÇÃO E DO ENTORNO NA MANUTENÇÃO DO SERVIÇO DE
POLINIZAÇÃO DO CAFÉ INSERIDO EM UMA MATRIZ DE CAMPO RUPESTRE
EM DIAMANTINA-MINAS GERAIS
Diamantina
2019
Ana Carolina Pereira Machado
UM CAFEZAL EM FLOR: O PAPEL DOS RECURSOS TRÓFICOS, DE
NIDIFICAÇÃO E DO ENTORNO NA MANUTENÇÃO DO SERVIÇO DE
POLINIZAÇÃO DO CAFÉ INSERIDO E UMA MATRIZ DE CAMPO RUPESTRE
EM DIAMANTINA-MINAS GERAIS
Dissertação apresentada ao programa de Pós-
Graduação em Biologia Animal da Universidade
Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, como
requisito para obtenção do título de Mestre.
Orientador: Prof. Dr. André Rodrigo Rech
Coorientador: Prof. Dr. Gudryan Jackson Barônio
Diamantina
2019
Ao meu pai, meu eterno herói e a quem não esqueço um único dia...
“Quando parar para pensar em mim, não importa o tempo ou a distância, pois o pensamento
nos unirá em qualquer parte do mundo!”
(Autor desconhecido)
AGRADECIMENTOS
Não sei por onde começar a agradecer...
São várias as pessoas responsáveis por tornar a finalização deste trabalho possível.
Primeiramente, nada disso seria possível sem o apoio ímpar da minha família, que entendeu
as minhas decisões e prioridades ao longo destes dois anos ininterruptos. Mamãe, Thomaz e
Gustavo, sempre dispostos em cooperar nos diversos estágios desse mestrado, acrescentando
muita felicidade aos meus dias. À minha Luninha, a criaturinha mais estressada e amorosa
que possa existir neste mundo. Minha cunhadinha Brenda, pelas confidências e amizade!
Vovó Maria, tias Sara e Leninha, e Yasmim, por serem um alicerce em minha vida, tornando
a vida tão mais leve. E claro, tia Bebel e família, obrigada pelos fins de semana repletos de
alegria, foram momentos de descontração necessários para que eu não perdesse o rumo neste
mestrado.
O meu orientador André, que poxa, não sei nem explicar o nível de importância que teve em
todo o período de mestrado. Me orientou de forma exemplar, respeitando e entendendo
perfeitamente as minhas demandas pessoais. Foi responsável por tornar esse mestrado gostoso
de se fazer... Foi quem participou ativamente de cada detalhe de uma forma tão espetacular,
que é difícil descrever nesse agradecimento! Gratidão!
Ricardo, por ter literalmente aberto as portas da sua casa e do seu cultivo de café para que
pudéssemos realizar este trabalho. Meu muito obrigada!
“Seu” Mário, que foi sensacional na confecção das estações e pela disposição no campo em
fixá-las! Sem palavras para agradecer o senhor da forma que merece!!!
À professora Favízia e sua aluna Caroline Tito pelo árduo trabalho em identificar todos os
espécimes coletados neste trabalho, e ainda, por me receberem tão bem em Salvador e na
UFBA. Obrigada, de coração!
Gudryan, que por mais que tenha caído de paraquedas nesta coorientação, executou seu papel
com maestria além da conta, e ainda foi o responsável por não deixar a parte mais chata de
todas, tão chata assim! Muitos risos...
Ao saudoso “Zé Panta” e sua família, por terem me proporcionado tardes/noites tão
agradáveis e divertidas! Muitas lembranças com mistura de saudade...
A todos os meus amigos que estiveram sempre presentes, aguentando todas as minhas crises,
dramas, impaciências, choradeiras, bebedeiras e falação. Em especial, à Darliana (uma das
pessoas que nem sei exatamente como agradecer, participou ativamente de toda a minha
graduação não sendo diferente neste mestrado, ajudando sempre que preciso – até mais do que
deveria, e puxando a orelha quando necessário – pouquíssimas vezes, diga-se de passagem),
Cinthia (que me aguentou dia sim, dia não ao longo destes dois anos), Amabili, Amanda,
Bebel e Mariana (que me proporcionaram momentos únicos e levemente alcoólicos ao longo
de toda a minha vida, e que não foi diferente nestes dois anos), Camila (que foi um anjo que
caiu céu neste final de mestrado, indo a campo e demonstrando ser a pessoa mais paciente que
existe até mesmo pesando e medindo grãos de café), Sah (que é uma super amiga, sempre
disposta a tudo e a qualquer momento, que não tem tempo ruim)...
E, quando se fala sobre experimento em campo, já se sabe que nada, definitivamente NADA,
é feito por uma única pessoa. Então, dentre as várias pessoas que me ajudaram de alguma
forma, seja indo ao campo ou me ajudando ativamente das atividades no laboratório, não
posso deixar de citar Dayane, Welkley, Marsal, Izabela, Isadora, Jackson, e em especial o
José, que no final, demandou tanto tempo para que esse trabalho fosse concluído na data
prevista.
À Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e ao Programa de Pós-
Graduação em Biologia Animal, pela oportunidade de desenvolver este trabalho e contribuir
para a produção científica do país.
Ao CNPq pelo aporte financeiro, permitindo que fossem executadas atividades que até então
não seriam possíveis.
Sobre o pessoal do posto, impossível não citar! Foram muitas as vezes em que precisei sair
mais cedo ou chegar mais tarde devido a disciplinas e idas a campo, e essa galera segurou as
pontas com uma competência invejável. Com certeza não teria concluído esse mestrado sem o
apoio de vocês!
Enfim, gostaria de agradecer a todos que direta ou indiretamente colaborou para que este
trabalho fosse realizado e concluído com sucesso!
*Se caso eu tenha esquecido de alguém, me perdoem, estou super acostumada em esquecer as
coisas, isso não seria diferente com as pessoas e não as tornam mais ou menos importantes
para mim!!
Gratidão a todos!
3
RESUMO
O serviço ecossistêmico de polinização é uma das mais importantes contribuições da
biodiversidade para a produção de alimentos, possui valor estimado em 43 bilhões anuais só
no Brasil. Dentre os responsáveis por esse serviço, se destacam as abelhas como sendo os
principais polinizadores de cultivos agrícolas, contribuindo com a produção de alimentos.
Este trabalho foi realizado em um gradiente vegetacional formado por áreas de cultivos de
café imersas em matriz de vegetação nativa caracterizada como Campo Rupestre. Foram
marcados pontos no interior do cafezal, no interior da vegetação nativa e na área transicional
entre estes, com dez repetições distando pelo menos 1 km entre si. O objetivo do primeiro
capítulo foi comparar os métodos de amostragem e analisar a riqueza, abundância, recorrência
e composição de abelhas no período seco e chuvoso, que antecedem e sucedem a floração do
café, respectivamente. Foram utilizadas três metodologias - pantraps, iscas de odor e coleta
ativa, em todos os pontos. Os métodos de coleta atuaram de forma complementar. A riqueza e
abundância de abelhas não diferiram entre as estações, mas diferiram quanto ao local
amostrado. Contudo, a composição de abelhas diferiu entre as estações e entre os locais
amostrados, sendo que apenas duas espécies foram recorrentes. Já o segundo capítulo, teve
como objetivo avaliar o padrão de nidificação de abelhas solitárias nesta mesma região e a
participação das abelhas na polinização das flores do café. Foram instaladas em setembro,
estações de coleta em 30 pontos amostrais (dez no interior do cafezal, dez na borda e dez na
vegetação nativa), contendo dez ninhos de bambu e dez ninhos de papel cartão preto cada,
sendo estes ninhos monitorados semanalmente e recolhidos quando as abelhas fechavam a
entrada do ninho. Quanto à polinização do café, na fase de botões florais, foram selecionados
galhos na borda e no interior do cafezal, submetidos a dois tratamentos: polinização natural e
autogamia. Durante a floração foram contabilizados o número de abelhas visitando as flores
em sessões de dez minutos em cada galho, tanto na borda quanto no interior do cafezal. Os
frutos maduros foram coletados, contabilizados, secados, pesados, medidos e, posteriormente,
foram calculados os valores de densidade. As abelhas construíram 132 ninhos: 59,1% destes
ninhos foram construídos na vegetação nativa, 40,2% na área de transição e apenas 0,7% dos
ninhos foram contruídos no interior do cafezal pelas abelhas. Dos 132 ninhos construídos,
cerca de 54% continham grãos de pólen de café. Na borda do cafezal, foram observadas mais
visitas de abelhas que no seu interior. O tratamento de polinização natural gerou mais frutos
que o tratamento de autogamia tanto na borda quanto no interior do cafezal. No entanto, no
interior do cafezal, os frutos foram mais pesados, maiores e menos densos que os frutos da
borda. No interior do cafezal, os frutos oriundos da polinização natural foram menores,
entretanto mais densos que os frutos de autogamia. Na transição, os frutos gerados a partir da
polinização natural possuíram maior massa, menor comprimento e maior densidade que os
frutos de autogamia. Concluímos que os Campos Rupestres agem como reservatórios de
abelhas que polinizam o cafezal quando florido, gerando maior quantidade de frutos e com
melhor qualidade.
Palavras-chave: Abelhas solitárias. Polinização cruzada. Café. Cultivos agrícolas.
5
ABSTRACT
The pollination ecosystem service is one of the most important contributions of biodiversity
to food production, with an estimated value of 43 billion annually in Brazil alone. Among
those responsible for this service, bees stand out as the main pollinators of agricultural crops,
contributing to food production. This work was carried out in a vegetative gradient formed by
coffee cultivation areas immersed in native vegetation matrix characterized as Campo
Rupestre. Points were marked inside the coffee plantation, within the native vegetation and in
the transitional area between them, with ten repetitions at least 1 km apart. The objective of
the first chapter was to compare the sampling methods and to analyze the richness,
abundance, recurrence and composition of bees in the dry and rainy season, which precede
and succeed the coffee flowering, respectively. Three methodologies were used - pantraps,
odor baits and active collection at all points. The collection methods acted in a
complementary way. The richness and abundance of bees did not differ between seasons, but
differed in the sampled place. However, bee composition differed between seasons and
among sampled sites, with only two species recurring. The second chapter aimed to evaluate
the nesting pattern of solitary bees in this same region and the participation of bees in the
pollination of coffee flowers. In September, collection stations were set up at 30 sampling
points (ten inside the coffee plantation, ten at the edge and ten in the native vegetation),
containing ten bamboo nests and ten black cardboard paper nests each, and these nests are
monitored weekly and collected. when the bees closed the entrance of the nest. As for the
pollination of coffee, in the flower bud phase, branches were selected at the edge and inside
the coffee plantation, submitted to two treatments: natural pollination and autogamy. During
flowering, the number of bees visiting the flowers in ten-minute sessions on each branch, both
at the edge and inside the coffee plantation, was counted. The ripe fruits were collected,
counted, dried, weighed, measured and then the density values were calculated. Bees built 132
nests: 59.1% of these nests were built in native vegetation, 40.2% in the transition area and
only 0.7% of nests were built inside the coffee plantation by bees. Of the 132 nests built,
about 54% contained coffee pollen beans. At the edge of the coffee plantation, more bee visits
were observed than inside. The natural pollination treatment produced more fruits than the
autogamy treatment both at the edge and inside the coffee plantation. However, inside the
coffee plantation, the fruits were heavier, larger and less dense than the fruits of the border.
Within the coffee plantation, fruits from natural pollination were smaller, but denser than
autogamy fruits. In the transition, fruits generated from natural pollination had greater mass,
shorter length and higher density than autogamy fruits. We conclude that the Rupestres Fields
6
act as reservoirs of bees that pollinate the coffee plantation when flowering, generating more
fruit and better quality.
Keywords: Solitary Bees. Cross pollination. Coffee. Agricultural crops.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO GERAL ........................................................................................................ 9
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 11
CAPÍTULO 1: DISTRIBUIÇÃO DE ABELHAS EM UMA PAISAGEM AGRÍCOLA
DE CULTIVO DE CAFÉ EM AMBIENTE DE ALTA DIVERSIDADE BIOLÓGICA 13
RESUMO ................................................................................................................................ 13
ABSTRACT ........................................................................................................................... 14
1.INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 15
2.MATERIAIS E MÉTODOS .............................................................................................. 17
2.1. Área de coleta ................................................................................................................... 17
2.2. Coleta de dados ................................................................................................................ 18
2.3. Análise estatística ............................................................................................................ 20
3.RESULTADOS ................................................................................................................... 21
4.DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 29
5.CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 32
6.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 33
APÊNDICE A – Espécies de abelhas excluisvas ................................................................. 39
APÊNDICE B – Valores de A e B (ICA) ............................................................................. 40
CAPÍTULO 2: NIDIFICAÇÃO DE ABELHAS SOLITÁRIAS E IMPORTÂNCIA DA
POLINIZAÇÃO PARA PRODUÇÃO DE CAFÉ EM AMBIENTE DE CAMPO
RUPESTRE ............................................................................................................................ 41
RESUMO ................................................................................................................................ 41
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 43
2. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................. 45
2.1. Local de coleta ................................................................................................................. 45
2.2. Nidificação das abelhas solitárias ................................................................................... 46
2.3. Floração e Frutificação ................................................................................................... 48
2.4. Análise estatística ............................................................................................................ 50
3. RESULTADOS .................................................................................................................. 51
3.1. Nidificação das abelhas solitárias ................................................................................... 51
3.2. Floração e frutificação .................................................................................................... 53
4. DISCUSSÃO ...................................................................................................................... 55
8
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 57
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 58
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 64
9
INTRODUÇÃO GERAL
A nível global, cresce o consenso de que a biodiversidade aumenta as funções dos
ecossistemas em geral (Balvanera et al. 2006), principalmente os serviços de polinização
(Klein et al. 2003a; Hoehn et al. 2008). Com a recorrente perda de habitats naturais para a
implantação de monoculturas, as espécies polinizadoras têm sido colocadas em grande risco
(Kremen et al. 2007). Neste escopo, são relevantes os trabalhos que levam em consideração a
heterogeneidade espacial nos cultivos agrícolas, pois as espécies polinizadoras possuem
diferentes capacidades de voo (Saturni et al. 2016). Isso sugere que quanto mais longe de um
fragmento de vegetação nativa, menor será a diversidade e a frequência de polinizadores nas
culturas (Carvalheiro et al. 2010). Assim, áreas naturais no entorno de cultivos agrícolas,
fornecem recursos complementares para os polinizadores, e a visitação de cultivos próximos é
mais frequente (Hoehn et al. 2008). Em geral, uma maior diversidade de abelhas resulta em
uma maior produtividade em vários cultivos agrícolas (Greenleaf and Kremen 2006; Garibaldi
et al. 2013a). Dessa forma, as abelhas são reconhecidas pelo seu potencial em prover serviços
de polinização, inclusive, mais de 75% das culturas alimentares mundiais dependem, de certa
forma, destes insetos para polinização (Klein et al. 2007).
Cultivos agrícolas permeados por fragmentos de vegetação nativa possibilitam maior
diversidade de polinizadores e um serviço de polinização mais eficiente (Holzschuh et al.
2008). Dentre estes cultivos, o café se destaca, pois mesmo sendo autocompatível, há
indicativos de um aumento na produtividade de até 30% quando há polinização por abelhas
(Hipólito et al. 2018). Além disso, a produção de café no Brasil corresponde a cerca de um
terço da produção mundial, sendo o país considerado o maior produtor do mundo (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística and Coordenação de Geografia 2016). O estado de Minas
Gerais é o maior produtor de café do país de alta qualidade, tendo essa produtividade
concentrada nas regiões Sul/Sudoeste de Minas e Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (Pelegrini
and Simões 2011). Para o café, a literatura aponta estudos comparando os efeitos da
diversidade de polinizadores de fragmentos nativos com áreas de cultivos de café, nos quais
houve um incremento na produtividade onde havia maior abundância e/ou riqueza de abelhas
(Roubik 2002; Klein et al. 2003a; Ricketts 2004).
O Cerrado é considerado o segundo maior bioma brasileiro quanto à extensão
territorial, ocupando cerca de 21% do território nacional (Borlaug, 2002), estando distribuído
principalmente nos estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
Tocantins, Bahia, Piauí, Maranhão, São Paulo e o Distrito Federal (IBGE, 2010). Este bioma
10
é um conjunto de ecossistemas, conhecidos como savanas, matas, campos, e matas de galeria
(Ribeiro et al., 1981). A partir disto, temos os Campos Rupestres, megadiversos, incluindo
desde campos limpos e sujos até afloramentos rochosos (Conceição e Pirani, 2005), formados
predominantemente por plantas herbáceas e arbustivas (Conceição and Pirani 2007; Rapini et
al. 2008), o que dá um carácter de mosaico a estes tipos de vegetação (Alves et al. 2007;
Rapini et al. 2008). Essas áreas apresentam variedades fisionômicas em um gradiente
vegetacional que vai desde áreas abertas com predominância de gramíneas a regiões com
adensamentos de pequenas árvores e arbustos (Vasconcelos 2011). Nos Campos Rupestres,
por conterem ao longo de sua extensão, muitos acidentes geográficos e solo geralmente
impróprio para a agricultura (Rapini et al. 2008), é comum encontrar maior extensão de
vegetação nativa com uma área minoritária voltada para cultivos. Estima-se que existam cerca
de 1200 espécies vegetais endêmicas em vegetações características de Campos Rupestres
(Alves and Kolbek 2010), o que rende à sua flora a condição de insubstituível (Rapini et al.
2008). Na região de Campo Rupestre presente ao longo da Cadeia do Espinhaço, estima-se a
riqueza de abelhas ao redor de 500 espécies (Azevedo et al. 2008).
Esta dissertação foi realizada em uma plantação de café que possui no seu entorno,
região com vegetação nativa característica de Campo Rupestre. No geral, o objetivo deste
trabalho foi analisar como as abelhas, potenciais polinizadores do café, se comportam neste
gradiente e quais as consequências disso para a produção de café. O primeiro capítulo
intitulado: “Distribuição de abelhas em uma paisagem agrícola de cultivo de café em
ambiente de alta diversidade biológica”, teve como objetivo geral, avaliar a riqueza e
abundância de abelhas neste gradiente de vegetação nos períodos que antecedem e sucedem a
floração deste cultivo. Já o segundo capítulo, intitulado “Nidificação de abelhas solitárias e
importância da polinização para produção de café em ambiente de Campo Rupestre”, teve
como objetivo avaliar o padrão de nidificação de abelhas solitárias neste mesmo gradiente
vegetacional antes, durante e após a floração do café. Além disso, neste capítulo buscamos
entender a participação destas abelhas na polinização do café, na sua produtividade e na sua
qualidade.
11
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, R. J. V.; CARDIN, L.; KROPF, M. S. Angiosperm disjunction “Campos rupestres -
restingas”: a re-evaluation. Acta Botanica Brasilica, v. 21, n. 3, p. 675–685, set. 2007.
ALVES, R. J. V.; KOLBEK, J. Can campo rupestre vegetation be floristically delimited based
on vascular plant genera? Plant Ecology, v. 207, n. 1, p. 67–79, mar. 2010.
AZEVEDO, A. A. et al. Fauna de abelhas (Hymenoptera, Apoidea) nos campos rupestres da
Cadeia do Espinhaço (Minas Gerais e Bahia, Brasil): riqueza de espécies, padrões de
distribuição e ameaças para conservação. v. 4, p. 32, 2008.
BALVANERA, P. et al. Quantifying the evidence for biodiversity effects on ecosystem
functioning and services: Biodiversity and ecosystem functioning/services. Ecology Letters,
v. 9, n. 10, p. 1146–1156, out. 2006.
BORLAUG, N.E. 2002. Feeding a world of 10 billion people: the miracle ahead. In: R. Bailey
(ed.). Global warming and other eco-myths. pp. 29-60. Competitive Enterprise Institute,
Roseville, EUA.
CARVALHEIRO, L. G. et al. Pollination services decline with distance from natural habitat
even in biodiversity-rich areas: Sub-tropics crop pollination limitation. Journal of Applied
Ecology, v. 47, n. 4, p. 810–820, 8 jun. 2010. CONCEIÇÃO, A.A. & J.R. PIRANI. 2005.
Delimitação de hábitats em campos rupestres na Chapada Diamantina, Bahia: Substrato,
composição florística e aspectos estruturais. Boletim de Botânica da Universidade de São
Paulo 23: 85-111.
CONCEIÇÃO, A. A.; PIRANI, J. R. Diversidade em quatro áreas de campos rupestres na
Chapada Diamantina, Bahia, Brasil: espécies distintas, mas riquezas similares. Rodriguésia,
v. 58, n. 1, p. 193–206, jan. 2007.
GARIBALDI, L. A. et al. Wild Pollinators Enhance Fruit Set of Crops Regardless of Honey
Bee Abundance. Science, v. 339, n. 6127, p. 1608–1611, 29 mar. 2013.
GREENLEAF, S. S.; KREMEN, C. Wild bees enhance honey bees’ pollination of hybrid
sunflower. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 103, n. 37, p. 13890–
13895, 12 set. 2006.
HIPÓLITO, J.; BOSCOLO, D.; VIANA, B. F. Landscape and crop management strategies to
conserve pollination services and increase yields in tropical coffee farms. Agriculture,
Ecosystems & Environment, v. 256, p. 218–225, mar. 2018.
HOEHN, P. et al. Functional Group Diversity of Bee Pollinators Increases Crop Yield.
Proceedings: Biological Sciences, v. 275, n. 1648, p. 2283–2291, 2008.
12
HOLZSCHUH, A.; STEFFAN-DEWENTER, I.; TSCHARNTKE, T. Agricultural landscapes
with organic crops support higher pollinator diversity. Oikos, v. 117, n. 3, p. 354–361, mar.
2008.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA; COORDENAÇÃO DE
GEOGRAFIA. A geografia do café: dinâmica territorial da produção agropecuária. [s.l:
s.n.].
KLEIN, A.; STEFFAN–DEWENTER, I.; TSCHARNTKE, T. Fruit set of highland coffee
increases with the diversity of pollinating bees. Proceedings of the Royal Society of
London. Series B: Biological Sciences, v. 270, n. 1518, p. 955–961, 7 maio 2003.
KLEIN, A.-M. et al. Importance of pollinators in changing landscapes for world crops.
Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences, v. 274, n. 1608, p. 303–313, 7 fev.
2007.
KREMEN, C. et al. Pollination and other ecosystem services produced by mobile organisms:
a conceptual framework for the effects of land-use change. Ecology Letters, v. 10, n. 4, p.
299–314, abr. 2007.
PELEGRINI, D. F.; SIMÕES, J. C. DESEMPENHO E PROBLEMAS DA
CAFEICULTURA NO ESTADO DE MINAS GERAIS: 1934 a 2009. v. 6, n. 12, p. 17, 2011.
RAPINI, A. et al. A flora dos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço. v. 4, p. 9, 2008.
RIBEIRO, J.F., S.M. Sano e J.A. da Silva. 1981. Chave preliminar de identificação dos tipos
fisionômicos da vegetação do Cerrado. pp. 124-133 In: Anais do XXXII Congresso Nacional
de Botânica. Sociedade Botânica do Brasil, Teresina, Brasil.
RICKETTS, T. H. Tropical Forest Fragments Enhance Pollinator Activity in Nearby Coffee
Crops. Conservation Biology, v. 18, n. 5, p. 1262–1271, out. 2004.
ROUBIK, D. W. The value of bees to the coffee harvest. Nature, v. 417, n. 6890, p. 708–708,
jun. 2002.
SATURNI, F. T.; JAFFÉ, R.; METZGER, J. P. Landscape structure influences bee
community and coffee pollination at different spatial scales. Agriculture, Ecosystems &
Environment, v. 235, p. 1–12, nov. 2016.
VASCONCELOS, M. F. DE. O que são campos rupestres e campos de altitude nos topos de
montanha do leste do Brasil? Brazilian Journal of Botany, v. 34, n. 2, p. 241–246, jun.
2011.
13
CAPÍTULO 1: DISTRIBUIÇÃO DE ABELHAS EM UMA PAISAGEM
AGRÍCOLA DE CULTIVO DE CAFÉ EM AMBIENTE DE ALTA
DIVERSIDADE BIOLÓGICA
RESUMO
Ambientes naturais vem sendo reconhecidos como reservatórios de biodiversidade e,
portanto, fornecedores de serviços ecossistêmicos fundamentais aos seres humanos. As
abelhas são reconhecidas como os principais polinizadores de cultivos agrícolas, dessa forma,
contribuem com a produção de alimentos consumidos em todo o mundo. Neste trabalho,
avaliamos a distribuição de abelhas, antes e depois da florada do café (estações seca e
chuvosa, respectivamente), ao longo de um gradiente, desde o interior do cafezal até o entorno
com vegetação altamente biodiversa de Campo Rupestre, comparando três métodos de
amostragem (pantraps, iscas de odor e coleta ativa), para estimativa da riqueza, abundância,
recorrência e composição das comunidades de abelhas. Foram estabelecidos 10 pontos
amostrais distantes entre si pelo menos 1km, onde foram definidos três locais de coleta em
paisagens ao longo de um gradiente de cultivo-área natural (Cafezal, Transição Cafezal-
Nativa, Nativa) ao longo de uma linha, distando 50 metros entre eles. Foram coletadas 638
abelhas, 312 na estação seca e 326 na chuvosa, totalizando 85 espécies. Em conjunto, as
metodologias de coleta amostraram espécies diferentes, atuando de forma complementar,
apenas duas espécies foram recorrentes em todas as estações e tipos de vegetação (Apis
mellifera scutellata Lepeletier, 1836 e Euglossa (Euglossa) townsendi Cockerell, 1904). Não
houve diferença temporal na riqueza ou abundância, as quais, no entanto, variaram quanto ao
tipo de vegetação, sendo maior na área de transição. A composição das comunidades diferiu
na estação e nos tipos de vegetação. Este conjunto de resultados reforçam a importância da
manutenção da vegetação nativa no entorno de cultivos de café, as quais atuam como
reservatórios de polinizadores, mantendo assim os potenciais serviços ecossistêmicos de
polinização nas floradas do cafezal.
Palavras-chave: Pantrap. Isca de odor. Coleta ativa. Abelhas. Café. Reservatório de
biodiversidade.
Formatação de acordo com o periódico: Neotropical Entomology
14
ABSTRACT
Natural environments have been recognized as reservoirs of biodiversity and thus providers of
fundamental ecosystem services to humans. Bees are recognized as the main pollinators of
agricultural crops, thus contributing to the production of food consumed worldwide. In this
work, we evaluated the distribution of bees, before and after coffee flowering (dry and rainy
seasons, respectively), along a gradient, from the interior of the coffee plantation to the
surroundings with highly biodiverse vegetation of Campo Rupestre, comparing three
methods. (pantraps, odor baits and active collection) to estimate the richness, abundance,
recurrence and composition of bee communities. Ten sampling points at least 1km apart were
established, where three landscape collection sites were defined along a crop-natural area
gradient (Cafezal, Cafezal-Native Transition, Native) along a line 50 meters apart. between
them. 638 bees were collected, 312 in the dry season and 326 in the rainy season, totaling 85
species. Taken together, the collection methodologies sampled different species, acting
complementarily, only two species were recurrent in all seasons and vegetation types (Apis
mellifera scutellata Lepeletier, 1836 and Euglossa (Euglossa) townsendi Cockerell, 1904).
There was no temporal difference in richness or abundance, which, however, varied as to
vegetation type, being larger in the transition area. The composition of the communities
differed in season and vegetation types. This set of results reinforce the importance of
maintaining native vegetation around coffee crops, which act as pollinator reservoirs, thus
maintaining potential ecosystem pollination services in coffee plantations.
Keywords: Pantrap. Odor bait. Active collection. Bees. Coffee. Biodiversity reservoir.
15
1.INTRODUÇÃO
O serviço ecossistêmico de polinização é uma das mais importantes contribuições da
biodiversidade para a produção de alimento humano e animal, bem como de outros produtos
beneficiáveis no planeta (Costanza et al. 1997; Gallai et al. 2009; Potts et al. 2016). O
relatório temático de polinização, polinizadores e produção de alimentos no Brasil indicou as
abelhas como os principais visitantes florais a oferecer o serviço ecossistêmico de polinização
para cultivos agrícolas no país. E em 2018, o valor econômico desse serviço para a produção
de alimentos no Brasil foi estimado em R$ 43 bilhões, onde, deste total, 80% equivaleu à
quatro cultivos de grande importância no país, com o café em segundo lugar, representando
12% de contribuição financeira (Wolowski et al. 2019).
O café (Coffea spp.) é a planta mais representativa da família Rubiaceae,
apresentando diferentes espécies a exemplo da Coffea arabica L. e Coffea Pierre, as quais
correspondem às espécies mais conhecidas do gênero (Coste 1975). A produção do café é
altamente relevante social e economicamente, sendo que o cultivo no Brasil representa 36%
da produção mundial, tornando o país o primeiro colocado em produção e exportação dos
grãos deste fruto (Brasil, 2009). Embora se saiba que o café (Coffea arabica) é capaz de
formar frutos sem a presença de polinizadores, é igualmente sabido que, tanto a qualidade
quanto a quantidade de frutos, podem ser aumentadas na presença das abelhas polinizadoras
(Roubik 2002; Ricketts et al. 2008; Malerbo-Souza e Halak 2012). Dentre os polinizadores, as
abelhas já são conhecidas mundialmente pelo seu papel destacado no serviço de polinização,
e, vários autores já comprovaram a sua eficiência no aumento da produção do café (Roubik
2002; Klein et al. 2003a; Klein et al. 2003b; Ricketts et al. 2008). Esses insetos representam
um grupo bastante diverso com cerca de 1700 espécies descritas para o Brasil, sendo nossa
fauna composta por espécies solitárias ou com diferentes níveis de socialidade (Moure et al.
2007). No entanto, sobre os Campos Rupestres, que abrangem cerca de 15% da flora
brasileira (Colli e Silva et al. 2019), sabe-se muito pouco sobre a relação entre áreas nativas e
cultivadas quanto à dinâmica dos polinizadores.
Considerando o serviço ecossistêmico de polinização, é importante atentar para o
fato de que, grande parte dos cultivos agrícolas são efêmeros, especialmente o café, os quais,
sendo perenes e apresentando florações em perídos curtos, configuram ofertas episódicas de
recursos superabundantes aos visitantes florais (McGregor, 1976). Essa dinâmica dos sistemas
produtivos impõe aos polinizadores, especialmente aqueles que possuem ciclos de vida mais
16
longos do que a duração das floradas dos cultivos (a grande maioria das espécies de
polinizadores), uma demanda por forrageamento em outras fontes de recursos alimentares
(Agostini et al. 2014, Blüthgen e Klein 2011). Além disso, os cultivos também parecem
homogeneizar ou suprimir os nichos de nidificação, o que levaria as abelhas a buscarem locais
de nidificação fora das áreas de plantio (Steffan-Dewenter et al. 2002). Neste sentido, dois
caminhos poderiam contribuir para o aumento da disponibilidade de polinizadores durante a
floração do cafezal, a saber: (i) o incremento da área do cultivo com espécies capazes de
ofertar recursos alimentares aos polinizadores do café para além da sua florada, atraindo
polinizadores para o interior dos cultivos; (ii) o aumento da permeabilidade da matriz de
cultivo de café com mescla de corredores e fragmentos nativos a fim de aproximar o interior
da área de cultivo de locais nos quais as abelhas possam nidificar. Além disso, o foco em
abelhas nativas é altamente relevante, uma vez que a eficiência dessas abelhas como
polinizadoras foi demonstrada, o que indica o seu potencial para aumentar a quantidade e
qualidade dos grãos de café (Klein et al. 2003a, c; Garibaldi et al. 2013b).
Quando se associam as variáveis de alta diversidade biológica e atividades agrícolas,
o Campo Rupestre emerge como um local ideal para a realização de estudos, pois nele,
diferente da ampla maioria dos sistemas produtivos, as propriedades agrícolas ainda formam
áreas menores imersas em uma matriz de vegetação natural. As comunidades vegetais do
Campo Rupestre são formadas predominantemente por plantas herbáceas e arbustivas, e está
inserido nos ecossistemas do Cerrado e da Caatinga (Conceição e Pirani 2007; Rapini et al.
2008), onde há estimativa de ocorrência de cerca de 5.000 espécies botânicas nativas, com
altos índices de endemismos (Colli-Silva, Vasconcelos, e Pirani 2019), proporcionando assim
um ambiente propício à diversas espécies de abelhas e várias outras espécies de polinizadores.
Apesar do crescente entendimento quanto à biota do Campo Rupestre, essa fitofisionomia
ainda vem sendo tratada de forma negligenciada. Colli-Silva e colaboradores (2019)
reconhecem duas biorregiões na faixa da Cadeia do Espinhaço como domínios de
biodiversidade, sendo um na chapada Diamantina, na Bahia, onde inclusive já foi realizado
um estudo com polinização de café (Hipólito et al. 2018), e outro no sudeste do Brasil, sendo
representado pela faixa estreita da Serra do Espinhaço em Minas Gerais, um domínio no qual
o município de Diamantina está inserido.
Apesar da taxa elevada de biodiversidade do Campo Rupestre, diversas pressões
ameaçam esse ecossistema, entre elas, a expansão agrícola (Drummond et al. 2005), que deve
ser pensada considerando a fauna e flora nativas desta região. Quando mantidas altas taxas de
17
riqueza e abundância de abelhas em cultivos, se garante que as visitas às flores sejam feitas
com maior frequência, proporcionando mais eficiência na polinização dessas flores (Kevan e
Baker 1983; Klein et al. 2003a; Hoehn et al. 2008; Albrecht et al. 2012).
Entretanto, para assegurar essa diversidade em culturas agrícolas, é necessário que
haja recursos disponíveis ao longo do ano, inclusive quando as culturas não estejam floridas
(Blüthgen e Klein 2011; Mandelik et al. 2012). Geralmente, o aumento da heterogeneidade da
paisagem, promove o aumento da riqueza de polinizadores locais (Blüthgen e Klein 2011;
Kremen e Miles 2012; Kennedy et al. 2013; Shackelford et al. 2013), e é neste contexto que
os estudos para conhecimento e avaliação do comportamento dos polinizadores potenciais de
cultivos de café se tornam necessários (Hegland e Boeke 2006; Ebeling et al. 2008; Ricketts
et al. 2008; Garibaldi et al. 2011b). Ao avaliar a diversidade de abelhas em um gradiente,
desde a vegetação nativa até o interior de cultivos de café no Campo Rupestre, esperamos
encontrar altas taxas de riqueza e abundância de polinizadores potenciais, e que os fragmentos
naturais ajam como reservatórios de polinizadores, cujas riquezas e abundâncias sejam
aumentadas logo após a florada do café (Westphal et al. 2003). Esperamos ainda comparar
métodos de amostragem a fim de verificar a possibilidade de utilizar apenas um deles para
inventários rápidos de polinizadores de café.
2.MATERIAIS E MÉTODOS
2.1. Área de coleta
O presente estudo foi desenvolvido em um cultivo de café da espécie Coffea arabica
Catuaí Vermelho, situado próximo ao distrito de Conselheiro Mata, município de Diamantina,
Minas Gerais (Figura 1), onde a monocultura de café faz fronteira ou é permeada por áreas de
vegetação nativa de Campo Rupestre. A região apresenta inverno seco (de junho a agosto), e
verão chuvoso (de novembro a março), com períodos de transição entre abril e outubro (Cwb
– Köppen 1931).
18
Figura 1: Imagem de satélite da região de Conselheiro Mata (Diamantina, Minas Gerais, Brasil) com
plantio de café, com um aumento em uma borda de cafezal na área de estudo. Fonte: Google Earth Pro.
2.2. Coleta de dados
Para o inventário das abelhas, foram estabelecidos 10 pontos amostrais, estes
distando entre si cerca de um quilômetro. Em cada um dos pontos, foi realizada amostragem
das abelhas em uma área de vegetação nativa (daqui em diante denominada Nativa), uma de
transição cafezal-nativa (daqui em diante denominada Transição) e uma no interior do cafezal
(daqui em diante denominada Cafezal), com distância média em torno de 50 metros entre
essas áreas.
O levantamento da diversidade das abelhas foi realizado durante uma semana de
agosto (dias 13 a 17) e uma de novembro (dias 26 a 30) de 2018, correspondendo,
respectivamente, os períodos que antecedem (estação seca) e sucedem (estação chuvosa) a
floração do café, que ocorreu no mês de setembro. Em cada dia de coleta foram amostrados
dois pontos, e para tal, foram utilizadas concomitantemente três metodologias:
Iscas de odor: Em cada um dos 10 pontos de cada tipo de vegetação (interior do cafezal,
transição e vegetação nativa) foi colocada uma isca de odor (Figura 2), confeccionada com
garrafas PET (Krug e Alves-dos-Santos 2008) e iscada com essência de Eucaliptol
19
(Albuquerque et al., 2001). Utilizamos a essência de eucaliptol por ser a que possui
atratividade mais generalista dentre as usualmente utilizadas (Nascimento et al. 2016).
Figura 2: Isca de odor, com essência à base de eucaliptol.
Pantraps: da mesma forma que com as iscas de odor, foram utilizados três pratos plásticos
descartáveis nas cores amarelo, branco e vermelho, contendo água e três gotas de detergente
(Figura 3), dispostos ao nível do solo e distantes um metro entre si, aproximadamente.
Figura 3: Pantraps utilizados, e suas respectivas cores.
Coleta ativa: neste método de coleta, três coletores capturavam abelhas ativamente com rede
entomológica, concomitantemente, em cada um dos três tipos vegetacionais. A cada vinte
minutos ocorria revezamento dos coletores nas áreas, de forma que cada coletor fazia a coleta
em uma área diferente, totalizando 60 minutos de coleta ativa em cada ponto, como forma de
eliminar o efeito da habilidade do coletor sobre a quantidade de abelhas coletadas em cada
20
uma das áreas. A distância percorrida para esta coleta consistia em caminhar vinte metros
perpendiculares ao lugar marcado, no qual estavam também as iscas de odor e os pantraps.
Todas as abelhas coletadas (nas estações seca e chuvosa) foram mortas em câmeras
mortíferas com acetado de etila, acondicionadas em tubos de Eppendorf e levadas ao
laboratório Multiusuário da Pós Graduação em Biologia Animal da Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde, na sequência, foram alfinetadas e mantidas
em estufa à 50°C para secagem, durante 3 a 5 dias, conforme o tamanho das mesmas. Após
esse processo, os espécimes foram armazenados em caixas e enviados ao Laboratório de
Bionomia, Biogeografia e Sistemática de Insetos (BIOSIS) do Instituto de Biologia da
Universidade Federal da Bahia (IBIO-UFBA), em Salvador, Bahia, onde foram identificadas
por especialista e depositados no acervo Entomológico do Museu de História Natural da
UFBA (MHNBA).
Comparamos a riqueza (número de espécies) e abundância (número de abelhas)
capturados pelos três tipos de armadilha utilizados (isca de odor, pantraps e coleta ativa
através de rede entomológica), e de acordo com o tipo de vegetação em qual foram
amostrados (Cafezal, Transição e Nativa). Em seguida, comparamos essas mesmas variáveis
(riqueza e abundância) quanto ao tipo de vegetação e estação climática de coleta em que
foram coletadas (seca e chuvosa). Avaliamos, além da riqueza e abundância, a composição de
espécies de abelhas coletadas em cada tipo de vegetação, verificando em qual estação
climática foram amostradas (período seco e chuvoso). Para as espécies que ocorreram nas
duas estações de coleta e ao longo de todo o gradiente vegetacional, foi avaliada ainda a
recorrência de suas abundâncias entre as amostras. Por fim, detectamos espécies cuja presença
estava associada a algum dos tipos de vegetação ou à estação de coleta, onde os componentes
para essa detecção foram definidos pelos parâmetros: “A”, a especificidade, que é a
probabilidade de uma espécie estar associada a alguma vegetação ou mês amostrado; e “B”, a
fidelidade, que é a probabilidade de encontrar uma espécie em outras associações.
2.3. Análise estatística
As análises de riqueza e abundância de espécies em função do tipo de armadilha, e, a
riqueza e abundância de espécies testadas em função da estação, nos três tipos vegetacionais,
foram realizadas utilizando modelos lineares mistos nos quais a repetição temporal dos pontos
foi considerada como variável aleatória. As variáveis dependentes foram transformadas em
21
log10 para ampliar a normalidade e homogeneidade de variância residual dos modelos,
observadas através do gráfico de resíduos de cada modelo. O teste de significância de cada
modelo foi realizado através de análise de variância, utilizando a função Anova do pacote car,
em ambiente R (Fox e Weisberg 2011). Quando significativas as diferenças entre os níveis de
cada variável independente foram testadas através de teste de Tukey (Zar 2010).
A diferença na composição de espécies foi testada através de uma análise
permutacional de variância (PERMANOVA), realizada com base em 10000 permutações
através do pacote vegan em ambiente R (Oksanen et al. 2018). De acordo com as
significâncias observadas, foram realizadas comparações múltiplas para cada variável
independente através do pacote RVAdememoire (Hervé 2018). Após uma uniformização dos
dados pelo método de Hellinger, as dissimilaridades entre as três áreas foram calculadas
quantitativamente através do índice de Bray-Curtis, e representadas em duas dimensões
através de uma ordenação NMDS (Non-Metric Multidimensional Scaling) utilizando o pacote
vegan. Para analisar a recorrência, foi realizado um teste Qui-quadrado, a partir da frequência
absoluta, utilizando o programa Past. Por fim, fizemos a análise de componentes principais
(ACP), e o valor p reflete a significância da espécie como uma indicadora de um tipo de
vegetação ou um momento de coleta. Para a ACP utilizamos o pacote indicspecies (Cáceres e
Legendre 2009).
3.RESULTADOS
Com relação a abundância geral, considerando todos os pontos amostrais e as
estações climáticas, foi coletado um total de 638 espécimes de abelhas. Na estação seca,
foram coletados 312 espécimes: 42 no interior do cafezal, 147 na área de transição e 123 na
vegetação nativa. Na estação chuvosa foram coletados 326 espécimes: 48 no interior do
cafezal, 166 na área de transição e 112 na vegetação nativa. Com relação à riqueza, a coleta
total de abelhas resultou em 85 espécies (Tabela 2), distribuídas em 38 gêneros. Quatro
espécies de abelha estiveram presentes em todos os tipos vegetacionais e nas duas estações de
coleta (Tabela 2).
Quanto à distribuição em famílias de abelhas, durante a estação seca (antes à floração
do café) foram amostradas as famílias: Apidae representada por 38 espécies, Halictidae por
14, Megachilidae por 4 e Colletidae por apenas uma espécie. Durante a estação chuvosa (após
22
à floração do café), a amostragem comportou-se da seguinte forma: Apidae foi representada
por 36 espécies, Halictidae por 12, Andrenidae por 1 e Megachilidae 2. Os dados revelam
ainda que representantes da família Colletidae foram amostrados apenas na estação seca,
enquanto aqueles da família Andrenidae foram amostrados apenas na estação chuvosa, com
uma pequena diminuição em número de espécimes amostrados para as famílias Apidae,
Halictidae e Megachilidae durante a estação chuvosa em relação à seca.
A composição da fauna de abelhas amostrada também diferiu entre as estações seca e
chuvosa (teste Qui quadrado, χ²=15,109, gl=4, p=0,004). Na estação seca foram coletadas
abelhas pertencentes à 32 gêneros, com o gênero Euglossa Latreille, 1802 sendo o mais rico
(6 espécies), seguido por Augochloropsis Cockerell, 1897 (5 espécies). Já na estação chuvosa,
foram coletadas abelhas pertencentes à 28 gêneros, com Euglossa Latreille, 1802 e Epicharis
Klug, 1807 sendo os gêneros mais ricos (5 espécies cada). Quanto à abundância, na estação
seca, Trigona Jurine, 1807 foi o gênero mais abundante (60 espécimes), seguido por Euglossa
Latreille, 1802 (59 espécimes). Já na estação chuvosa, Euglossa Latreille, 1802 foi o gênero
mais abundante (70 espécimes), seguido de Eulaema Lepeletier, 1841 (64 espécimes).
Quanto ao método de amostragem, a interação entre o tipo de armadilha e a
vegetação revelou diferenças quanto à riqueza de espécies (F4,162=3,3483, p=0,001) e a
abundância (F4,162=3,0579, p=0,01) (Figura 4A e B, Tabela 1). A maior diferença entre os
tipos vegetacionais, tanto para riqueza quanto para abundância foram verificados utilizando a
metodologia de coleta ativa com rede entomológica. Entretanto, quando o método de
amostragem não foi considerado, ou seja, considerando somente os tipos vegetacionais, a
riqueza total não foi diferente entre as estações (F1,45=0,496, p=0,48), apresentando diferença,
porém, entre os tipos de vegetação (F2,45=11,3552, p<0,001). A área de transição apresentou
62 espécies, 21% a mais que na vegetação nativa, que apresentou 51 espécies, 226% a mais
que no interior do cafezal, que apresentou 19 espécies. Já a vegetação nativa apresentou 168%
mais espécies de abelhas que no interior do cafezal (Figura 4C). Quanto à abundância total,
desconsiderado o método de amostragem, igualmente também não houve diferença entre as
estações (F1,45=1,097, p=0,3), apresentando, entretanto, diferença quando comparados os tipos
de vegetação (F2,45=10,6339, p<0,001). Neste caso, na área de transição foram coletadas 313
abelhas, 33% a mais que na vegetação nativa, onde foram coletadas 235, e 247% a mais que o
interior do cafezal, onde foram coletados 90 espécimes de abelhas. Já na vegetação nativa,
foram coletadas 161% a mais de abelhas que o interior do cafezal (Figura 4D).
23
Figura 4: Riqueza (A) e abundância (B) de abelhas distribuídas conforme o método de amostragem (isca de
odor, pantraps e rede entomológica), e conforme o tipo de vegetação (interior do cafezal, transição e vegetação
nativa). E, riqueza (C) e abundância (D) de abelhas coletadas durante a estação seca (agosto) e chuvosa
(novembro) no interior do cafezal, na área de transição e na vegetação nativa em um cafezal na região de
Diamantina, Minas Gerais. Obtivemos diferença na riqueza e abundância entre as formas de coleta e os tipos
vegetacionais, e ainda, na riqueza e abundância quanto aos tipos vegetacionais.
A B
C D
24
Tabela 1: Riqueza e abundância de abelhas amostradas no interior do cafezal (C), na área de
transição (T) e na vegetação nativa (N), distribuídas conforme os tipos de armadilhas em que
foram coletados.
Tipo de armadilha Riqueza Abundância
C T N C T N
Isca de odor 08 07 07 63 71 83
Pantrap 04 16 12 04 43 21
Rede entomológica 10 46 39 23 199 131
Tabela 2: Espécies de abelhas coletadas na estação seca e chuvosa no interior do cafezal, na
área de transição e na vegetação nativa em Diamantina, Minas Gerais, Brasil. Em negrito,
espécies que ocorreram em todos os tipos vegetacionais e ambas as estações. Espécies
indicadas por ■ foram registradas exclusivamente em um determinado tipo de vegetação ou
estação. C = Cafezal, T = Transição, N = Natural, Tot = Total.
Família Espécie
Estação seca Estação chuvosa
C T N Tot C T N Tot
Andrenidae Oxaea flavescens Klug, 1807 - 6 1 7
Apidae Ancyloscelis aff. bonariensis Brèthes,
1910■ 1 1 -
Apis mellifera scutellata
Lepeletier, 1836
3 18 5 26 8 24 9 41
Bombus (Thorachobombus) brevivillus
Franklin, 1913 ■ 1 1 -
Centris (Xanthemisia) bicolor Lepeletier,
1841■ - 1 1
Centris (Trachina) fuscata Lepeletier,
1841■ 2 2 -
Centris sp.1 ■ 1 1 -
Centris (Centris) spilopoda Moure, 1969■ - 2 2
Centris (Hemisiella) tarsata Smith, 1874■ - 1 1
Centris (Centris) varia (Erichson, 1849) - 1 1 2
Ceratina (Ceratinula) oxalidis Schrottky,
1907
1 1 2 -
Ceratina sp. 1 - 3 1 4
Ceratina sp. 2 5 2 7 3 3 6
Ceratina sp. 3 ■ 1 1 -
Ceratina sp. 4 1 1 4 1 5
Epicharis (Epicharitides) aff.
Cockerelli Friese, 1900
- 1 1
Epicharis (Anepicharis) aff.
Dejeanii Lepeletier, 1841
- 1 1 2
Epicharis (Triepicharis) analis Lepeletier,
1841 ■ - 3 3
Epicharis (Epicharana) flava Friese, 1900
■ - 1 1
Epicharis sp. 1 - 2 1 3
Euglossa (Euglossa) elífera Dressler,
1982
1 1 -
Euglossa (Euglossa) aff. avicula Dressler,
1982
- 1 3 3
Euglossa (Euglossa) aff. despecta Moure,
1968
1 2 3 -
Euglossa (Euglossa) leucotricha Rebêlo & 5 4 5 14 2 3 5 10
25
Moure, 1996
Euglossa (Euglossa) securigera Dressler,
1982
2 1 3 1 2 1 4
Euglossa sp. 1 ■ 1 1 -
Euglossa sp. 2 ■ - 1 1
Euglossa (Euglossa) townsendi Cockerell,
1904
7 14 16 37 11 18 21 50
Eulaema (Apeulaema) nigrita Lepeletier,
1841
17 4 5 26 20 21 23 64
Exomalopsis (Exomalopsis) analis Spinola,
1853
1 1 2 -
Exomalopsis (Exomalopsis)
auropilosa Spinola, 1853
1 4 2 7 3 3
Exomalopsis (Exomalopsis)
fulvofasciata Smith, 1879
1 4 5 -
Exomalopsis sp.1 ■ - 1 1
Exomalopsis (Exomalopsis)
vernoniae Schrottky, 1909
1 1 2 -
Frieseomelitta varia (Lepeletier, 1836) 1 1 1 1
Geotrigona subterrânea (Friese, 1901) 4 1 5 1 3 3 7
Melipona (Melipona) quadrifasciata
anthidioides Lepeletier, 1836 ■ 1 1 -
Mesoplia sp.1 ■ - 1 1
Monoeca morei Aguiar, 2012 ■ - 3 3
Paratrigona aff. wasbaueri Gonzalez &
Griswold, 2011.
2 1 3 3 3
Partamona aff. rustica Pedro & Camargo,
2003
- 2 2
Partamona sp.1 ■ 35 35 -
Partamona sp.2 ■ 1 1 -
Plebeia aff. droryana (Friese, 1900) 2 2 1 2 3
Scaptotrigona bipunctata (Lepeletier, 1836) 2 2 15 2 17
Tetragonisca angustula
(Latreille, 1811)
2 1 3 2 1 2 5
Tetrapedia diversipes Klug, 1810 ■ - 3 3
Tetrapedia peckoltii Friese, 1899 ■ 1 1 -
Thectochlora alaris (Vachal, 1904) ■ 1 1 -
Trigona hyalinata (Lepeletier, 1836) 8 8 1 1
Trigona spinipes (Fabricius, 1793) 2 42 8 52 21 16 37
Trigonisca intermedia Moure, 1990 1 3 4 -
Trigonopedia sp.1 ■ 1 1 -
Tropidopedia sp1 ■ 1 1 -
Xanthopedia sp. 1 ■ - 1 1
Xanthopedia sp. 2 ■ 2 2 -
Xanthopedia sp.3 ■ - 1 1
Xylocopa sp.1 ■ - 1 1
Xylocopa (Schonnherria) subcyanea Pérez,
1901
1 1 1 1
Colletidae Colletes meridionalis
Schrottky, 1902 ■ 1 1 -
Halictidae Augochlora sp. 1 ■ 1 1 -
Augochlora sp. 2 ■ 1 1 -
Augochlora sp. 3 1 7 8 2 1 3
Augochlora sp. 4 ■ 1 1 -
Augochlora sp. 5 ■ - 1 1
Augochlorella sp. 1 ■ - 1 1
Augochlorella sp. 2 ■ 1 1 -
Augochlorella sp. 3 ■ - 3 3
Augochlorella sp. 4 2 2 -
Augochloropsis sp. 1 1 4 6 11 1 1
Augochloropsis sp. 2 1 1 1 1 2
26
Augochloropsis sp. 3 ■ 1 1 -
Augochloropsis sp. 4 1 1 2 -
Augochloropsis sp. 5 ■ 1 1 -
Augochloropsis sp. 6 ■ - 1 1
Dialictus sp. 1 5 5 5 5
Dialictus sp. 2 ■ - 1 1
Dialictus sp. 3 ■ - 1 1
Pseudaugochlora callaina
Almeida, 2008
1 1 -
Pseudaugochlora elífera
(Fabricius, 1804)
1 1 1 1
Megachilidae Hypanthidium obscurius
Schrottky, 1908 ■ 1 1 -
Larocanthidium bilobatum
Urban, 1997 ■ - 2 2
Megachile sp. 1 1 1 1 1
Megachile sp. 2 ■ 1 1 -
Megachile sp. 3 2 2 4 -
Total 85 espécies 42 147 123 312 48 166 112 326
Apis mellifera scutellata Lepeletier, 1836 e Euglossa (Euglossa) townsendi
Cockerell, 1904 estiveram distribuídas de forma constante nas três áreas (Cafezal, Transição e
Nativa) e nas duas estações (Seca e Chuvosa). Em contraste, as espécies Euglossa (Euglossa)
leucotricha Rebêlo & Moure, 1996 e Eulaema (Apeulaema) nigrita Lepeletier, 1841, mesmo
que presentes nos três tipos vegetacionais e nas duas estações, apresentaram valores de
recorrência diferentes nos tipos vegetacionais e nas estações (Tabela 3).
Tabela 3: Resultados do teste Qui-quadrado, realizado para analisar a recorrência das
espécies frequentes nos três tipos vegetacionais (interior do cafezal, transição e nativa) e nas
duas estações (seca e chuvosa).
Espécies χ² g.l. P
Apis mellifera scutellata
Lepeletier, 1836
3,1811 2 0.2
Euglossa (Euglossa)
townsendi Cockerell, 1904
0,4053 2 0,8
Euglossa (Euglossa)
leucotricha Rebêlo &
Moure, 1996
6,7874 2 0,03
Eulaema (Apeulaema)
nigrita Lepeletier, 1841
22,927 2 <0,001
27
Com relação a composição das comunidades, verificamos que houve diferenças em
função do período de amostragem (F1,54=2,504, p=0,007) (Figura 5) e do tipo de vegetação
(F2,54=3,134, p<0,001) (Figura 6), sem interação entre esses dois fatores (F2,54=0,724,
p=0,765). Ainda, o interior do cafezal apresentou composição de abelhas distinta da área
nativa (p=0,002) e da área de transição (p<0,001), enquanto que as áreas nativa e transição
não foram diferentes (p=0,306). Na estação seca, no interior do cafezal, houve ocorrência de
duas espécies exclusivas, enquanto na área de transição foram amostradas 14 espécies
exclusivas e na vegetação nativa oito espécies. Na estação chuvosa, na transição, ocorreram
11 espécies exclusivas, enquanto na área nativa 10 espécies foram exclusivas (Material
Suplementar 1).
Figura 5: Composição dos grupos de abelhas coletados em plantio de café em Diamantina, Minas Gerais, Brasil,
durante a estação seca (agosto), representado na figura em vermelho e, durante a estação chuvosa (novembro),
em azul. Cada número representa uma espécie coletada e a coloração é referente a espécies que ocorreram
somente na estação e vegetação da mesma cor.
28
Figura 6: Composição dos grupos de abelhas coletados em plantio de café em Diamantina, Minas Gerais, Brasil,
no interior do cafezal, em vermelho; na área de transição, em azul e na vegetação nativa, em verde. Cada número
representa uma espécie coletada e a coloração é referente a espécies que ocorreram somente na estação e
vegetação da mesma cor.
Com a realização da análise de ICA, obtivemos Augochloropsis sp.1 associada à
estação seca (pré-floração do café) (A=0,95 e B=0,2; p=0,023). Quando realizada a mesma
análise com os tipos de vegetação, Paratrigona aff. wasbaueri Gonzalez & Griswold, 2011 e
Scaptotrigona bipunctata (Lepeletier, 1836) se apresentaram como associadas exclusivamente
à área de transição (A=0,94 e B=0,25; p=0,008 e A=0,83 e B=0,25; p=0,029,
respectivamente). Além disso, Trigona spinipes (Fabricius, 1793) esteve associada com a
vegetação nativa e a área de transição (Anativa=0,46 e Bnativa=0,6; Atransição=0,5 e
Btransição=0,6; p<0,001). Todas as espécies exclusivas apontadas pela análise permutacional
de variância (PERMANOVA) apresentaram alta fidelidade (baixos valores de B) e baixa
especificidade (altos valores de A) (Material Suplementar 2), tendo assim, alta probabilidade
de pertencer ao tipo de vegetação em que foi encontrada e baixa probabilidade de ser
encontrada em outro tipo de vegetação.
29
4.DISCUSSÃO
Nossos resultados demonstram o papel fundamental das áreas de entorno dos
cafezais como locais importantes para a manutenção da fauna de polinizadores potenciais do
café durante as floradas. Verificamos ainda que a fauna de abelhas varia ao longo do ano e
que isso ocorre de forma fortemente associada ao tipo vegetacional. Abaixo discutimos a
natureza e os principais fatores associados às variações encontradas.
As abelhas necessitam de recursos florais ofertados pelas flores para alimentação e
construção de seus ninhos (Pinheiro et al., 2014), entretanto, a floração do café ocorre de
forma intensa e rápida, não possibilitando sozinha a manutenção de abelhas ao longo do ano.
Isso ocorre porque as demais plantas que poderiam servir de alimento às abelhas no interior
do cafezal são rotineiramente roçadas, impedindo que de fato floresçam e ofereçam outros
recursos aos polinizadores além dos oferecidos pelas flores do café. Esse é, provavelmente, o
fator principal destacando a área de transição, tornando-a até mais rica em espécies de abelhas
que o interior da vegetação nativa, já que na transição não há roçadas, permitindo a floração
de plantas ruderais e proporcionando uma maior riqueza e abundância de recursos florais
nessa área (Öckinger e Smith 2007). A abundância de recursos florais se intensifica quando o
café floresce, tornando esta área altamente benéfica para as abelhas, maximizando a
diversidade de habitats com recursos de forrageamento variados (Westrich 1996, Westphal et
al. 2003). Insetos sociais tendem a ser mais eficientes no forrageamento (Robinson e Page,
1988), optando por locais com recursos abundantes, e que permita um baixo gasto energético
enquanto executam a atividade de forragear. Além disso, o fato de também apresentar solo
exposto e menor contato com os agrotóxicos utilizados no cafezal, a área de transição passa a
representar um local mais propício para abelhas que nidificam no solo se estabelecerem.
Tscharntke e colaboradores (2005) argumentam que a sustentabilidade dos
ecossistemas de terras agrícolas, a longo prazo, depende da conservação da biodiversidade.
Desta forma, cultivos agrícolas efêmeros, se próximos a vegetações nativas, são beneficiados
com uma maior diversidade de polinizadores locais, de forma a garantir os serviços
ecossistêmicos necessários para tais cultivos quando estes são necessários. Em contrapartida,
as áreas externas ao cafezal parecem configurar espaços com uma amplitude de nicho maior,
permitindo a ocupação por um número maior de espécies com populações maiores, o que
reforça a necessidade de permear o cafezal com corredores nativos capazes de aproximar os
polinizadores potenciais de todos os pés de café quando ocorrer a florada (Klein et al. 2007;
30
Ricketts et al. 2008; Bommarco et al. 2010; Garibaldi et al. 2011a, 2013b; Tscharntke et al.
2012; Kennedy et al. 2013; Moreira et al. 2015).
Como esperado, já que o Campo Rupestre, alvo do presente estudo, desfruta da
qualidade de possuir uma paisagem diversificada e com floradas intensas (Conceição et al.,
2005), obtivemos riqueza e abundância elevadas nesta vegetação e no entorno (transição), em
períodos em que o café não estava florido. Diante disto, torna-se evidente a importância desta
vegetação em proporcionar condições favoráveis para a manutenção das espécies de abelhas
em riqueza e abundância, funcionando como um repositório eficiente de polinizadores,
oferecendo recurso contínuo e diversificado durante todo o ano, sendo capaz de estabilizar os
níveis de atividade dos polinizadores, onde as flutuações na abundância de uma população é
compensada pela dinâmica assíncrona de outras (Kremen et al. 2004; Ricketts 2004; Nicholls
e Altieri 2013).
(Azevedo et al. 2008) realizaram coletas durante 2 anos ao longo da Cadeia do
Espinhaço e coletaram aproximadamente 360 espécies. Nós coletamos 85 espécies, cerca de
24% da estimativa de riqueza total coletada por Azevedo et al (2008). A partir das coletas
realizadas por eles e o levantamento de dados secundários, estima-se que existam cerca de
516 espécies de abelhas nos Campos Rupestres da Cadeia do Espinhaço.
Obtivemos representação de todas as cinco famílias de abelhas que ocorrem no
Brasil (Moure et al., 2007). Das 269 espécies de abelhas da família Apidae, nosso trabalho
teve representação de 58 espécies (incluindo Apis mellifera scutellata). A tribo Meliponini foi
a mais coletada, com representantes de 13 espécies, resultando em 34% do estimado para a
região. Seguida pela tribo Centridini, que teve 11 espécies coletadas, sendo 21% do estimado.
A tribo Euglossini foi representada por 9 espécies neste levantamento, a mesma quantidade de
espécies encontrada nas coletas realizadas por Azevedo et al (2008) e representando 64% da
estimativa total para a Cadeia do Espinhaço. Coletamos seis espécies da tribo Tapinotaspidini,
15% do estimado para a região. Nas tribos Ceratinini e Exomalopsini foram coletados
representantes de cinco espécies, 18% e 55% respectivamente, do estimado para a região.
Tetrapedini e Xylocopini tiveram representantes de duas espécies, 22% e 9% do estimado
para a Cadeia do Espinhaço. E por fim, Bombini, Emphorini e Ericrocidini tiveram uma
espécie coletada, 25%, 17% e 8%, respectivamente, da estimativa total para a Cadeia do
Espinhaço. Das 114 espécies de abelhas da família Halictidae estimadas para os Campos
Rupestres da Cadeia do Espinhaço, nós coletamos 21, com a tribo Augochlorini com
representação de 18 espécies, 22% do estimado; e Halictini com 3 espécies coletadas, 9% do
31
estimado para a Cadeia do Espinhaço. Das 76 espécies de abelhas da família Megachilidae
estimadas para a região, nós coletamos 5 espécies, com a tribo Megachilini representada por 3
espécies, 5% do estimado e Anthidini com 2, 13% do estimado para a Cadeia do Espinhaço.
Das 33 espécies estimadas para a família Colletidae, coletamos uma espécie. E por fim, das
24 espécies da família Andrenidae, coletamos também uma espécie.
Considerando que este estudo contou com um esforço amostral de apenas duas
semanas de levantamento da fauna de abelhas e em um único ponto da Cadeia do Espinhaço,
com interface com uma área de produção de café, acreditamos ter encontrado resultados
bastante representativos da diversidade local. Quando comparamos as espécies coletadas neste
trabalho com a listagem total de espécies descritas no levantamento de Azevedo e
colaboradores (2008), na tribo Meliponini, mais representada neste trabalho, coletamos as
espécies Melipona quadrifasciata anthidioides, Paratrigona aff. wasbaueri e Partamona aff.
rustica que não aparecem na listagem total. Na tribo Euglossini as espécies Euglossa aff.
amazônica, Euglossa aff. avicula, Euglossa aff. despecta e Euglossa townsendi foram
coletadas neste trabalho e não aparecem na listagem total de espécies para os Campos
Rupestres da Cadeia do Espinhaço, o que é bastante interessante e curioso, visto que a espécie
Euglossa townsendi, além de aparecer neste trabalho, ainda ocorre de forma constante nos três
tipos de vegetação e nas duas estações amostradas. Na tribo Exomalopsini, coletamos a
espécie Exomalopsis vernoniae que não aparecem na listagem total. E por fim, nas tribos
Halictini e Anthidiini, coletamos as espécies Pseudaugochlora callaina e Hypanthidium
obscurius, respectivamente, que não aparecem na listagem total de Azevedo e colaboradores
(2008). Esses resultados nos sugerem pensar que a estimativa de riqueza de espécies dos
Campos Rupestres na Cadeia do Espinhaço é ainda superior que a proposta pelo levantamento
realizado por Azevedo e colaboradores (2008).
Como os períodos amostrados consistiam em estação seca e chuvosa, as espécies
floridas nestes dois períodos foram diferentes (Belo et al. 2013). As variações de temperatura
e precipitação influenciam os padrões fenológicos das populações e comunidade de plantas
(Heinrich 1976; Opler et al. 1980; Arroyo et al. 1981), refletindo diretamente na diversidade
de polinizadores (Smith-Ramirez e Armesto 1994). Esse padrão, no entanto, não parece estar
relacionado somente com a composição das comunidades de abelhas, mas com as suas
abundâncias, o que pode ser um reflexo do efeito da florada do café sobre as populações de
algumas abelhas.
Com relação aos diferentes padrões de abundância registrados para as espécies de
abelhas que estiveram presentes em todos os tipos vegetacionais nas duas estações, obtivemos
32
duas recorrentes: a espécie social Apis mellifera scutellata, exótica, que possui ampla
distribuição geográfica e grande capacidade de adaptação (Gonçalves, 1994), com colmeias
bastante populosas; e a espécie Euglossa townsendi, a qual possui comportamento com grau
de sociabilidade intermediário, entre comunal e eusocial, e ninhos pouquíssimo populosos
(Augusto e Garófalo 2004). Em ambos os casos, trata-se de abelhas de porte médio com
bionomias completamente diferentes, mas que apresentam atividade de forrageamento
equivalentes.
Exceto pelo interior do cafezal, a metodologia de coleta ativa realizada através de
rede entomológica foi a que apresentou maiores valores de riqueza e abundância, seguida pela
armadilha de odor e, por fim, os pantraps. Isso porque no interior do cafezal conforme
discutido acima, remanescem poucas espécies ruderais capazes de ofertar recursos aos
visitantes florais. Desta forma, coletas com atrativos (cor ou odor) acabaram sendo mais
eficientes para atrair as abelhas pelo seu amplo alcance de atração (Nascimento et al. 2016).
Deste modo, o levantamento de diversidade de abelhas com a utilização da coleta ativa foi o
mais eficiente (Sakagami et al. 1967), sendo também aquele com maior capacidade de melhor
identificar as diferenças de riqueza e abundância entre os três tipos vegetacionais
considerados neste estudo. Dessa forma, por mais que necessite de um esforço de coleta
maior, a coleta ativa com rede entomológica permite a obtenção de resultados mais robustos.
Entretanto, o uso das três metodologias neste trabalho mostrou-se complementar e com
importância relativa associada as condições locais das áreas investigadas. Desta forma,
recomendamos que sempre que possível se utilize pelo menos uma forma de coleta atrativa
em levantamentos de polinizadores em cultivos agrícolas, além da coleta ativa.
5.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos que, i) a área de transição apresentou maior riqueza de abelhas, o que
aponta para a necessidade de promover a intensificação ecológica com espécies ruderais
nestas áreas; ii) houve variação na composição da comunidade de abelhas entre as estações e
os tipos de vegetação, mas a riqueza e abundância parecem permanecer razoavelmente
estáveis ao longo do tempo; iii) a florada do café pode ter um efeito sobre alguns descritores
da comunidade de abelhas do seu entorno; iv) a matriz na qual o cultivo está inserido e o
manejo que se faz em seu interior podem contribuir de forma eficaz para melhorar a
comunidade de polinizadores potenciais do café, contribuindo assim para a maximização do
potencial produtivo dos plantios.
33
6.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Agostini K, Lopes AV, Machado IC (2014) Recursos florais. In: Biologia da polinização (eds.
Rech AR, Agostini K, Oliveira PE, Machado IC) p.136-169. Editora Projeto
Cultural, Rio de Janeiro.
Albuquerque, P.M.C., Ferreira, R.G., Rêgo, M.M.C., Santos, C.S., Brito, C.M.S, 2001,
Levantamento da fauna de abelhas silvestres (Hymenoptera, Apoidea) na região da
“Baixada Maranhense”: Vitória do Mearim, MA, Brasil, Acta Amazonica 31(3):
419-430.
Albrecht M, Schmid B, Hautier Y, Müller CB (2012) Diverse pollinator communities enhance
plant reproductive success. Proceedings: Biological Sciences 279:4845–4852
Arroyo MTK, Armesto JJ, Villagran C (1981) Plant Phenological Patterns in the High
Andean Cordillera of Central Chile. The Journal of Ecology 69:205. doi:
10.2307/2259826
Augusto SC, Garófalo CA (2004) Nesting biology and social structure of Euglossa (Euglossa)
townsendi Cockerell (Hymenoptera, Apidae, Euglossini). Insectes Sociaux 51:400–
409. doi: 10.1007/s00040-004-0760-2
Azevedo AA, Silveira FA, Aguiar CML, Pereira VS (2008) Fauna de abelhas (Hymenoptera,
Apoidea) nos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço (Minas Gerais e Bahia,
Brasil): riqueza de espécies, padrões de distribuição e ameaças para conservação.
4:32
Belo RM, Negreiros D, Fernandes GW, et al (2013) Fenologia reprodutiva e vegetativa de
arbustos endêmicos de campo rupestre na Serra do Cipó, Sudeste do Brasil.
Rodriguésia 64:817–828. doi: 10.1590/S2175-78602013000400011
Blüthgen N, Klein A-M (2011) Functional complementarity and specialisation: The role of
biodiversity in plant–pollinator interactions. Basic and Applied Ecology 12:282–291.
doi: 10.1016/j.baae.2010.11.001
Bommarco R, Biesmeijer JC, Meyer B, et al (2010) Dispersal capacity and diet breadth
modify the response of wild bees to habitat loss. Proceedings of the Royal Society B:
Biological Sciences 277:2075–2082. doi: 10.1098/rspb.2009.2221
BRASIL (2009) Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. CONAB: Companhia
Nacional de Abastecimento, Cafés do Brasil, safra 2008/2009, Segundo
levantamento.
Cáceres MD, Legendre P (2009) Associations between species and groups of sites: indices
and statistical inference. Ecology 90:3566–3574. doi: 10.1890/08-1823.1
34
Colli‐Silva M, Vasconcelos TNC, Pirani JR (2019) Outstanding plant endemism levels
strongly support the recognition of campo rupestre provinces in mountaintops of
eastern South America. Journal of Biogeography. doi: 10.1111/jbi.13585
Conceição, A.A., A. Rapini, J.R. Pirani, A.M. Giulietti, R.M. Harley, T.R.S. Silva, A.K.A.
Santos, C. Cosme, I.M. Andrade, J.A.S. Costa, L.R.S. Souza, M.J.G. Andrade, R.R.
Funch, T.A. Freitas, A.M.M. Freitas & A.A. Oliveira. 2005. Campos Rupestres. In:
F.A. Juncá, L. Funch & W. Rocha (org.). Biodiversidade e conservação da Chapada
Diamantina. pp. 153-180. Ministério do Meio Ambiente, Brasília.
Conceição AA, Pirani JR (2007) Diversidade em quatro áreas de campos rupestres na
Chapada Diamantina, Bahia, Brasil: espécies distintas, mas riquezas similares.
Rodriguésia 58:193–206. doi: 10.1590/2175-7860200758114
Costanza R, Limburg K, Naeem S, et al (1997) The value of the world’s ecosystem services
and natural capital. 387:8
Coste, R. (1975) El Café, 1. ed. Barcelona, Espanha: Editorial Blume.
Drummond GM, Martins CS, Machado ABM, Sebaio FA, Antonini Y (2005) Flora. In:
Biodiversidade em Minas Gerais, Fundação Biodiversitas, Belo Horizonte p.93-106.
Ebeling A, Klein A-M, Schumacher J, et al (2008) How Does Plant Richness Affect
Pollinator Richness and Temporal Stability of Flower Visits? Oikos 117:1808–1815
Fox J, Weisberg author. ) Sanford (2011) An R companion to applied regression, 2nd edition.
Thousand Oaks, Calif. : SAGE Publications
Gallai N, Salles J-M, Settele J, Vaissière BE (2009) Economic valuation of the vulnerability
of world agriculture confronted with pollinator decline. Ecological Economics
68:810–821. doi: 10.1016/j.ecolecon.2008.06.014
Garibaldi LA, Aizen MA, Klein AM, et al (2011a) Global growth and stability of agricultural
yield decrease with pollinator dependence. Proceedings of the National Academy of
Sciences 108:5909–5914. doi: 10.1073/pnas.1012431108
Garibaldi LA, Steffan-Dewenter I, Kremen C, et al (2011b) Stability of pollination services
decreases with isolation from natural areas despite honey bee visits: Habitat isolation
and pollination stability. Ecology Letters 14:1062–1072. doi: 10.1111/j.1461-
0248.2011.01669.x
Garibaldi LA, Steffan-Dewenter I, Winfree R, et al (2013) Wild Pollinators Enhance Fruit Set
of Crops Regardless of Honey Bee Abundance. Science 339:1608–1611. doi:
10.1126/science.1230200
35
Gonçalves L.S, (1994) A influência do comportamento das abelhas africanizadas na
produção, capacidade de defesa e resistência à doenças. Anais do I Encontro Sobre
Abelhas de Ribeirão Preto; p. 69-79.
Hegland SJ, Boeke L (2006) Relationships between the density and diversity of floral
resources and flower visitor activity in a temperate grassland community. Ecological
Entomology 31:532–538. doi: 10.1111/j.1365-2311.2006.00812.x
Heinrich B (1976) Flowering Phenologies: Bog, Woodland, and Disturbed Habitats. Ecology
57:890–899. doi: 10.2307/1941055´
Hervé M (2018) RVAideMemoire: Testing and Plotting Procedures for Biostatistics. R package version 0.9-
70.https://CRAN.R-project.org/package=RVAideMemoire
Hipólito J, Boscolo D, Viana BF (2018) Landscape and crop management strategies to
conserve pollination services and increase yields in tropical coffee farms.
Agriculture, Ecosystems & Environment 256:218–225. doi:
10.1016/j.agee.2017.09.038
Hoehn P, Tscharntke T, Tylianakis JM, Dewenter IS- (2008) Functional Group Diversity of
Bee Pollinators Increases Crop Yield. Proceedings: Biological Sciences 275:2283–
2291
Kennedy CM, Lonsdorf E, Neel MC, et al (2013) A global quantitative synthesis of local and
landscape effects on wild bee pollinators in agroecosystems. Ecology Letters
16:584–599. doi: 10.1111/ele.12082
Kevan PG, Baker HG (1983) Insects as Flower Visitors and Pollinators. Annual Review of
Entomology 28:407–453. doi: 10.1146/annurev.en.28.010183.002203
Klein A, Steffan–Dewenter I, Tscharntke T (2003a) Fruit set of highland coffee increases with
the diversity of pollinating bees. Proceedings of the Royal Society of London Series
B: Biological Sciences 270:955–961. doi: 10.1098/rspb.2002.2306
Klein A-M, Steffan-Dewenter I, Tscharntke T (2003b) Bee pollination and fruit set of Coffea
arabica and C. canephora (Rubiaceae). American Journal of Botany 90:153–157. doi:
10.3732/ajb.90.1.153
Klein A-M, Steffan-Dewenter I, Tscharntke T (2003c) Pollination of Coffea canephora in
relation to local and regional agroforestry management: Pollination of lowland
coffee. Journal of Applied Ecology 40:837–845. doi: 10.1046/j.1365-
2664.2003.00847.x
Klein A-M, Vaissière BE, Cane JH, et al (2007) Importance of pollinators in changing
landscapes for world crops. Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences
274:303–313. doi: 10.1098/rspb.2006.3721
36
Köppen W (1931) Grundriss der klimakunde. Walter de Gruyter. Berlim, p. 390.
Kremen C, Miles A (2012) Ecosystem Services in Biologically Diversified versus
Conventional Farming Systems: Benefits, Externalities, and Trade-Offs. Ecology and
Society 17:. doi: 10.5751/ES-05035-170440
Kremen C, Williams NM, Bugg RL, et al (2004) The area requirements of an ecosystem
service: crop pollination by native bee communities in California: Area requirements
for pollination services to crops. Ecology Letters 7:1109–1119. doi: 10.1111/j.1461-
0248.2004.00662.x
Krug C, Alves-dos-Santos I (2008) O uso de diferentes métodos para amostragem da fauna de
abelhas (Hymenoptera: Apoidea), um estudo em floresta ombrófila mista em Santa
Catarina. Neotropical Entomology 37:265–278. doi: 10.1590/S1519-
566X2008000300005
Malerbo-Souza DT, Halak AL (2012) Agentes polinizadores e produção de grãos em cultura
de café arábica cv. “Catuaí Vermelho.” 11
Mandelik Y, Winfree R, Neeson T, Kremen C (2012) Complementary habitat use by wild
bees in agro-natural landscapes. Ecological Applications 22:12
McGregor SE (1976) Insect pollination of cultivated crop plants. Washington, DC: USDA,
(USDA agriculture handbook) 849p.
Moreira EF, Boscolo D, Viana BF (2015) Spatial Heterogeneity Regulates Plant-Pollinator
Networks across Multiple Landscape Scales. PLOS ONE 10:e0123628. doi:
10.1371/journal.pone.0123628
Moure JS, Urban D, & Melo GAR (2007) Catálogo de abelhas (Hymenoptera, Apoidea) da
Região Neotropical. Soc. Brasileira Entomol. Curitiba.
Nascimento GS do, Santos KPP, Fontenele WM, et al (2016) Atração de Machos de Abelhas
da Tribo Euglossini (Hymenoptera, Apoidea) por Compostos Aromáticos Sintéticos
no Parque Nacional de Sete Cidades, Piauí, Brasil. Revista ESPACIOS | Vol 37 (No
05) Año 2016
Nicholls CI, Altieri MA (2013) Plant biodiversity enhances bees and other insect pollinators
in agroecosystems. A review. Agronomy for Sustainable Development 33:257–274.
doi: 10.1007/s13593-012-0092-y
Öckinger E, Smith HG (2007) Semi-Natural Grasslands as Population Sources for Pollinating
Insects in Agricultural Landscapes. Journal of Applied Ecology 44:50–59
Oksanen JF, Blanchet G, Friendly M, Kindt R, Legendre P, McGlinn D, Peter R. Minchin R, O'Hara B, Gavin L,
Simpson PS, Henry MH, Stevens ES, Wagner H (2018) Vegan: Community Ecology Package. R
package version 2.5-3. https://CRAN.R-project.org/package=vegan
37
Opler PA, Frankie GW, Baker HG (1980) Comparative Phenological Studies of Treelet and
Shrub Species in Tropical Wet and Dry Forests in the Lowlands of Costa Rica. The
Journal of Ecology 68:167. doi: 10.2307/2259250
Pinheiro M., Gaglianone M. C., Nunes C. E. P., Sigrist M. R., Alves-dos-Santos, I. (2014)
Polinização por abelhas, in: Rech A. R., Agostini K., Oliveira P. E., Machado I. C.,
Biologia da polinização, Ed. Projeto Cultural, Rio de Janeiro, pp.205-233
Potts SG, Imperatriz-Fonseca VL, Ngo HT, et al (2016) The assessment report on pollinators,
pollination and food production: summary for policymakers
Rapini A, Ribeiro PL, Lambert S, Pirani JR (2008) A flora dos campos rupestres da Cadeia do
Espinhaço. 4:9
Ricketts TH (2004) Tropical Forest Fragments Enhance Pollinator Activity in Nearby Coffee
Crops. Conservation Biology 18:1262–1271. doi: 10.1111/j.1523-1739.2004.00227.x
Ricketts TH, Regetz J, Steffan-Dewenter I, et al (2008) Landscape effects on crop pollination
services: are there general patterns? Ecology Letters 11:499–515. doi:
10.1111/j.1461-0248.2008.01157.x
Robinson GE, Page RE (1988) Genetic determination of guarding and undertaking in honey-
bee colonies. Nature, 333: 356-358.
Roubik DW (2002) The value of bees to the coffee harvest. Nature 417:708–708. doi:
10.1038/417708a
Sakagami SF, Laroca S, Moure JS (1967) Wild Bee Biocoenotics in São Jose dos Pinhais
(PR), South Brazil.:Preliminary Report (With 3 Text-figures and 7 Tables)
Saturni FT, Jaffé R, Metzger JP (2016) Landscape structure influences bee community and
coffee pollination at different spatial scales. Agriculture, Ecosystems & Environment
235:1–12. doi: 10.1016/j.agee.2016.10.008
Shackelford G, Steward PR, Benton TG, et al (2013) Comparison of pollinators and natural
enemies: a meta-analysis of landscape and local effects on abundance and richness in
crops: Comparison of pollinators and natural enemies. Biological Reviews 88:1002–
1021. doi: 10.1111/brv.12040
Smith-Ramirez C, Armesto JJ (1994) Flowering and Fruiting Patterns in the Temperate
Rainforest of Chiloe, Chile--Ecologies and Climatic Constraints. The Journal of
Ecology 82:353. doi: 10.2307/2261303
Steffan-Dewenter I, Nzenberg UM, Rger CB, et al (2002) SCALE-DEPENDENT EFFECTS
OF LANDSCAPE CONTEXT ON THREE POLLINATOR GUILDS. 83:12
38
Tscharntke T, Klein AM, Kruess A, et al (2005) Landscape perspectives on agricultural
intensification and biodiversity – ecosystem service management. Ecology Letters
8:857–874. doi: 10.1111/j.1461-0248.2005.00782.x
Tscharntke T, Tylianakis JM, Rand TA, et al (2012) Landscape moderation of biodiversity
patterns and processes - eight hypotheses. Biological Reviews 87:661–685. doi:
10.1111/j.1469-185X.2011.00216.x
Vergara CH, Badano EI (2009) Pollinator diversity increases fruit production in Mexican
coffee plantations: The importance of rustic management systems. Agriculture,
Ecosystems & Environment 129:117–123. doi: 10.1016/j.agee.2008.08.001
Westphal C, Steffan-Dewenter I, Tscharntke T (2003) Mass flowering crops enhance
pollinator densities at a landscape scale: Flowering crops enhance pollinator
densities. Ecology Letters 6:961–965. doi: 10.1046/j.1461-0248.2003.00523.x
Westrich P (1996) Habitat requirements of central European bees and the problems of partial
habitats. In: The conservation of bees (eds. Matheson A, Buchmann SL, O’toole C,
Westrich P, Willians I) New York: Academic Press, p.1-16.
Wolowski M, Agostini K, Rech AR, et al (2019) Relatório temático sobre polinização,
polinizadores e produção de alimentos no Brasil. Editora Cubo, São Carlos
Zar JH (2010) Biostatistical analysis, 5th ed. Prentice-Hall/Pearson, Upper Saddle River, N.J
39
APÊNDICE A – Espécies de abelhas excluisvas
Espécies de abelhas exclusivas coletadas no interior do cafezal, na área de transição e na
vegetação nativa, nas estações seca e chuvosa. Est=Estação, Veg=Vegetação, C=Cafezal,
T=Transição, N=Natural.
Est/Veg C T N
Seca
Augochlora sp.
4
Euglossa sp. 1
Megachile sp.2
Augochlorella sp. 2
Augochlora sp. 2
Augochlora sp. 1
Tropidopedia sp1
Trigonopedia sp.1
Thectochlora alaris
Tetrapedia peckoltii
Partamona sp.2
Melipona
quadrifasciata
anthidioides
Euglossa aff.
amazônica
Ceratina sp. 3
Centris fuscata
Ancyloscelis aff.
bonariensis
Augochloropsis sp. 3
Augochloropsis sp. 5
Bombus brevivillus
Centris sp.1
Colletes meridionalis
Hypanthidium obscuri
us
Partamona sp.1
Xanthopedia sp. 2
Chuvosa
Augochlorella sp. 1
Augochlorella sp. 3
Centris pilopoda
Centris tarsata
Dialictus sp. 2
Dialictus sp. 3
Epicharis analis
Mesoplia sp.1
Monoeca morei
Xanthopedia sp. 1
Xanthopedia sp.3
Augochlora sp. 5
Augochloropsis sp. 6
Centris bicolor
Epicharis aff.
cockerelli
Epicharis flava
Euglossa sp. 2
Larocanthidium bilob
atum
Partamona aff. rustica
Tetrapedia diversipes
Xylocopa sp.1
40
APÊNDICE B – Valores de A e B (ICA)
Valores de A (Especificidade) e B (Fidelidade) resultantes da análise de componentes
principais (ICA) das espécies que foram exclusivas na análise permutacional de
variância (PERMANOVA).
Nº Espécie A B
1 Augochlora sp. 4 1 0,05
2 Euglossa sp. 1 1 0,05
3 Megachile sp.2 0,66 0,1
4 Augochlorella sp. 2 1 0,05
5 Augochlora sp. 2 1 0,05
6 Augochlora sp. 1 1 0,05
7 Tropidopedia sp1 1 0,05
8 Trigonopedia sp.1 1 0,05
9 Thectochlora alaris 1 0,05
10 Tetrapedia peckoltii 1 0,05
11 Partamona sp.2 1 0,05
12 Melipona quadrifasciata anthidioides 1 0,05
13 Euglossa aff. amazônica 1 0,05
14 Ceratina sp. 3 1 0,05
15 Centris fuscata 1 0,05
16 Ancyloscelis aff. bonariensis 1 0,05
17 Augochlorella sp. 1 1 0,05
18 Augochlorella sp. 3 1 0,1
19 Centris pilopoda 1 0,1
20 Centris tarsata 1 0,05
21 Dialictus sp. 2 1 0,05
22 Dialictus sp. 3 1 0,05
23 Epicharis analis 1 0,05
24 Mesoplia sp.1 1 0,05
25 Monoeca morei 1 0,05
26 Xanthopedia sp. 1 1 0,05
27 Xanthopedia sp.3 1 0,05
28 Augochloropsis sp. 3 1 0,05
29 Augochloropsis sp. 5 1 0,05
30 Bombus brevivillus 1 0,05
31 Centris sp.1 1 0,05
32 Colletes meridionalis 1 0,05
33 Hypanthidium obscurius 1 0,05
34 Partamona sp.1 1 0,05
35 Xanthopedia sp. 2 1 0,05
36 Augochlora sp. 5 1 0,05
37 Augochloropsis sp. 6 1 0,05
38 Centris bicolor 1 0,05
39 Epicharis aff. Cockerelli 1 0,05
40 Epicharis flava 1 0,05
41 Euglossa sp. 2 1 0,05
42 Larocanthidium bilobatum 1 0,1
43 Partamona aff. rustica 1 0,05
44 Tetrapedia diversipes 1 0,1
45 Xylocopa sp.1 1 0,05
41
CAPÍTULO 2: NIDIFICAÇÃO DE ABELHAS SOLITÁRIAS E
IMPORTÂNCIA DA POLINIZAÇÃO PARA PRODUÇÃO DE CAFÉ EM
AMBIENTE DE CAMPO RUPESTRE
RESUMO
As abelhas estão associadas à polinização de mais de 75% dos cultivos agrícolas, e sabe-se
que as abelhas nativas realizam tal serviço de forma geralmente mais eficiente. O café, com
aumento médio de 30% na produtividade devido ao serviço ecossistêmico de polinização, está
entre os cultivos beneficiados pelas abelhas. A fim de manter estes polinizadores próximos
aos cultivos, algumas estratégias vêm sendo adotadas como xxxxx. A partir disto, este
trabalho teve como objetivo avaliar o padrão de nidificação de abelhas solitárias em um
cafezal com vegetação nativa adjacente, antes, durante e após este cultivo florido, e a efetiva
participação destes animais na frutificação do café. O desenho experimental para avaliar
nidificação consistiu de estações de coleta contendo 20 ninhos armadilha, instaladas uma no
interior do cafezal, uma na área de transição e uma na vegetação nativa, com repetição em 10
pontos distantes pelo menos 1 km, monitorados semanalmente. Na fase de botão floral, seis
galhos da borda e do interior do cafezal foram submetidos a dois tratamentos, autogamia
(exclusão de polinizadores) e polinização natural (flores expostas). Durante a floração do
café, foram observadas e contabilizadas todas as visitas realizadas por abelhas às flores
expostas, tanto na borda quanto no interior do cafezal. Os frutos maduros foram secados,
contados, pesados, medidos e calculados os valores de densidade. Foram encontrados 132
ninhos de abelhas solitárias, destes, 54% continham grãos de pólen de café. Na borda do
cafezal, foram observadas mais visitas de abelhas que no seu interior. Verificamos que: i) há
maior taxa de frutificação em flores de café visitadas por abelhas ii) frutos oriundos de
polinização natural são mais densos i) mesmo as abelhas não residindo no cafezal, elas
visitam as flores deste cultivo. Esses três principais resultados demonstram a importância de
áreas naturais no entorno de cultivos de café e da promoção de medidas que aumentem a
permeabilidade do cultivo ao trânsito e residência de abelhas nativas.
Palavras-chave: Ninhos armadilha. Grãos de pólen. Vegetação nativa. Frutificação.
Qualidade do fruto.
Formatação de acordo com o periódico: Agriculture, Ecosystems and Environment
42
ABSTRACT
Bees are associated with pollination of more than 75% of agricultural crops, and native bees
are known to perform this service generally more efficiently. Coffee, with an average 30%
increase in productivity due to the pollination ecosystem service, is among the crops benefited
by bees. In order to keep these pollinators close to crops, some strategies have been adopted
as xxxxx. From this, this work aimed to evaluate the nesting pattern of solitary bees in a
coffee plantation with adjacent native vegetation, before, during and after this flowering
cultivation, and the effective participation of these animals in the fruiting of coffee. The
experimental design to evaluate nesting consisted of collection stations containing 20 trap
nests, one inside the coffee plantation, one in the transition area and one in native vegetation,
repeated at 10 points at least 1 km apart, monitored weekly. In the flower bud phase, six
branches of the border and interior of the coffee plantation were submitted to two treatments,
autogamy (pollinator exclusion) and natural pollination (exposed flowers). During the
flowering of coffee, all visits made by bees to the exposed flowers were observed and
accounted, both at the edge and inside the coffee plantation. The ripe fruits were dried,
counted, weighed, measured and the density values calculated. We found 132 solitary bee
nests, of which 54% contained coffee pollen beans. At the edge of the coffee plantation, more
bee visits were observed than inside. We found that: i) there is a higher fruiting rate in coffee
flowers visited by bees ii) fruits from natural pollination are denser i) even bees not residing
in the coffee plantation, they visit the flowers of this crop. These three main results
demonstrate the importance of natural areas around coffee cultivation and the promotion of
measures that increase the permeability of cultivation to transit and residence of native bees.
Keywords: Trap nests. Pollen grains. Native vegetation. Fruiting. Fruit quality.
43
1. INTRODUÇÃO
A polinização tem sido apontada como um processo capaz de incrementar a
produtividade agrícola sem demandar ampliação de área cultivada (Klein et al. 2007;
Garibaldi et al. 2014). Diversas estratégias tem sido indicadas para aumentar a disponibilidade
de polinizadores em áreas cultivadas (Kremen et al. 2004; Morandin et al. 2007; Pywell et al.
2015). As iniciativas consideradas amigáveis aos polinizadores vão desde o incremento da
diversidade de recursos florais dentro e no entorno dos cultivos até medidas que facilitam e
promovem a reprodução de polinizadores e sua residência em áreas de cultivo (Carvalheiro et
al. 2010; Blaauw and Isaacs 2014; Dicks et al. 2016). Um exemplo bem sucedido da
promoção do serviço de polinização a partir do incentivo a reprodução e residência dos
polinizadores no interior dos cultivos ocorre com Maracujá (Passiflora spp.) (Yamamoto et
al. 2012; Junqueira et al. 2012, 2013). Embora os requerimentos para nidificação e
polinização em cultivos sejam bem conhecidos para algumas espécies, como no maracujá,
sabe-se muito pouco sobre os processos de nidificação e incremento da atividade de
polinização em outros cultivos igualmente dependentes de polinizadores, como o café.
Com relação ao manejo de ninhos para polinização, duas grandes estratégias
predominam, uma diz respeito a apicultura migratória, com a posição de colmeias de Apis
mellifera em cultivos floridos. Esta estratégia apresenta como vantagem a imensa quantidade
de operárias que podem ser introduzidas nos cultivos. Ela tem como pontos negativos a
efemeridade das floradas do café que duram em geral menos de uma semana e a necessidade
de contar com logística e suprimentos destas abelhas disponíveis para alocação nos cultivos.
Uma segunda medida, seria relacionada a promoção das condições de nidificação de abelhas
solitárias no interior e entorno dos cafezais. Esta medida, embora envolva um contingente
relativamente menor de abelhas, apresenta um custo sensivelmente baixo e possibilita a
incrementação destas abelhas, que são tidas como melhores polinizadores do que A. mellifera
(Garibaldi et al. 2013b).
Em Minas Gerais, a prática de apicultura migratória é extremamente pouco
disseminada de forma que a segunda alternativa acaba assumindo um papel potencial, que
embora pouco conhecido pode ser promissor. Isso porque algumas áreas onde há plantios de
café são internacionalmente reconhecidas pela alta diversidade biológica (Mata Atlântica e
Cerrado), o que poderia sinalizar para uma fauna nativa de polinizadores potencialmente rica
e disponível para ser fortalecida através do uso de estratégias como o oferecimento de ninhos
44
armadilhas em cultivos, como é o caso das áreas de cultivo de café na interface com a Mata
Atlântica e o Cerrado.
Com relação as abelhas, cerca de 85% das espécies são solitárias (Batra, 1984;
Freitas e Pereira, 2004), e este hábito é caracterizado por abelhas individuais, nas quais as
fêmeas são responsáveis pela construção dos ninhos e coletas de alimentos para o
desenvolvimento de sua prole (Alves-Dos-Santos et al. 2002). Essas fêmeas utilizam para sua
nidificação cavidades preexistentes em madeiras e ninhos inativos de outros himenópteros
(Aguiar e Garófalo, 2004; Alves-Dos-Santos et al., 2002; Krombein, 1967; Michener, 2007).
Os principais recursos florais coletados e utilizados por essas abelhas são pólen e néctar
(Buchmann, 1987), e elas podem ser classificadas em oligoléticas - que visitam e coletam
pólen de uma ou poucas espécies botânicas (especialistas) - e poliléticas, que coletam os
recursos sem exibir preferências regulares às espécies botânicas (generalistas) (Cane e Sipes,
2006; Linsley, 1958). Espécies de abelhas solitárias são normalmente mais especializadas
quanto à coleta de recursos que abelhas sociais, já que as abelhas sociais precisam de fontes
de alimento durante todo o ano para sustento de suas colônias (Pinheiro et al., 2014; Rech e
Lúcia Absy, 2011).
As abelhas estão associadas à polinização de mais de 75% das cultivos agrícolas
mundiais (Klein et al. 2007). A participação desses insetos na polinização destes cultivos
aumenta a polinização cruzada, na qual há a variabilidade genética, diminuindo a endogamia
além de tornar as populações mais resistentes às mudanças ambientais (Garibaldi et al.
2011b). Além disso, a polinização cruzada foi relacionada ao aumento da produção de café,
seja pela maior quantidade ou qualidade dos frutos (Klein et al., 2003; Klein et al., 2007;
Ricketts et al., 2008; Roubik, 2002). Entre os cultivos agrícolas que apresentam ganho na
produção quando recebem serviços de polinização, o café produz em média 30% a mais
quando as flores são visitadas por abelhas (Hipólito et al. 2018). Além disso, a polinização do
café pode ser influenciada pela estrutura da paisagem (De Marco and Coelho 2004; Ricketts
et al. 2004; Krishnan et al. 2012; Saturni et al. 2016), já que diferentes espécies de abelhas
podem responder de forma diferenciada à variação de um gradiente de vegetação (Brosi et al.,
2007; Benjamin et al., 2014; Machado et al. Capítulo 1). Diante desta eficácia em promover a
polinização cruzada, é necessário atentar para as necessidades destas abelhas a fim de mantê-
las constantes nas regiões de cultivos agrícolas e para tal, é necessário que estes ambientes
possuam recursos durante o período em que os cultivos não estão floridos (Ricketts 2004).
45
Embora haja algumas informações sobre o padrão de forrageamento de abelhas no
interior do café (Klein et al., 2003; Klein et al., 2003; Malerbo-Souza and Halak, 2012;
Ricketts, 2004), se sabe muito pouco sobre a adequabilidade dos cafezais como locais de
residência para abelhas solitárias. Ao avaliar, neste estudo, o padrão natural de forrageamento
de abelhas solitárias em uma paisagem agrícola de cultivo de café no Campo Rupestre
(Machado et al. Capítulo 1), esperamos encontrar maior nidificação nas áreas de transição e
na vegetação nativa. Aparentemente esses dois tipos vegetacionais podem proporcionar além
de mais recursos, mais locais para nidificação, se tornando ambientes favoráveis para as
abelhas se manterem ao longo do tempo. Mais além, esperamos observar uma maior visitação
de abelhas nas flores de café da borda do cafezal e consequentemente maior produção de
frutos e/ou frutos com melhor qualidade (Klein et al., 2003, 2007; Ricketts et al., 2008;
Roubik, 2002). Diante disto, o objetivo deste trabalho foi avaliar o padrão de nidificação de
abelhas solitárias em diferentes tipos vegetacionais, desde a matriz nativa até o cafezal, em
diferentes momentos em relação à floração do café. Buscamos ainda avaliar, durante a
florada, a participação destas abelhas polinizadoras na produtividade deste cultivo.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1. Local de coleta
Este trabalho foi realizado em uma fazenda à 5 km de Conselheiro Mata, distrito de
Diamantina, Minas Gerais. A região possui cultivos de café Catuaí Vermelho, organizados em
talhões e fileiras, com corredores de aproximadamente dois metros de largura, onde crescem
plantas ruderais. Entretanto, há intenso manejo por meio de constante roçada mecânica nestes
corredores. A vegetação adjacente a estes cultivos é nativa e preservada, classificada como
Campo Rupestre (REF). Foram marcados 10 pontos, cada um deles com três marcações
distando entre si 50 metros, sendo uma no interior do cafezal, uma na área de transição e uma
na vegetação nativa adjacente (Figura 1).
46
Figura 1: Imagem de satélite da região de Conselheiro Mata (Diamantina, Minas Gerais, Brasil) com plantios de
café entremeados por vegetações nativas. Cada cor corresponde à um ponto amostrado, onde “N” corresponde à
vegetação Nativa, “B”, borda do cafezal e “C”, interior do Cafezal. Fonte: Google Earth Pro.
2.2. Nidificação das abelhas solitárias
Para avaliar o padrão de nidificação das abelhas solitárias na paisagem agrícola de
cultivo de café, foi instalada uma estação de coleta (Figura 2) à cerca de um metro acima do
solo em cada um dos tipos vegetacionais, totalizando três em cada ponto. Cada estação,
instalada nos pontos descritos no item 2.1 continha 20 ninhos armadilha, sendo 10
confeccionados com papel cartão preto no interior de troncos de madeira e 10 de bambu, com
diâmetros variando entre 0,6 a 2 cm (Figura 2). As estações permaneceram na área entre
setembro de 2018 e janeiro de 2019. Os ninhos-armadilha em cada estação foram monitorados
semanalmente, com o intuito de registrar quando as abelhas finalizaram a nidificação (antes,
durante e após a floração do café) e sua relação com a visita em flores de café, inferida a
partir da análise polínica.
47
Figura 2: Estação de coleta instalada em cada área (vegetação nativa, transição e interior do café) nos dez
pontos, contendo 20 ninhos armadilha, produzidos a partir de bambu e papel cartão preto.
Considerou-se como nidificado o ninho que estava com a entrada selada (Figura 3). Os
ninhos nessa condição eram recolhidos e levados para o Laboratório Multiusuário do PPGBA-
UFVJM. Após a retirada de um ninho no campo, substituímos o ninho retirado, por outro
vazio igual ao retirado. No laboratório, os ninhos foram separados, e as células foram
colocadas em placas (Figura 4), as quais ficavam em estufa com temperatura entre 24 e 28ºC,
até o final do desenvolvimento das larvas. O material polínico, que consistia de fezes e pólen
não consumidos pelas abelhas, foi recolhido destes ninhos e em seguida submetido ao
processo de acetólise (Erdtman, 1960). Posteriormente, foram confeccionadas duas lâminas
48
para cada amostra, as quais foram montadas utilizando gelatina glicerinada de Kaiser (Kraus e
Arduin, 1997). Os tipos polínicos presentes nas lâminas foram morfotipados e contabilizados,
sendo que em cada lâmina foram contabilizados 100 grãos do pólen.
F
igura 3: Ninho armadilha produzido com bambu, diâmetro de 0,7 cm, nidificado por abelha do gênero
Megachile.
Figura 4: Placas de plásticos, onde eram colocados os indivíduos retirados dos ninhos armadilha nidificados, os
números representam o ninho e as letras representam a célula no ninho em que a abelha foi retirada.
2.3. Floração e Frutificação
Anteriormente à floração, os botões florais foram contabilizados e dois ramos de
cada indivíduo com um mesmo número de botões foram marcados. Cada ramo recebeu um
49
tratamento: (i) autopolinização, que consistia em ensacar um galho com tecido de voile para
que não houvesse visitas, e (ii) polinização natural, no qual os botões do ramo marcado
permaneciam expostos a visitas por polinizadores (Figura 5). Este método foi realizado em
três indivíduos na área de transição e outros três no interior do cafezal, em oito pontos.
Figura 5: Dois galhos de café marcados que foram submetidos a dois tratamentos: autogamia (acima), galho
ensacado com tecido de voile a fim de evitar visitas de polinizadores e polinização natural (abaixo), galho que
foi somente marcado, deixando os botões florais aptos a receberem visitas de polinizadores, quando as flores
estivessem em antese.
Durante a floração do café foram realizadas observações com duração de 10 minutos
em cada indivíduo em que os tratamentos foram avaliados, tanto no interior do cafezal quanto
na área de transição e todas as visitas de abelhas foram contabilizadas.
50
Após a floração do café, os ramos ensacados foram desensacados e os frutos em
formação foram marcados, de forma a evitar interferência do ensacamento sobre a produção
de frutos. Os ramos permaneceram marcados até o completo desenvolvimento e maturação,
quando os frutos foram coletados em junho de 2019. Estes frutos foram contabilizados,
colocados em sacos de papel pardo, identificados e mantidos em estufa de circulação forçada
à 60°C, por 19 dias, até a sua secagem total, que foi testada pela estabilização da massa por
uma semana considerando os pesos diários de 10 frutos. Em seguida, a massa dos frutos foi
aferida em balança de precisão SHIMADZU, modelo AY220, e a largura e comprimento
avaliados com paquímetro digital 6” Zaas Precision, e em seguida era contabilizado o número
de sementes de cada fruto. A densidade dos frutos foi obtida considerando o formato elipsoide
dos mesmos e utilizando os dados de massa e volume, este calculado utilizando os dados de
largura e comprimento das bagas de café como medidas dos semi-eixos (a, b e c) para
empregar a fórmula V=4/3*π*a*b*c.
2.4. Análise estatística
Os valores de largura e comprimento dos frutos foram positivamente correlacionados
(rp > 0,8) e por este motivo utilizamos o comprimento como proxy da variável tamanho. A fim
de comparar os tratamentos de autogamia e polinização natural, no interior do cafezal e na
área de transição, testamos as diferenças na massa, comprimento e densidade dos frutos
através de modelos lineares considerando a possível interação entre essas variáveis preditoras.
A produção de frutos e de sementes foi modelada através de modelos lineares generalizados
mistos gerados com distribuição binomial, nos quais além das variáveis explicativas
relacionadas ao tratamento de polinização e ao tipo de vegetação consideramos o ramo
amostrado em cada ponto como variável aleatória no modelo. A probabilidade de produção de
frutos e sementes foi considerada como a combinação entre o número de sementes e frutos
produzidos e o total de possibilidades consideradas (flores manipuladas). A comparação da
nidificação entre as três áreas amostradas (interior do cafezal, transição e nativa) foi realizada
utilizando modelos lineares generalizados com distribuição quasipoisson devido a dispersão
das estimativas. A variável produção de frutos foi transformada (log10) para maximizar a
normalidade e homogeneidade de variância residual dos modelos. Essas características foram
observadas através do gráfico de resíduos de todos os modelos. O teste de significância de
cada modelo foi realizado através de análise de variância utilizando a função Anova do pacote
51
car, em ambiente R (Fox and Weisberg 2011). Quando o resultado foi significativo, as
diferenças entre os níveis de cada variável independente, ou entre as combinações em caso de
significância da interação entre as variáveis, foram testadas através de teste de Tukey (Zar
2010).
A diferença na composição polínica da dieta (grãos de pólen coletados pelas abelhas
que nidificaram) dos três tipos vegetacionais ao longo do período de amostragem foi testada
através de uma análise permutacional de variância (PERMANOVA) realizada com base em
10000 permutações através do pacote vegan em ambiente R (Oksanen et al. 2018). De acordo
com as significâncias observadas, foram realizadas comparações múltiplas através do pacote
RVAdememoire (Hervé, 2018).
3. RESULTADOS
3.1. Nidificação das abelhas solitárias
Registramos 132 ninhos construídos pelas abelhas, sendo 14 no mês de outubro, 22
em novembro e 96 em janeiro (F2,81=0,71, p=0,492). Os tipos de vegetação exibiram distinta
intensidade de nidificação (F2,81=22,76, p<0,001) independentemente dos meses (F4,81=0,316,
p=0,867, Figura 6). Aproximadamente 59,1% dos ninhos foram construídos na área de
vegetação nativa; 40,2% na transição, e 0,7% no interior do cafezal, correspondendo a apenas
um ninho registrado na armadilha. Dos 14 ninhos construídos pelas abelhas em outubro,
71,4% foram nidificados na vegetação nativa e 28,6% na área de transição. Em novembro,
dos 22 ninhos construídos pelas abelhas, 63,6% foram nidificados na vegetação nativa e
36,4% na área de transição. E, em janeiro, dos 96 ninhos construídos pelas abelhas, 56,3%
foram nidificados na vegetação nativa, 42,7% na área de transição e cerca de 1% foi
nidificado no interior do cafezal.
52
Figura 6: Ninhos construídos por abelhas solitárias no interior do cafezal, na área de transição e na vegetação
nativa em plantio de café nos meses de outubro, novembro e janeiro em Diamantina, Minas Gerais, Brasil.
A composição dos tipos polínicos encontrados nos ninhos construídos pelas abelhas
diferiu entre os tipos de vegetação (F2,125=1,68, p=0,03) e na interação entre os tipos de
vegetação e o mês de coleta (F2,125=1,68, p=0,02). Foram coletados pelas abelhas que
nidificaram na área de transição, um total de 27 tipos polínicos, 26 na vegetação nativa e
apenas um tipo polínico foi coletado para a construção do único ninho construído no interior
do cafezal. Em outubro e novembro, a composição polínica diferiu entre a vegetação nativa e
a área de transição (p=0,05; p=0,02; respectivamente). E, em janeiro, a composição polínica
diferiu entre a vegetação nativa e o interior do cafezal, que contou com apenas um ninho
(p=0.02) e entre a área de transição e interior do cafezal (p=0,02), e não apresentou diferenças
entre a vegetação nativa e a área de transição (p=0,67).
Dos 132 ninhos encontrados, 54% (71 ninhos) continham grãos de pólen de café,
com proporções variando entre 0,5 a 51%. Dos 14 ninhos encontrados em outubro, 4 ninhos
oriundos da vegetação nativa, continham grãos de pólen de café, com proporções variando
entre 0,5 e 12,5%. Dos 22 ninhos nidificados em novembro, 14 continham grãos de pólen de
café, sete na vegetação nativa, com proporções variando entre 0,5 a 14%; e 7 na área de
transição, com proporções variando entre 6,5 a 51%. Dos 96 ninhos nidificados em janeiro, 53
53
continham grãos de pólen de café, 27 na vegetação nativa, com proporções variando entre 0,5
e 47%; e 26 na área de transição, com proporções variando entre 1 a 48,5%.
Ainda, dos 132 ninhos encontrados, em 50 destes foi possível identificar os gêneros
das abelhas que nidificaram. Destes, 31 foram nidificados por Tetrapedia sp., 17 por Centris
sp., um por Megachile sp., e um teve indivíduos de Centris sp. e Megachile sp. A composição
das dietas, baseada nos grãos de pólen coletados, foi diferente entre os gêneros Tetrapedia e
Centris (F3,37=1,75, p<0,001). Destes 50 ninhos com identificações das abelhas que os
nidificaram, 24 continham grãos de pólen de café, sendo 13 nidificados por Tetrapedia, 10
por Centris e 1 por Centris/Megachile.
3.2. Floração e frutificação
O número de abelhas, ou seja, todas as que visitaram as flores de café, foi cinco
vezes maior na borda (18,25±13,9) (F1,15=19,25, p<0,001) do que no interior do cafezal
(2,44±2,3) (Figura 7).
O número de frutos produzidos foi maior na polinização natural do que na autogamia
tanto no interior do cafezal, quanto na borda (χ²=35,63, gl=1 p<0,0001, Figura 8A). No
interior do cafezal, os botões florais submetidos à polinização natural frutificaram 50% mais
que os resultantes de exclusão (P<0,001, Figura 8A). Na borda, os padrões foram parecidos,
os botões florais submetidos à polinização natural frutificaram 122% mais que os botões
florais isolados (p<0,001, Figura 8A).
Quanto à massa dos frutos, obtivemos diferença quanto à região amostrada (interior
do cafezal e a borda) (F1,3575=40,80, p<0,001) e ainda na interação entre os tratamentos e o
local (F1,3575=12,80, p<0,0001). No interior do cafezal, a massa dos frutos foi semelhante entre
os tratamentos de autogamia (0,43±0,14g) e de polinização natural (0,43±0,13g). Já na borda,
a massa dos frutos resultantes da polinização natural (0,44±0,97g) foi em média 16% maior
que a dos frutos produzidos por autogamia (0,38±0,15g) (p<0,001, Figura 8B).
Quanto ao comprimento dos frutos, os frutos do interior do cafezal foram cerca de
8% maiores que os da borda (F1,3575=95,5487, p<0,001), e ainda, os submetidos ao processo
de autogamia resultaram em frutos 1% mais compridos que os referentes à polinização natural
(F1,3575=10,7591, p<0,001, Figura 8C). No interior do cafezal, o comprimento dos frutos
produzidos a partir de autogamia foi 2% maior (p<0,001) que o comprimento dos frutos
produzidos a partir da polinização natural, medindo, em média, 12,4±6,15 e 12,2±1,05mm,
54
respectivamente. Na borda, observamos o mesmo padrão, onde o comprimento dos frutos
produzidos a partir de botões florais submetidos ao processo de autogamia foi cerca de 3%
maior (p<0,001) que quando comparados aos submetidos à polinização natural, medindo, em
média, 11,53±1,43 e 11,21±1,41mm, respectivamente.
Já o número de sementes por fruto não foi diferente entre o interior e a borda do
cafezal (F1,3575=1,31, p=0,25), nem entre os tratamentos (autogamia e polinização natural)
(F1,3575=0,1040, p=0,75) e não exibiu diferenças de acordo com a interação entre esses fatores
(F1,3575=2,79, p=0,094).
Quanto aos resultados de densidade dos frutos produzidos, a interação entre os
tratamentos e as regiões em que os tratamentos foram realizados apresentou diferença
(F1,3575=77,2284, p<0,001). Na transição os frutos foram em média 16% mais densos
(F1,3575=4,79, p=0,02) que os frutos produzidos no interior do cafezal, e a densidade dos frutos
resultantes do processo de polinização natural foi cerca de 17% mais densos (F1,3575=8,46,
p=0,003) que os resultantes de autogamia. No interior do cafezal, os frutos produzidos por
polinização natural foram mais densos que os resultantes da autogamia (p<0,001). Na borda,
obtivemos o mesmo padrão, onde os frutos produzidos a partir de botões florais submetidos à
polinização natural foram mais densos que os oriundos da autogamia (p<0,001, Figura 8D).
55
Figura 7: Número médio de visitas de abelhas durante 10 minutos às flores de café dos galhos marcados e não
ensacados, no interior do cafezal e na borda em plantio de café em Diamantina, Minas Gerais, Brasil.
Figura 8: Produção (A), Massa (B), Comprimento (C) e Densidade (D) dos frutos resultantes dos tratamentos de
autogamia e polinização natural no interior do café (em preto) e na borda do cafezal (em cinza) (letras diferentes
correspondem a diferenças significativas).
4. DISCUSSÃO
A maior taxa de visitação de abelhas verificada na borda do cafezal coincidiu com a
maior taxa de frutificação natural em um cultivo de café em Diamantina – MG. Esse resultado
reforça o papel da polinização natural na produtividade do café (Klein et al. 2003a; Ricketts
56
2004; Malerbo-Souza and Halak 2012; Hipólito et al. 2018). Conforme esperado, o
tratamento de autogamia não apresentou diferença entre a frutificação da borda e interior do
cafezal. Com relação a produtividade, os frutos da borda foram menores, porém com a mesma
massa e, portanto, muito mais densos que os frutos produzidos no interior do cafezal. Embora
as abelhas praticamente não nidificaram no interior do cafezal, elas utilizaram amplamente o
café como fonte de pólen, o que demonstra que há uma grande movimentação desses animais
entre o entorno e o cafezal.
Com relação aos dois principais gêneros que nidificaram nos ninhos armadilha
apresentados, as abelhas do gênero Tetrapedia, exclusivamente solitárias, pertencem à tribo
Tetrapediini e são restritas às regiões Neotropicais (Michener, 2007; Silveira et al., 2002).
Estas abelhas são generalistas, mas apresentam preferências por algumas famílias botânicas,
como Euphorbiaceae, Onagraceae, Asteraceae, Clusiaceae (Alves-Dos-Santos et al. 2002;
Neves et al. 2014). Quanto às abelhas do gênero Centris também são exclusivamente
solitárias, ocorrem principalmente na América Tropical, com alguns grupos ocorrendo em
regiões subtropicais e temperadas (Michener 2007). Estas abelhas também são generalistas,
apresentando preferências por algumas famílias botânicas como Malpighiaceae e Myrtaceae
(Rego et al. 2006; Dórea et al. 2009). As espécies de abelhas pertencentes a estes dois gêneros
construíram seus ninhos com composição polínica distinta, entretanto, abelhas de ambos os
gêneros coletaram grãos de pólen de café de forma que estas abelhas usufruem da floração em
massa do café, mesmo com padrões de coleta diferentes.
Como esperávamos, as flores de café na borda, entre a vegetação nativa e o interior
do cafezal foram mais visitadas por abelhas que as flores de café do interior do cafezal, esse
padrão de visitas corrobora com o encontrado em outros trabalhos (Ricketts 2004; Öckinger
and Smith 2007; Priess et al. 2007) e evidencia a importância de vegetação nativa de Campo
Rupestre adjacente a cultivos agrícolas de café a fim de aumentar disponibilidade de
polinizadores neste cultivo. As flores de café mais visitadas produziram maior quantidade de
frutos neste, como em outros trabalhos (De Marco e Coelho, 2004; Meireles, 2019; Klein et
al., 2003; Roubik, 2002). Essa relação positiva entre visitas de abelhas e produção de frutos
fica ainda mais evidente quando comparamos com os botões florais submetidos ao mesmo
tratamento no interior do cafezal, onde as visitas de abelhas foram menos frequentes, gerando
assim, menor quantidade de frutos produzidos. Desta forma, mesmo que tenham sido
produzidos frutos menores, a ausência de diferença quanto a massa dos frutos e a maior
57
densidade dos mesmos na borda sinalizam para um ganho real de produtividade com a
presença de polinizadores nativos.
Esperávamos que os frutos autogâmicos apresentassem massas equivalentes tanto no
interior do cafezal quanto na área de transição já que ambos estavam submetidos ao mesmo
tratamento. Entretanto, as condições ambientais no interior do cafezal e na área de transição
apresentam diferenças, sendo o interior do cafezal mais homogêneo, enquanto que a área de
transição recebe maior insolação durante todo o dia resultando numa diminuição da umidade
do solo, refletindo diretamente na massa unitária dos grãos (Camargo e Franco, 1985a;
DaMatta e Ramalho, 2006; Silva et al., 2014). A alta insolação nesta área, ocasiona maior
aceleração no desenvolvimento e maturação dos frutos, acarretando em frutos menores
(Meireles, 2009). Além disso, como no interior do cafezal há uma produção de frutos
efetivamente menor, haverá uma maior disponibilidade de recursos maternos para alocação
em cada uma das sementes produzidas.
A densidade dos frutos é umas das características utilizadas para avaliar a qualidade
dos grãos do café (Illi e Viani, 2005), e estes são separados na fase de lavagem, em que os
frutos mais densos afundam, enquanto os de menor densidade boiam sendo então
considerados “chochos” e com a qualidade comprometida. Os frutos que apresentam menor
densidade são secos separadamente a fim de avaliar a sua qualidade, já os frutos densos
formam lotes homogêneos de grãos de café e podem ser submetidos ao mesmo processo de
secagem (Faganello, 2006; Mesquita et al.,2016). Obtivemos frutos mais densos quando
submetidos a polinização realizada por abelhas, diante de tal resultado, podemos inferir que
além de aumento da produtividade, as abelhas são capazes de fornecer tal serviço
ecossistêmico gerando frutos de café mais densos, o que resulta em uma qualidade superior.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos que, i) mesmo o cafezal não propiciando condições para as abelhas
residirem, elas visitam as flores deste cultivo; ii) há maior taxa de frutificação em flores
visitadas por abelhas que flores excluídas de polinizadores; iii) flores visitadas por abelhas
(transição) tendem a produzir frutos mais pesados, menores e mais densos que flores
autopolinizadas e, iv) são necessárias estratégias a fim de fornecer condições às abelhas em
residirem no interior do cafezal.
58
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Aguiar, C.M.L., Garófalo, C.A., 2004. Nesting biology of Centris (Hemisiella) tarsata Smith
(Hymenoptera, Apidae, Centridini). Revista Brasileira de Zoologia 21, 477–486.
https://doi.org/10.1590/S0101-81752004000300009
Alves-Dos-Santos, I., Melo, G.A.R., Rozen, J.G., 2002. Biology and Immature Stages of the
Bee Tribe Tetrapediini (Hymenoptera: Apidae). American Museum Novitates 3377,
1–45. https://doi.org/10.1206/0003-0082(2002)377<0001:BAISOT>2.0.CO;2
Batra S. W. 1984. Solitary bees, Scientific American, v. 250, n. 2, 86-93.
Benjamin E., F., R. Reilly, J., Winfree, R., 2014. Pollinator body size mediates the scale at
which land use drives crop pollination services. Journal of Applied Ecology 51, 440–
449. https://doi.org/10.1111/1365-2664.12198
Blaauw, B.R., Isaacs, R., 2014. Flower plantings increase wild bee abundance and the
pollination services provided to a pollination-dependent crop. Journal of Applied
Ecology 51, 890–898. https://doi.org/10.1111/1365-2664.12257
Brosi, B.J., Daily, G.C., Shih, T.M., Oviedo, F., Durán, G., 2007. The effects of forest
fragmentation on bee communities in tropical countryside: Bee communities and
tropical forest fragmentation. Journal of Applied Ecology 45, 773–783.
https://doi.org/10.1111/j.1365-2664.2007.01412.x
Buchmann S. L., 1987. The ecology of oil flowers and their bees, Ann. Rev. Ecol. Syst. 18,
343-369
Cane J. H. & Sipes S. 2006. Characterizing floral specialization by bees: analytical methods
and a revised lexicon for oligolecty. Pp. 99-122. In: Waser, N.M. & Ollerton, J.
(eds.). Plant-pollinator interactions: from specialization to generalization. Chicago,
Te University of Chicago Press, 445pp.
CAMARGO, A.P.; FRANCO, C.F., 1985ª. Clima e fenologia do cafeeiro. In: Cultura de café
no Brasil: manual de recomendações. 5.ed. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro do
Café, Ministério da Indústria e Comércio, p.19-50.
Carvalheiro, L.G., Seymour, C.L., Veldtman, R., Nicolson, S.W., 2010. Pollination services
decline with distance from natural habitat even in biodiversity-rich areas: Sub-tropics
crop pollination limitation. Journal of Applied Ecology 47, 810–820.
https://doi.org/10.1111/j.1365-2664.2010.01829.x
DaMatta, F.M., Ramalho, J.D.C., 2006. Impacts of drought and temperature stress on coffee
physiology and production: a review. Brazilian Journal of Plant Physiology 18, 55–
81. https://doi.org/10.1590/S1677-04202006000100006
59
De Marco, P., Coelho, F.M., 2004. Services performed by the ecosystem: forest remnants
influence agricultural cultures’ pollination and production. Biodiversity and
Conservation 13, 1245–1255. https://doi.org/10.1023/B:BIOC.0000019402.51193.e8
Dicks, L.V., Viana, B., Bommarco, R., Brosi, B., Arizmendi, M. del C., Cunningham, S.A.,
Galetto, L., Hill, R., Lopes, A.V., Pires, C., Taki, H., Potts, S.G., 2016. Ten policies
for pollinators. Science 354, 975–976. https://doi.org/10.1126/science.aai9226
Dórea, M. da C., Santos, F. de A.R. dos, Lima, L.C. de L.E., Figueroa, L.E.R., 2009. Análise
polínica do resíduo pós-emergência de ninhos de Centris tarsata Smith
(Hymenoptera: Apidae, Centridini). Neotropical Entomology 38, 197–202.
https://doi.org/10.1590/S1519-566X2009000200005
Erdtman G., 1960 The acetolysis method in a revised description, Sven. Bot. Tidskr. 54, 561-
564
Faganello LR, 2006. Fatores que influenciam a Qualidade do Café no Paraná. In: Premia
Extensão Rural, Santa Terezinha de Itaipu pp. 1- 41.
Fox, J., Weisberg, author. ), Sanford, 2011. An R companion to applied regression, 2nd
edition. ed. Thousand Oaks, Calif. : SAGE Publications.
Freitas, B.M., Pereira, J.O.P., 2004. Solitary bees: conservation, rearing and management for
pollination. Imprensa Universitária, Fortaleza, CE.
Garibaldi, L.A., Carvalheiro, L.G., Leonhardt, S.D., Aizen, M.A., Blaauw, B.R., Isaacs, R.,
Kuhlmann, M., Kleijn, D., Klein, A.M., Kremen, C., Morandin, L., Scheper, J.,
Winfree, R., 2014. From research to action: enhancing crop yield through wild
pollinators. Frontiers in Ecology and the Environment 12, 439–447.
https://doi.org/10.1890/130330
Garibaldi, L.A., Steffan-Dewenter, I., Kremen, C., Morales, J.M., Bommarco, R.,
Cunningham, S.A., Carvalheiro, L.G., Chacoff, N.P., Dudenhöffer, J.H., Greenleaf,
S.S., Holzschuh, A., Isaacs, R., Krewenka, K., Mandelik, Y., Mayfield, M.M.,
Morandin, L.A., Potts, S.G., Ricketts, T.H., Szentgyörgyi, H., Viana, B.F., Westphal,
C., Winfree, R., Klein, A.M., 2011. Stability of pollination services decreases with
isolation from natural areas despite honey bee visits: Habitat isolation and pollination
stability. Ecology Letters 14, 1062–1072. https://doi.org/10.1111/j.1461-
0248.2011.01669.x
Garibaldi, L.A., Steffan-Dewenter, I., Winfree, R., Aizen, M.A., Bommarco, R., Cunningham,
S.A., Kremen, C., Carvalheiro, L.G., Harder, L.D., Afik, O., Bartomeus, I.,
Benjamin, F., Boreux, V., Cariveau, D., Chacoff, N.P., Dudenhöffer, J.H., Freitas,
B.M., Ghazoul, J., Greenleaf, S., Hipólito, J., Holzschuh, A., Howlett, B., Isaacs, R.,
Javorek, S.K., Kennedy, C.M., Krewenka, K.M., Krishnan, S., Mandelik, Y.,
Mayfield, M.M., Motzke, I., Munyuli, T., Nault, B.A., Otieno, M., Petersen, J.,
60
Pisanty, G., Potts, S.G., Rader, R., Ricketts, T.H., Rundlöf, M., Seymour, C.L.,
Schüepp, C., Szentgyörgyi, H., Taki, H., Tscharntke, T., Vergara, C.H., Viana, B.F.,
Wanger, T.C., Westphal, C., Williams, N., Klein, A.M., 2013. Wild Pollinators
Enhance Fruit Set of Crops Regardless of Honey Bee Abundance. Science 339,
1608–1611. https://doi.org/10.1126/science.1230200
Hervé M, 2018. RVAideMemoire: Testing and Plotting Procedures for Biostatistics. R package version 0.9-
70.https://CRAN.R-project.org/package=RVAideMemoire
Hipólito, J., Boscolo, D., Viana, B.F., 2018. Landscape and crop management strategies to
conserve pollination services and increase yields in tropical coffee farms.
Agriculture, Ecosystems & Environment 256, 218–225.
https://doi.org/10.1016/j.agee.2017.09.038
Illy, A., Viani, R., 2005. Espresso coffee : the science of quality. Elsevier Academic
Junqueira, C.N., Hogendoorn, K., Augusto, S.C., 2012. The Use of Trap-Nests to Manage
Carpenter Bees (Hymenoptera: Apidae: Xylocopini), Pollinators of Passion Fruit
(Passifloraceae: Passiflora edulis f. flavicarpa). Annals of the
Entomological Society of America 105, 884–889. https://doi.org/10.1603/AN12061
Junqueira, C.N., Yamamoto, M., Oliveira, P.E., Hogendoorn, K., Augusto, S.C., 2013. Nest
management increases pollinator density in passion fruit orchards. Apidologie 44,
729–737. https://doi.org/10.1007/s13592-013-0219-4
Klein, A., Steffan–Dewenter, I., Tscharntke, T., 2003. Fruit set of highland coffee increases
with the diversity of pollinating bees. Proceedings of the Royal Society of London.
Series B: Biological Sciences 270, 955–961. https://doi.org/10.1098/rspb.2002.2306
Klein, A.-M., Steffan-Dewenter, I., Tscharntke, T., 2003. Pollination of Coffea canephora in
relation to local and regional agroforestry management: Pollination of lowland
coffee. Journal of Applied Ecology 40, 837–845. https://doi.org/10.1046/j.1365-
2664.2003.00847.x
Klein, A.-M., Vaissière, B.E., Cane, J.H., Steffan-Dewenter, I., Cunningham, S.A., Kremen,
C., Tscharntke, T., 2007. Importance of pollinators in changing landscapes for world
crops. Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences 274, 303–313.
https://doi.org/10.1098/rspb.2006.3721
Kraus J. E.; Arduin M., 1997. Manual básico de métodos e morfologia vegetal, EDUR, Rio
de Janeiro
Kremen, C., Williams, N.M., Bugg, R.L., Fay, J.P., Thorp, R.W., 2004. The area
requirements of an ecosystem service: crop pollination by native bee communities in
California: Area requirements for pollination services to crops. Ecology Letters 7,
1109–1119. https://doi.org/10.1111/j.1461-0248.2004.00662.x
61
Krishnan, S., Kushalappa, Cheppudira.G., Shaanker, R.U., Ghazoul, J., 2012. Status of
pollinators and their efficiency in coffee fruit set in a fragmented landscape mosaic in
South India. Basic and Applied Ecology 13, 277–285.
https://doi.org/10.1016/j.baae.2012.03.007
Krombein, K.V., 1967. Trap-nesting wasps and bees: life histories, nests, and associates 590.
Linsley E. G., 1958. The ecology of solitary bees, Hilgardia 27 (19): 543- 599.
Malerbo-Souza, D.T., Halak, A.L., 2012. Agentes polinizadores e produção de grãos em
cultura de café arábica cv. “Catuaí Vermelho” 11.
Meireles, D.A.L., 2019. Serviços de polinização em diferentes escalas espaciais: efeitos
quantitativos e qualitativos na produção do café (coffea arabica l.). Tese de
dissertação (UFU).
Meireles, E.J.L., 2009. Fenologia do Cafeeiro: Condições Agrometeorológicas e Balanço
Hídrico do Ano Agrícola 2004–2005 130.
Mesquita, C. M. et al., 2016. Manual do café: colheita e preparo (Coffea arábica L.). Belo
Horizonte: EMATER-MG, 52 p. il.
Michener, C.D., 2007. The bees of the world, 2nd ed. ed. Johns Hopkins University Press,
Baltimore.
Morandin, L.A., Winston, M.L., Abbott, V.A., Franklin, M.T., 2007. Can pastureland increase
wild bee abundance in agriculturally intense areas? Basic and Applied Ecology 8,
117–124. https://doi.org/10.1016/j.baae.2006.06.003
Neves, C.M.D.L., Carvalho, C.A.L.D., Machado, C.S., Aguiar, C.M.L., Sousa, F.S.D.M.,
2014. Pollen consumed by the solitary bee Tetrapedia diversipes (Apidae:
Tetrapediini) in a tropical agroecosystem. Grana 53, 302–308.
https://doi.org/10.1080/00173134.2014.931455
Öckinger, E., Smith, H.G., 2007. Semi-Natural Grasslands as Population Sources for
Pollinating Insects in Agricultural Landscapes. Journal of Applied Ecology 44, 50–
59.
Oksanen JF, Blanchet G, Friendly M, Kindt R, Legendre P, McGlinn D, Peter R. Minchin R, O'Hara B, Gavin L,
Simpson PS, Henry MH, Stevens ES, Wagner H, 2018. Vegan: Community Ecology Package. R
package version 2.5-3. https://CRAN.R-project.org/package=vegan
Pinheiro M., Gaglianone M. C., Nunes C. E. P., Sigrist M. R., Alves-dos-Santos, I., 2014.
Polinização por abelhas, in: Rech A. R., Agostini K., Oliveira P. E., Machado I. C.,
Biologia da polinização, Ed. Projeto Cultural, Rio de Janeiro, pp.205-233
62
Priess, J.A., Mimler, M., Klein, A.M., Schwarze, S., Tscharntke, T., Steffan-Dewenter, I.,
2007. Linking deforestation scenarios to pollination services and economic returns in
coffee agroforestry systems. Ecol Appl 17, 407–417.
Pywell, R.F., Heard, M.S., Woodcock, B.A., Hinsley, S., Ridding, L., Nowakowski, M.,
Bullock, J.M., 2015. Wildlife-friendly farming increases crop yield: evidence for
ecological intensification. Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences
282, 20151740. https://doi.org/10.1098/rspb.2015.1740
Rech, A.R., Lúcia Absy, M., 2011. Pollen sources used by species of Meliponini
(Hymenoptera: Apidae) along the Rio Negro channel in Amazonas, Brazil. Grana 50,
150–161. https://doi.org/10.1080/00173134.2011.579621
Rego, M.M.C., Albuquerque, P.M.C., Ramos, M.C., Carreira, L.M., 2006. Aspectos da
biologia de nidificação de Centris flavifrons (Friese) (Hymenoptera: Apidae,
Centridini), um dos principais polinizadores do murici (Byrsonima crassifolia L.
Kunth, Malpighiaceae), no Maranhão. Neotropical Entomology 35, 579–587.
https://doi.org/10.1590/S1519-566X2006000500003
Ricketts, T.H., 2004. Tropical Forest Fragments Enhance Pollinator Activity in Nearby
Coffee Crops. Conservation Biology 18, 1262–1271. https://doi.org/10.1111/j.1523-
1739.2004.00227.x
Ricketts, T.H., Daily, G.C., Ehrlich, P.R., Michener, C.D., 2004. Economic value of tropical
forest to coffee production. Proceedings of the National Academy of Sciences 101,
12579–12582. https://doi.org/10.1073/pnas.0405147101
Ricketts, T.H., Regetz, J., Steffan-Dewenter, I., Cunningham, S.A., Kremen, C., Bogdanski,
A., Gemmill-Herren, B., Greenleaf, S.S., Klein, A.M., Mayfield, M.M., Morandin,
L.A., Ochieng’, A., Viana, B.F., 2008. Landscape effects on crop pollination
services: are there general patterns? Ecology Letters 11, 499–515.
https://doi.org/10.1111/j.1461-0248.2008.01157.x
Roubik, D.W., 2002. The value of bees to the coffee harvest. Nature 417, 708–708.
https://doi.org/10.1038/417708a
Silva, S. de A., Queiroz, D.M. de, Pinto, F. de A. de C., Santos, N.T., 2014. Characterization
and delimitation of the terroir coffee in plantations in the municipal district of
Araponga, Minas Gerais, Brazil. Revista Ciência Agronômica 45, 18–26.
https://doi.org/10.1590/S1806-66902014000100003
Silveira, F.A., Almeida, E.A.B., Melo, G.A.R., 2002. Abelhas brasileiras: sistemática e
identificação. Silveira, Belo Horizonte.
Wolowski, M., Agostini, K., Rech, A.R., Varassin, I.G., Maués, M., Freitas, L., Carneiro,
L.T., Bueno, R. de O., Consolaro, H., Carvalheiro, L., Saraiva, A.M., Silva, C.I. da,
63
2019. Relatório temático sobre polinização, polinizadores e produção de alimentos
no Brasil. Editora Cubo, São Carlos. https://doi.org/10.4322/978-85-60064-83-0
Yamamoto, M., da Silva, C.I., Augusto, S.C., Barbosa, A.A.A., Oliveira, P.E., 2012. The role
of bee diversity in pollination and fruit set of yellow passion fruit (Passiflora edulis
forma flavicarpa, Passifloraceae) crop in Central Brazil. Apidologie 43, 515–526.
https://doi.org/10.1007/s13592-012-0120-6
Zar, J.H., 2010. Biostatistical analysis, 5th ed. ed. Prentice-Hall/Pearson, Upper Saddle River,
N.J.
64
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos que i) o interior do cafezal não proporciona condições para as abelhas
forragearem e/ou nidificarem em períodos sem floração, nem mesmo nidificarem nesta região
durante a floração, entretanto, as abelhas utilizam o pólen de café como recurso; ii) a área de
transição possui maior riqueza e abundância de abelhas forrageando, entretanto, a maior parte
destas abelhas optam por nidificar na área de vegetação nativa; iii) flores que são visitadas por
abelhas apresentam maior taxa de frutificação, sendo estes frutos mais pesados, menores e
mais densos. Por fim, o Campo Rupestre proporciona condições favoráveis para a
manutenção de uma grande diversidade de abelhas, e este, adjacente ao cultivo de café, age
como um reservatório de polinizadores aptos a polinizar essa cultura quando florida.