UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI Programa de Pós-Graduação em Ciência Florestal Thalyta Fernandes Godinho PRÉ-MELHORAMENTO DE Eremanthus incanus: GERMINAÇÃO, TESTE DE PROGÊNIES EM FASE JUVENIL E DIVERGÊNCIA GENÉTICA POR MEIO DE MARCADORES MOLECULARES Diamantina, MG 2019 Thalyta Fernandes Godinho PRÉ-MELHORAMENTO DE Eremanthus incanus: GERMINAÇÃO, TESTE DE PROGÊNIES EM FASE JUVENIL E DIVERGÊNCIA GENÉTICA POR MEIO DE MARCADORES MOLECULARES Tese apresentada ao programa de Pós-Graduação em Ciência Florestal da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, como requisito para obtenção do título de Doutora. Orientadora: Profa. Dra. Miranda Titon Coorientador: Prof. Dr. Marcelo Luiz de Laia Diamantina, MG 2019 Elaborado com os dados fornecidos pelo(a) autor(a). G585p Godinho, Thalyta Fernandes Pré-melhoramento de Eremanthus incanus: germinação, teste de progênies em fase juvenil e divergência genética por meio de marcadores moleculares / Thalyta Fernandes Godinho, 2019. 97 p. : il. Orientadora: Miranda Titon Coorientador: Marcelo Luiz de Laia Tese (Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Ciência Florestal) - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, 2019. 1. Ganho de seleção. 2. Variabilidade genética. 3. Espécie nativa. I. Titon, Miranda. II. Laia, Marcelo Luiz de. III. Título IV. Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. CDD 634.9 Ficha Catalográfica – Serviço de Bibliotecas/UFVJM Bibliotecária Nádia Santos Barbosa – CRB6/3468 Dedico este trabalho aos meus pais Eustáquio e Nályd, ao meu irmão Neto e ao meu marido Samuel. Sem vocês nenhuma conquista valeria a pena. AGRADECIMENTOS Gratidão é a palavra que resume esses quatro anos de trabalho. Foram desafios diários que me tornaram mais forte e, sem Deus, nada disso seria possível. Obrigada Senhor pelo dom da vida e saúde, por me dar sabedoria e por se fazer presente em todos os minutos da minha existência. Aos meus pais, pelo amor incondicional, por sempre acreditarem em mim, por não medirem esforços para que eu pudesse alcançar todos os meus objetivos e por me darem o melhor presente que eu já recebi: meu irmão. Neto, muito obrigada pela amizade, pelo apoio, companheirismo e pela fraternidade. Vocês são os melhores que alguém pode ter. Muito obrigada, de coração! Eu amo vocês, infinitamente! Ao Samuel, por aceitar ser a pessoa que eu escolhi para caminhar ao meu lado, por toda a vida. Obrigada por me fazer tão feliz e por ser um grande incentivador de todos os meus sonhos. Meu melhor amigo e meu grande amor, obrigada pela nossa família e por encher a minha vida de encanto e alegria com a sua música. Você me completa, em todos os sentidos. Te amo! E também à Brisa, nossa estrelinha! À minha família, pelo apoio, por tantos momentos de alegria e por serem minhas raízes, meu porto seguro. Aos amigos, por tornarem a caminhada mais leve. Aos de longe, aos de perto, aos de infância e aos que fiz ao longo desse caminho, obrigada! Aos colegas do DEF pela convivência diária e pela ajuda na rotina dos laboratórios, dividindo as dificuldades e experiências que construíram esse trabalho. Aos mestres, por me inspirarem e por fazerem parte da construção do meu perfil profissional. Em especial à professora Miranda e ao professor Marcelo, pela orientação e por me acolherem tão bem em suas vidas. Aos membros da banca, por disponibilizarem o seu tempo e conhecimento na lapidação desse estudo. Todo respeito e consideração a vocês. À UFVJM, por ter sido a minha casa desde 2006. Lavarei o seu nome, com muito orgulho, por onde for! Aos professores da pós-graduação em Ciência Florestal por todo o conhecimento e aprendizado. Aos funcionários e demais professores do DEF pelo auxílio sempre que precisei. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001. Alegria compartilhada é alegria em dobro. Vocês fazem parte dessa alegria. RESUMO A candeia (Eremanthus incanus) é uma espécie arbórea brasileira, da família Asteraceae, per- tencente ao grupo ecológico das pioneiras. Sua madeira é resistente a pragas e doenças, sendo bastante utilizada na produção de moirões e estacas, servindo como fonte alternativa de renda para os proprietários rurais de suas regiões de ocorrência. Por esse motivo, tem ocorrido aumento na exploração dessa espécie e, consequentemente, na demanda de sementes para produção de mudas e na seleção de genótipos com melhor desempenho em relação ao crescimento, desenvol- vimento e adaptabilidade. O objetivo geral desse trabalho foi iniciar os estudos de caracterização fenotípica e genética de matrizes selecionadas de uma população de candeia. Para isto, no se- gundo capítulo avaliou-se a germinação das sementes dessas matrizes em ambiente de laboratório, em dois anos de instalação do experimento. Conclui-se que as matrizes avaliadas no segundo ano obtiveram percentuais de germinação maiores do que as matrizes avaliadas no primeiro ano. No terceiro capítulo foi avaliada a germinação das sementes em condições de viveiro, concluindo que a matriz 192 obteve melhor desempenho do que as demais em todas as características avaliadas. No quarto capítulo avaliou-se a variabilidade genética para os caracteres de altura e diâmetro de mudas em fase juvenil em condições de viveiro e concluiu-se que as matrizes apresentaram alta variabilidade genética, favorecendo a seleção. O quinto capítulo analisou-se a diversidade genética de dez matrizes selecionadas, utilizando marcadores moleculares microssatélites. Ao final, as matrizes foram agrupadas em grupos de similaridade e concluiu-se que dados obtidos podem ser utilizados no programa de melhoramento genético da candeia, para o estabelecimento e avaliação de testes de progênies, com finalidade de produção ou conservação. Palavras-chave: Ganho de Seleção, Variabilidade Genética, Espécie Nativa. ABSTRACT Candeia (Eremanthus incanus) is a Brazilian tree species from the Asteraceae family, belonging to the pioneer ecological group. Its wood is resistant to pests and diseases, being widely used in the production of pickets and stakes, serving as an alternative source of income for the rural owners of their regions. For this reason, there has been an increase in the exploitation of this species and, consequently, in seed demand for seedling production and selection of genotypes with better performance in relation to growth, development and adaptability. The general objective of this work was to initiate the phenotypic and genetic characterization studies of selected matrices from a candeia population. For this, the second chapter evaluated the seed germination of these matrices in laboratory environment, in two years of installation of the experiment. It was concluded that the matrices evaluated in the second year had higher germination percentages than the matrices evaluated in the first year. In the third chapter, seed germination was evaluated under nursery conditions, concluding that the matrix 192 had better performance than the others in all evaluated characteristics. The fourth chapter evaluated the genetic variability for the height and diameter characters of seedlings in juvenile phase under nursery conditions and concluded that the matrices presented high genetic variability, favoring the selection. The fifth chapter analyzed the genetic diversity of ten selected matrices using microsatellite molecular markers. In the end, the matrices were grouped in similarity groups and it was concluded that the obtained data can be used in the candeia genetic breeding program, for the establishment and evaluation of progeny tests for production or conservation purposes. Keywords: Selection Gain, Genetic Variability, Native Species. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Distribuição espacial das matrizes selecionadas de E. incanus, localiza- das na UFVJM (Campus JK), no município de Diamantina/MG. . . . . 27 Figura 2 – Etapas do beneficiamento e dos experimentos com sementes de E. inca- nus, coletadas em área localizada na UFVJM (Campus JK), no municí- pio de Diamantina/MG. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 Figura 3 – Percentual de germinação de sementes de matrizes deE. incanus, no ano 1, coletadas em área localizada na UFVJM (Campus JK), no município de Diamantina/MG. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 Figura 4 – Percentual de germinação de sementes de matrizes deE. incanus, no ano 2, coletadas em área localizada na UFVJM (Campus JK), no município de Diamantina/MG. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 Figura 5 – Número de matrizes por classes de percentual de germinação de semen- tes de E. incanus, coletadas em área localizada na UFVJM (Campus JK), no município de Diamantina/MG, nos anos 1 (A) e 2 (B). . . . . . . 31 Figura 6 – Distribuição espacial das matrizes de E. incanus, localizadas na UFVJM (Campus JK), no município de Diamantina/MG. . . . . . . . . . . . . . 46 Figura 7 – Etapas do beneficiamento e dos experimentos com sementes de E. inca- nus, coletadas em área localizada na UFVJM (Campus JK), no municí- pio de Diamantina/MG. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 Figura 8 – Diâmetro médio de mudas de E. incanus, aos 90 (A) e 120 (B) dias, advin- das de sementes coletadas em 23 matrizes em área localizada na UFVJM (Campus JK), no município de Diamantina/MG. . . . . . . . . . . . . . 51 Figura 9 – Altura média de mudas deE. incanus, aos 90 (A) e 120 (B) dias, advindas de sementes coletadas em 23 matrizes em área localizada na UFVJM (Campus JK), no município de Diamantina/MG. . . . . . . . . . . . . . 51 Figura 10 – Classes de diâmetro de mudas de E. incanus, aos 90 (A) e 120 (B) dias, advindas de sementes coletadas em 23 matrizes em área localizada na UFVJM (Campus JK), no município de Diamantina/MG. . . . . . . . . 52 Figura 11 – Classes de altura de mudas de E. incanus, aos 90 (A) e 120 (B) dias, advindas de sementes coletadas em 23 matrizes em área localizada na UFVJM (Campus JK), no município de Diamantina/MG. . . . . . . . . 53 Figura 12 – Distribuição espacial das matrizes selecionadas de E. incanus, localiza- das na UFVJM (Campus JK), no município de Diamantina/MG. . . . . 67 Figura 13 – Etapas do beneficiamento e dos experimentos com sementes de E. inca- nus, coletadas em área localizada na UFVJM (Campus JK), no municí- pio de Diamantina/MG. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 Figura 14 – Distribuição espacial das matrizes selecionadas de E. incanus, localiza- das na UFVJM (Campus JK), no município de Diamantina/MG. . . . . 85 Figura 15 – Gel de poliacrilamida da amplificação com marcador molecular micros- satélite Ere 10, do material genético de dez matrizes selecionadas de E. incanus, localizadas na UFVJM (Campus JK), no município de Diaman- tina/MG. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 Figura 16 – Dendrograma de diversidade das dez matrizes selecionadas de E. inca- nus, localizadas na UFVJM (Campus JK), no município de Diamanti- na/MG. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Percentual de germinação das sementes de E. incanus, coletadas de di- ferentes matrizes no município de Diamantina/MG e germinadas em condições de laboratório, nos anos 1 e 2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 Tabela 2 – Vigor das sementes de E. incanus, coletadas de diferentes matrizes no município de Diamantina/MG e germinadas em condições de laborató- rio, nos anos 1 e 2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 Tabela 3 – Índice de Velocidade de Germinação (IVG) das sementes de E. incanus, coletadas de diferentes matrizes no município de Diamantina/MG e ger- minadas em condições de laboratório, nos anos 1 e 2. . . . . . . . . . . . 34 Tabela 4 – Índice de Velocidade de Germinação, Vigor e Percentual de Germina- ção das sementes de E. incanus, coletadas de diferentes matrizes no mu- nicípio de Diamantina/MG, em casa de vegetação. . . . . . . . . . . . . 50 Tabela 5 – Estimativas dos parâmetros genéticos e fenotípicos em progênies de E. incanus para os caracteres diâmetro (mm) e altura (cm), aos 90 e 120 dias. 69 Tabela 6 – Valor aditivo, ganho genético e nova média de diâmetro (mm) e altura (cm) para matrizes de E. incanus, aos 90 e 120 dias. . . . . . . . . . . . . 71 Tabela 7 – Sequência dos oligonucleotídeos, repetições, tamanho esperado do frag- mento e temperatura de anelamento (Ta) para o loco SSR, desenvolvi- dos para E. erythropappus. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 SUMÁRIO 1 APRESENTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 1.1 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2 VARIABILIDADE DA GERMINAÇÃO ENTRE MATRIZES DE CAN- DEIA (Eremanthus incanus) (LESS.) LESS. (ASTERACEAE) EM CON- DIÇÕES DE LABORATÓRIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 2.1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 2.2 MATERIAIS E MÉTODOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 2.2.1 População de trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 2.2.2 Seleção de indivíduos superiores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 2.2.3 Coleta e beneficiamento das sementes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 2.2.4 Avaliação da germinação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 2.2.5 Análise dos dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 2.3 RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 2.4 DISCUSSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 2.5 CONCLUSÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 2.6 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 3 VARIABILIDADE DA GERMINAÇÃO E DO CRESCIMENTO DE MU- DAS ENTRE MATRIZES DE CANDEIA (Eremanthus incanus) (LESS.) LESS. (ASTERACEAE) EM CONDIÇÕES DE VIVEIRO . . . . . . . . 41 3.1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 3.2 MATERIAIS E MÉTODOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 3.2.1 População de trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 3.2.2 Seleção de indivíduos superiores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 3.2.3 Coleta e beneficiamento das sementes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 3.2.4 Teste de germinação e crescimento das mudas . . . . . . . . . . . . . . . . 47 3.2.5 Análise dos dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 3.3 RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 3.4 DISCUSSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 3.5 CONCLUSÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 3.6 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 4 PARÂMETROS GENÉTICOS DE CANDEIA PARA CARACTERES DE CRESCIMENTO INICIAL EM VIVEIRO VIA MODELOS MISTOS 61 4.1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 4.2 MATERIAIS E MÉTODOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 4.2.1 População de trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 4.2.2 Seleção de indivíduos superiores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 4.2.3 Coleta e beneficiamento das sementes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 4.2.4 Instalação do experimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 4.2.5 Análise dos dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 4.3 RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 4.4 DISCUSSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 4.5 CONCLUSÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 4.6 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 5 DIVERSIDADE GENÉTICA DE MATRIZES DE CANDEIA (Eremanthus incanus) (LESS.) LESS. (ASTERACEAE) UTILIZANDO MARCADO- RES MOLECULARES MICROSSATÉLITES . . . . . . . . . . . . . . 79 5.1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 5.2 MATERIAIS E MÉTODOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 5.2.1 População de trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 5.2.2 Seleção e coleta do material vegetal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 5.2.3 Extração do DNA genômico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 5.2.4 Reação da Polimerase em Cadeia - PCR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 5.2.5 Eletroforese dos produtos amplificados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 5.2.6 Análise dos dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 5.3 RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 5.4 DISCUSSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 5.5 CONCLUSÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 5.6 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95 19 1 APRESENTAÇÃO O gênero Eremanthus pertence à família Asteraceae e engloba mais de 15 espécies e, dentre elas está a E. incanus, alvo do presente estudo. De maneira geral, as espécies pertencentes a este grupo possuem usos múltiplos, que vão desde mourões e estacas, por apresentarem alta resistência e durabilidade, até o uso terapêutico, com diversos metabólitos que justificam seu uso medicinal. E. incanus, conhecida popularmente como candeia, é muito comum no estado de Minas Gerais, especialmente no bioma Cerrado. Esta espécie é mais utilizada para a confecção de mourões, uma vez que sua madeira é muito resistente a pragas e doenças e possui menor produtividade do óleo alfabisabolol. Além disso, a espécie possui potencial para recuperação de áreas degradadas, com grande capacidade de regeneração. Dessa forma, a candeia serve de alternativa para geração de renda para as comunida- des que vivem nas regiões de sua ocorrência, a exemplo da região de Diamantina, que possui características abióticas favoráveis ao seu crescimento e uma população que utiliza a espécie como matéria prima para cercas e lenha. Sendo assim, essa utilização pode ocorrer de maneira exploratória e indiscriminada, fazendo-se necessários estudos que objetivam a conservação da espécie e seu uso sustentável. O projeto multidisciplinar que estuda a candeia surgiu como uma demanda da disciplina de Recuperação de Áreas Degradadas do curso de Engenharia Florestal da UFVJM, sob responsabilidade do professor Israel Marinho Pereira, em que foi detectado que os produtores rurais da região de Diamantina possuíam mais de 50% de suas propriedades com áreas degradadas e viam na espécie uma alternativa para a recuperação dessas áreas. Diversos trabalhos envolvendo a candeia já foram desenvolvidos no Departamento de Engenharia Florestal da UFVJM, como pode-se citar Santos (2019), Santos et al. (2017), Miranda et al. (2016), Amaral et al. (2014), Silva (2012), Júnior et al. (2017), Araújo et al. (2018) entre outros. Sendo assim, a ideia deste trabalho surgiu com o interesse em se iniciar um programa de melhoramento e conservação genética para a candeia, buscando obter informações sobre a variabilidade para os caracteres de germinação de sementes e crescimento inicial de mudas por meio de testes de progênies, uma vez que tais informações podem subsidiar um manejo mais adequado para a espécie, permitindo sua manutenção e seu uso racional. O segundo capítulo aborda a germinação das sementes de matrizes selecionadas em condições de laboratório e o terceiro capítulo apresenta o comportamento da emergência das sementes em condições de viveiro. O quarto capítulo reúne informações dos parâmetros genéticos para caracteres de diâmetro e altura de mudas e, finalmente, no quinto capítulo, analisou-se a diversidade genética de matrizes selecionadas por meio de marcadores moleculares microssatélites. 20 Referências Amaral, C. S., de Barros Silva, E., Pereira, I. M., Nardis, B. O. and Gonçalves, N. H. (2014). Crescimento da candeia pela adubação mineral e orgânica em rejeito da mineração de quartzito, Floresta 44(3): 421–430. Araújo, F. V., Silva, E. d. B., Silva, A. C., Barbosa, M. S., Nardis, B. O. and Pereira, I. M. (2018). Initial grouwth of Eremanthus incanus (less.) in soil with manganese., Floram 25(1). Júnior, M. S., Machado, E. L. M., Pereira, I. M. and Mota, S. d. L. L. (2017). Distribuição espacial de Eremanthus incanus (less.) less.(asteraceae) em duas áreas com diferentes níveis de conservação, Revista Brasileira de Biociências 15(1). Miranda, N. A., Titon, M., Pereira, I. M., Fernandes, J. S. C., Gonçalves, J. F. and Rocha, F. M. (2016). Meio de cultura, reguladores de crescimento e formas de vedação de tubos de ensaio na multiplicação in vitro de candeia (Eremanthus incanus less.), Scientia Forestalis 44(112): 1009–1018. Santos, L. G. (2019). Modelagem do crescimento de Eremanthus incanus (less.) less. Santos, L., Oliveira, M., Nogueira, G., Pereira, I. and Silva, M. (2017). Idade relativa e tempo de passagem para Eremanthus incanus (Less.) Less em uma área de recuperação no município de Diamantina, MG., Floresta e Ambiente 24. Silva, N. F. (2012). Avaliação de diferentes técnicas na recuperação de uma cascalheira em diamantina, mg. 21 2 VARIABILIDADE DA GERMINAÇÃO ENTRE MATRIZES DE CANDEIA (Ere- manthus incanus) (LESS.) LESS. (ASTERACEAE) EM CONDIÇÕES DE LABORA- TÓRIO RESUMO A candeia (Eremanthus incanus) é uma espécie arbórea brasileira, cuja madeira é resistente a pragas e doenças, fazendo com que seja bastante utilizada na produção de moirões e estacas. Trata-se de uma espécie de valor econômico, que oferece multiprodutos da sua madeira que servem como fonte alternativa de renda para as populações de suas regiões de ocorrência. Por esse motivo, tem ocorrido um aumento na exploração dessa espécie e consequentemente na demanda de sementes para produção de mudas. Dessa forma, o objetivo desse trabalho foi avaliar a germinação das sementes de E. incanus coletadas de 24 matrizes, em incubadoras do tipo BOD. As sementes foram coletadas no município de Diamantina, durante os meses de outubro de 2015 e outubro de 2016, foram avaliadas em dois experimentos. As sementes foram mantidas em incubadoras do tipo BOD para a germinação, com temperatura variando entre 20◦C e 30◦C, com fotoperíodo de 10 horas de luz e 14 horas de escuro. Foi feita a análise descritiva dos dados, além da avaliação do vigor, do Índice de Velocidade de Germinação e do percentual de germinação. Os percentuais médios de germinação mostraram um melhor desempenho das matrizes no segundo ano, quando comparada ao primeiro ano de coleta das sementes, uma vez que 70,83% delas obtiveram germinação acima de 70%. Palavras-chave: Sementes Florestais, Teste de Progênies, Espécies Nativas. 23 ABSTRACT Candeia (Eremanthus incanus) is a Brazilian tree species whose wood is resistant to pests and diseases, making it widely used in the production of picket and stakes. It is a species of economic value, offering multi-products of its wood that serve as an alternative source of income for the populations of its regions of occurrence. For this reason, there has been an increase in the exploitation of this species and consequently in the demand for seeds for seedling production. Thus, the objective of this work was to evaluate the germination of E. incanus collected from 24 matrices in BOD incubators. The seeds were collected in the municipality of Diamantina, during the months of October 2015 and October 2016, were evaluated in two experiments. The seeds were kept in BOD type incubators for germination, with temperature ranging from 20◦C to 30◦C, with photoperiod of 10 hours of light and 14 hours of dark. Descriptive data analysis was performed, as well as vigor, germination rate index and germination percentage. The average germination percentages showed a better performance of the matrices in the second year, when compared to the first year of seed collection, since 70.83% of them obtained germination above 70%. Keywords: Forest Seeds, Progeny Test, Native Species. 25 INTRODUÇÃO A candeia (Eremanthus incanus (Less.) Less), pertencente à família Asteraceae, é uma espécie arbórea brasileira que se desenvolve facilmente em campos abertos, comumente encontrada em Minas Gerais, com distribuição do sudeste ao nordeste do Planalto Central. A sua madeira é considerada resistente a pragas e doenças, sendo muito utilizada na produção de moirões e estacas. Tais produtos servem como fonte alternativa de renda para os proprietários rurais de suas regiões de ocorrência (Souza et al.; 2003; Salustiano et al.; 2006; Galdino et al.; 2006; Longhi et al.; 2009; Paes et al.; 2010; Hillen et al.; 2012). Por esses motivos, tem ocorrido aumento na exploração dessa espécie e, consequen- temente, na demanda de sementes para produção de mudas. A produção de mudas de candeia é feita via seminal, com grande produção de sementes de tamanho reduzido e sem dormência. Quanto ao armazenamento, suas sementes podem ser armazenadas por longo prazo, sob baixas temperatura e umidade, sendo considerada ortodoxa (Davide and Melo; 2012). A germinação é a retomada do crescimento do eixo embrionário que, estimulado por condições ambientais, se desenvolve com o rompimento do tegumento pela radícula. A germinação é uma etapa crítica do ciclo da planta, porque está associado a vários fatores ambientais e a processos fisiológicos e metabólicos da própria planta (Freire et al.; 2019). Para otimização do método de propagação seminífera é de fundamental importância o conhecimento dos principais fatores que afetam a germinação, tais como temperatura, disponi- bilidade de água e luz, longevidade e viabilidade das sementes (Ferreira and Novembre; 2015; Lucas et al.; 2018; Silva et al.; 2018). As sementes que apresentam alta capacidade de germinação e vigor, proporcionam elevado vigor das plantas, maior homogeneidade e, consequentemente, maior qualidade (Lacerda; 2007). Assim, o método de reprodução sexual proporciona a variabilidade genética necessá- ria para a seleção de características desejáveis em um programa de melhoramento genético, além de possibilitar a investigação científica de fatores que afetam a biologia da germinação. Outra característica importante desse método é a preservação da diversidade dos recursos fitogenéticos e a conservação de espécies por meio de bancos de germoplasma (Ruths et al.; 2019) Um dos métodos para se determinar o nível de qualidade das sementes são os testes de germinação, que são realizados sob condições adequadas para cada espécie em relação à água, luz, temperatura e substrato. Além de ajudar a prever o desempenho de lotes de sementes no campo, estes também podem auxiliar na diferenciação das sementes de diferentes árvores matrizes e determinar a variabilidade genética (Mondo et al.; 2008; Oliveira et al.; 2008). Diante do exposto, o objetivo desse trabalho foi avaliar a germinação de sementes de E. incanus coletadas de diferentes matrizes, em dois anos consecutivos, em condições de laboratório. 26 MATERIAIS E MÉTODOS 2.2.1 População de trabalho A população de candeia alvo do estudo está localizada em uma área onde funcionava um depósito de lixo na cidade de Diamantina, em Minas Gerais. Tal local fora isolado em 2002 para fins de restauração e está situado nas coordenadas 18o12’17” de latitude Sul e 43o34’08” de longitude Oeste, mais especificamente no Campus JK da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) (Machado et al.; 2012). A exsicata da espécie está disponível no banco de dados do Herbário Dendrológico Jeanine Felfili, localizado no Campus JK da UFVJM, sob código de registro HDJF – 3988. O clima da região está classificado por Köppen (1931) como Cwb, tipicamente tropical, com verões brandos e úmidos entre os meses de outubro e abril, e invernos mais rigorosos entre os meses de junho e agosto. O regime pluviométrico é caracterizado por apresentar precipitação média anual com valores variando de 1250 a 1550 mm e a temperatura média anual apresenta valores próximos de 18◦C (Santos et al.; 2017). Considerando a cidade de Diamantina, no ano de 2015, o valor para a precipitação foi de 1163 mm, aproximadamente, e os valores de temperatura máxima e mínima foram de 33,3◦C e 21,6◦C, respectivamente. Para o ano de 2016, o valor da precipitação foi de 1062 mm, aproximadamente, enquanto a temperatura máxima foi de 32,7◦C e a temperatura mínima atingiu o valor de 20,8◦C (INMET; 2019). 2.2.2 Seleção de indivíduos superiores Para a coleta de sementes, foi realizada a seleção fenotípica das matrizes, baseando- se em características como vigor, boas condições fitossanitárias, produção de sementes e tronco cilíndrico. Foram selecionadas 24 árvores, constituindo 24 famílias de meios irmãos (FMI) de candeia, uma vez que as sementes são originadas de polinização aberta (Figura 1). As matrizes selecionadas estão localizadas em uma área de estudo de 2,15 hectares, onde os indivíduos de E. incanus se apresentam em maior número do que os indivíduos de outras espécies (Santos; 2019). 2.2.3 Coleta e beneficiamento das sementes A partir dos indivíduos selecionados, foram coletados ramos com os frutos de cada uma das 24 matrizes individualmente, com o auxílio de uma tesoura de poda, nos meses de outubro de 2015 e outubro de 2016. Terminada a coleta, o material obtido foi transferido para o Centro Integrado de Propagação de Espécies Florestais (CIPEF), do Departamento de Engenharia Florestal, no Campus JK, da UFVJM; onde se executou o beneficiamento das sementes. 27 Figura 1 – Distribuição espacial das matrizes selecionadas de E. incanus, localizadas na UFVJM (Campus JK), no município de Diamantina/MG. Fonte: A autora. O beneficiamento se iniciou com a retirada manual das folhas e galhos remanescentes, seguida da separação das sementes com o uso de peneiras de três diferentes granulometrias, com malhas grossa, média e fina (Figura 2). Após o beneficiamento, as sementes foram acondicionadas em sacos plásticos identificados por matriz e mantidos em câmara fria, com temperatura média de 4◦C e umidade relativa média de 40%, até o momento da instalação dos experimentos. Os experimentos foram instalados seis meses após cada coleta, quando se findou o beneficiamento. 2.2.4 Avaliação da germinação Foram instalados dois experimentos, em anos subsequentes, sendo no primeiro utilizado as sementes referentes à coleta de outubro de 2015 (ano 1) e no outro foram utilizadas as sementes coletadas em outubro de 2016 (ano 2). Todas as etapas dos experimentos de germinação foram desenvolvidas no CI- PEF/UFVJM. As caixas acrílicas (do tipo gerbox) utilizadas na montagem dos experimentos foram desinfestadas com solução de hipoclorito de sódio a 1%, por dez minutos. As sementes de cada matriz foram desinfestadas com o fungicida Cuprogarb 500 R©, por 15 minutos, em concentração de 1 gL-1 e lavadas seis vezes com água destilada autoclavada. Nesta etapa, as sementes que se encontravam na superfície da solução foram descartadas, sendo utilizadas apenas aquelas que submergiram. Em seguida, as sementes foram mantidas em solução de álcool 70% por 30 segundos e transferidas para solução de hipoclorito de sódio a 2,5% por dez minutos e lavadas novamente 28 Figura 2 – Etapas do beneficiamento e dos experimentos com sementes de E. incanus, cole- tadas em área localizada na UFVJM (Campus JK), no município de Diamanti- na/MG. A: Catação manual das folhas e galhos remanescentes. B: Primeira etapa da separação das sementes, com uso de peneira de malha grossa. C: Segunda etapa da separação das sementes, com o uso de peneira de malha média. D: Terceira etapa de separação das sementes, com o uso de peneira de malha fina. E: Sementes dispostas na caixa de germinação (gerbox). F: Sementes germinadas na caixa de germinação (gerbox). Fonte: A autora. em água destilada. A cada 100 ml desta solução foram acrescentadas 4 gotas do detergente Tween 20, com o objetivo de aumentar a superfície de contato com o produto. Após a desinfestação, as sementes foram colocadas para germinar nas caixas do tipo gerbox, sobre duas folhas de papel Germitest esterilizadas e umedecidas com água destilada. Foram utilizadas 100 sementes por matriz, sendo distribuídas em quatro repetições (gerbox), com 25 sementes cada. Cada gerbox foi considerado como a unidade experimental. Os gerbox com as sementes foram mantidos em incubadora do tipo BOD, em temperatura variando entre 20◦C e 30◦C, com fotoperíodo de 10 horas de luz e 14 horas de escuro (Tonetti et al.; 2006). Nos períodos de luz, a temperatura foi de 30◦C e, nos períodos de escuro, a temperatura foi fixada em 20◦C. A umidificação foi realizada manualmente, a partir de observações diárias, e mantendo-se o ambiente em condições de umidade favoráveis para o processo de germinação. 2.2.5 Análise dos dados Os experimentos foram instalados em Delineamento em Blocos Casualizados (DBC), com quatro repetições (incubadoras BOD) e 24 tratamentos (matrizes), constituídos por 25 sementes de cada matriz, acondicionadas em caixas do tipo gerbox individualmente, presentes 29 em cada um dos blocos. Foram consideradas germinadas aquelas sementes que apresentaram protusão da radícula. Os dados de percentual de germinação foram coletados diariamente, até o momento em que a taxa de germinação se manteve constante. Os valores utilizados para o cálculo do percentual de germinação foram obtidos a partir da observação do 29◦e 25◦dia da coleta de dados, para o ano 1 e 2, respectivamente, uma vez que nesses dias se obteve o máximo da germinação das sementes. Os valores da germinação referentes ao primeiro dia em que ela ocorreu são chamados de primeira contagem e foram utilizados para o cálculo do vigor das sementes de cada matriz. O Índice de Velocidade de Germinação (IVG) foi calculado conforme proposto por Maguire (1962). Foram realizados os testes de Lilliefors, para a verificação da normalidade, e o teste de Levene, para a verificação da homogeneidade dos dados, a fim de constatar o atendimento ou não às pressuposições da Análise de Variância (ANOVA). A partir disso, foi realizada a ANOVA para a germinação, IVG e vigor e, quando significativa, procedeu-se o teste de Scott Knott, a 5% de significância. Foi utilizado o Software R (Team; 2018), com o auxílio do pacote ExpDes.pt, na sua versão 1.2.0 (Ferreira et al.; 2014). Foi realizada a análise descritiva dos dados, com a confecção de histogramas para representar a distribuição dos percentuais de germinação por matriz, divididas em classes de ocorrência. RESULTADOS No experimento referente ao ano 1, o processo de germinação das sementes iniciou- se no sexto dia de avaliação e, no ano 2, o processo de germinação iniciou-se no sétimo dia de avaliação. Nestes casos, todas as matrizes possuíam pelo menos uma semente germinada. A germinação atingiu o valor máximo no 29◦dia, relativo ao experimento do ano 1 e, referente ao experimento do ano 2, pode-se observar esse valor no 25◦dia de avaliação. No ano 1, quinze matrizes apresentaram os percentuais de germinação acima de 50% (Figura 3). Os menores percentuais de germinação foram observados para as matrizes 171 (8%) e 348 (2%); enquanto as matrizes 13, 143, 146, 156 e 254 obtiveram valores percentuais iguais ou superiores à 90% de sementes germinadas. De maneira geral, no ano 2, as matrizes apresentaram um desempenho superior, quando comparado ao ano 1 (Figura 4), em que 70,83% das matrizes obtiveram percentual de germinação acima de 70&. Apenas duas matrizes (matriz 13 e 408) apresentaram as médias de germinação inferior a 50%. A matriz 296 apresentou o mais alto percentual de germinação, com 93% de sementes germinadas. Algumas matrizes obtiveram um aumento considerável no percentual de germinação do primeiro para o segundo ano avaliado, podendo-se citar as matrizes 2, 26, 171, 348 como exemplo. As matrizes 2 e 26 obtiveram valores de germinação iguais a 17% e 34% no primeiro ano, passando para 65% e 78%, respectivamente. As matrizes 171 e 348, por sua vez, passaram de 8% e 2% para 59% e 73%, respectivamente, quando se comparou os dois anos de avaliação. 30 Figura 3 – Percentual de germinação de sementes de matrizes de E. incanus, no ano 1, co- letadas em área localizada na UFVJM (Campus JK), no município de Diaman- tina/MG. As barras indicam desvio padrão. Figura 4 – Percentual de germinação de sementes de matrizes de E. incanus, no ano 2, co- letadas em área localizada na UFVJM (Campus JK), no município de Diaman- tina/MG. As barras indicam desvio padrão. 31 Ao se observar as classes de percentual de germinação para o ano 1 (Figura 5 A) percebe-se que todas as classes foram representadas com matrizes, exceto a classe de 55% de germinação. As classes que apresentaram os maiores números de indivíduos foram aquelas acima de 85% e 95% de germinação, com cinco matrizes em cada uma. No segundo ano do experimento houve redução no número de classes de germinação, observando-se que todas as matrizes obtiveram germinação acima de 45% (Figura 5 B). A classe de 75% foi a mais representada, com 11 matrizes presentes. Figura 5 – Número de matrizes por classes de percentual de germinação de sementes de E. incanus, coletadas em área localizada na UFVJM (Campus JK), no município de Diamantina/MG, nos anos 1 (A) e 2 (B). As barras indicam desvio padrão. Houve diferença significativa de acordo com a ANOVA (p < 0, 05), para as ca- racterísticas de vigor, IVG e percentual de germinação, para os dois anos. Pode-se observar que as matrizes foram divididas em grupos de acordo com o seu desempenho para todas as características avaliadas. Os valores de percentual de germinação das sementes indicaram que a maior parte das matrizes apresentou os percentuais de germinação acima de 50%, para os dois experimentos (Tabela 1). No ano 1, nove matrizes apresentaram percentuais de germinação abaixo de 50%, enquanto no ano 2, apenas duas matrizes (matriz 13 e 408) apresentaram as médias de germinação 32 inferior a este valor; mostrando um desempenho melhor das matrizes neste ano. Para os dois anos avaliados, o maior valor de percentual germinativo foi de 93%. No entanto, as matrizes com piores desempenhos de germinação, no ano 2, foram superiores às matrizes com piores desempenhos no ano 1. Com relação ao vigor das sementes das matrizes de candeia coletadas no ano 1, pode-se observar que as matrizes 175 e 11 foram as mais vigorosas e formaram um grupo, com percentuais de germinação na primeira contagem de 62% e 48%, respectivamente (Tabela 2). O grupo de matrizes com vigor intermediário foi formado por seis matrizes, com percentuais de germinação variando de 38% (matriz 101) a 22% (matriz 13). Por fim, o grupo com pior desempenho em vigor foi formado pela maioria das matrizes, com percentuais de germinação variando de 18% a 0%, em que não houve sementes germinadas para as matrizes 26, 67 e 348. Tabela 1 – Percentual de germinação das sementes de E. incanus, coletadas de diferentes matrizes no município de Diamantina/MG e germinadas em condições de labo- ratório, nos anos 1 e 2. Ano 1 Ano 2 Matrizes Germinação Matrizes Germinação 146 93 a 296 93 a 156 93 a 11 88 a 13 90 a 143 87 a 143 90 a 146 87 a 254 90 a 175 85 a 157 86 a 64 82 a 192 86 a 163 79 a 31 85 a 26 78 a 175 85 a 31 78 a 101 82 a 157 77 a 163 79 a 192 76 a 11 73 b 254 74 a 151 70 b 326 74 a 67 63 b 348 73 a 159 63 b 101 72 a 408 44 c 170 72 a 170 39 c 159 71 a 26 34 c 2 65 b 64 31 c 67 65 b 326 20 d 156 63 b 296 19 d 151 61 b 2 17 d 171 59 b 171 8 d 13 45 c 348 2 d 408 40 c Médias com letras iguais são considerados iguais e médias com letras diferentes são considerados diferentes, pelo Teste Scott Knott a 5% de significância. De forma geral, para o ano 2, pode-se perceber uma queda no vigor das matrizes 33 (Tabela 2). As matrizes 11 e 175 mantiveram os melhores desempenhos de vigor, quando compa- radas às demais. Neste ano, porém, a matriz 11 obteve vigor maior, quando comparada à matriz 175, com valores de 37% e 30% de germinação na data da primeira contagem, respectivamente. O segundo grupo foi formado por três matrizes, com percentual de germinação variando entre 23% (matriz 143) e 18% (matrizes 157 e 326). O grupo de matrizes com desempenho inferior foi composto por 19 matrizes, com valores variando de 15% de sementes germinadas na data da primeira contagem até valores nulos de germinação (matriz 151). Em relação ao IVG, as matrizes foram divididas em quatros grupos, de acordo com seus valores, nos dois anos de experimento (Tabela 3). Para o primeiro ano, as matrizes apresentaram valores de IVG variando de 3,10 a 0,03; enquanto as matrizes do segundo ano apresentaram valores entre 2,51 e 0,82. Tabela 2 – Vigor das sementes de E. incanus, coletadas de diferentes matrizes no município de Diamantina/MG e germinadas em condições de laboratório, nos anos 1 e 2. Ano 1 Ano 2 Matrizes Vigor Matrizes Vigor 175 62 a 11 37 a 11 48 a 175 30 a 101 38 b 143 23 b 192 34 b 157 18 b 408 28 b 326 18 b 143 26 b 408 15 c 31 24 b 2 14 c 13 22 b 101 12 c 163 18 c 163 10 c 157 17 c 64 9 c 254 17 c 348 9 c 159 10 c 254 8 c 64 9 c 171 6 c 151 7 c 296 6 c 146 4 c 31 5 c 170 4 c 170 5 c 2 3 c 146 4 c 326 3 c 156 4 c 156 1 c 13 3 c 171 1 c 26 3 c 296 1 c 192 3 c 26 0 c 67 2 c 67 0 c 159 1 c 348 0 c 151 0 c Médias com letras iguais são considerados iguais e médias com letras diferentes são considerados diferentes, pelo Teste Scott Knott a 5% de significância. Assim, dez matrizes compuseram o grupo das matrizes com maiores valores do índice, para o ano 1, indicando que estas germinaram mais rapidamente do que as demais 34 matrizes (Tabela 3). Para o segundo ano, somente quatro matrizes pertenceram a esse grupo, das quais 3 também estavam contidas nele, no experimento referente ao ano 1, sendo elas as matrizes 11, 175 e 143. Percebe-se que as matrizes mais vigorosas também estavam presentes no grupo das matrizes com maiores IVG, em ambos os anos de experimento. Tabela 3 – Índice de Velocidade de Germinação (IVG) das sementes de E. incanus, coleta- das de diferentes matrizes no município de Diamantina/MG e germinadas em condições de laboratório, nos anos 1 e 2. Ano 1 Ano 2 Matrizes IVG Matrizes IVG 175 3,11 a 11 2,51 a 101 2,68 a 175 2,40 a 192 2,66 a 143 2,34 a 11 2,64 a 296 2,20 a 143 2,61 a 157 2,01 b 13 2,52 a 64 1,92 b 254 2,38 a 146 1,87 b 31 2,35 a 326 1,84 b 157 2,29 a 163 1,78 b 163 2,20 a 254 1,77 b 146 2,03 b 2 1,69 c 156 1,82 b 101 1,64 c 151 1,67 b 348 1,59 c 408 1,59 b 26 1,58 c 159 1,45 c 170 1,57 c 67 1,23 c 31 1,55 c 64 0,90 c 192 1,47 c 170 0,82 c 156 1,39 c 26 0,81 c 159 1,37 c 326 0,50 d 67 1,26 d 2 0,42 d 171 1,15 d 296 0,40 d 408 1,10 d 171 0,20 d 151 0,97 d 348 0,03 d 13 0,82 d Médias com letras iguais são considerados iguais e médias com letras diferentes são considerados diferentes, pelo Teste Scott Knott a 5% de significância. DISCUSSÃO A escolha da temperatura e fotoperíodo das incubadoras estão de acordo com Tonetti et al. (2006), que obtiveram os melhores resultados de germinação para E. erythropappus sob condições de 10 horas de luz a 30◦C e de 14 horas de escuro a 20◦C; também em caixas plásticas do tipo gerbox. Tal condição também é corroborada por Davide et al. (2008), em um estudo com Eremanthus erythropappus. A luminosidade, aliada à temperatura, constituem fatores influenciadores do processo germinativo das sementes (Ferreira et al.; 2001). 35 Os valores de temperatura entre 25◦C e 30◦C correspondem às temperaturas ótimas para a germinação da maioria das espécies arbóreas brasileiras, em que 90,4% das indicações de temperatura para germinação correspondem aos dois valores citados, sendo assim os que mais favoreceram o processo germinativo (Brancalion et al.; 2010). O início da germinação para o ano 1 e 2 ocorreu no quinto e no sétimo dia, respec- tivamente. Tal ocorrido foi semelhante aos resultados encontrados por Godinho et al. (2011), em seu trabalho com Adenostemma brasilianum (Asteraceae), também testando germinação em incubadoras do tipo BOD; em que as sementes iniciaram seu processo germinativo no quinto dia de observação. A área em que as sementes foram coletadas, por se tratar de um ambiente em processo de recuperação (antigo lixão), pode ter sofrido modificações na rota de polinizadores de E. incanus, influenciando na sua reprodução e, consequentemente, na produção dos frutos (Júnior et al.; 2017). As plantas da família Asteraceae, de maneira geral, são polinizadas por grupos de insetos (abelhas) e a espécie Eremanthus erythropappus é alógama, possui flores hermafroditas, dispersão anemocórica dos frutos; sendo estas informações importantes para fornecer relações com as demais espécies do gênero Eremanthus (Vieira et al.; 2012). Dessa forma, as baixas taxas de germinação de algumas matrizes de E. incanus podem estar ligadas à má formação dos seus aquênios ou a falta do embrião (vazio), uma vez que a distribuição dos indivíduos pode afetar o sistema reprodutivo da planta; apesar da produção desses frutos no gênero Eremanthus ser alta (Feitosa et al.; 2009; Davide et al.; 2011; Júnior et al.; 2017). O período de floração e de formação dos frutos de E. incanus ocorre de julho a outubro (MacLeish; 1987) e, considerando os anos de 2015 e 2016, houve diferença na distribuição da precipitação e na temperatura. O valor da precipitação para este período, em 2015, foi de 88,5 mm e em 2016 foi igual a 71,1 mm. Apesar desses valores estarem próximos nos dois anos, as chuvas foram mais distribuídas no período em 2016 quando comparadas ao ano de 2015. Em relação à temperatura, no ano de 2015 o valor máximo foi de 33,3◦C e o mínimo foi de 21,6◦C e, para o ano de 2016, esses valores foram de 32,7◦C e 20,2◦C, respectivamente (INMET; 2019). Velten and Garcia (2005), estudando Eremanthus elaeagnus e E. glomerulatus, observaram que 70% a 56% dos aquênios coletados pareciam viáveis e, dentro desses valores, aproximadamente 91% e 73% não possuíam embriões. Além disso, o estudo também apontou que as variações no clima, de um ano para outro, também podem afetar a viabilidade e produção de sementes, além de influenciar na reprodução das árvores matrizes, com polinização insuficiente e até mesmo estresse ligado ao ambiente. Em estudo com cedro (Cedrela fissilis Vell.), sob condições de laboratório, Cherobini et al. (2008) constataram diferenças significativas na germinação de sementes de matrizes de três procedências distintas, podendo influenciar nos processos germinativos. Os testes mostraram que as sementes coletadas de matrizes localizadas no Rio Grande do Sul apresentaram percentual de 36 germinação maior (89%) do que aquelas coletadas em Santa Catarina (79%) e, as sementes das matrizes desses dois locais, tiveram percentual de germinação superior ao daquelas coletadas no Paraná (36%). Por sua vez, Rego et al. (2005) constataram diferenças entre matrizes de faveiro (Albizia lebbeck), considerando as médias de germinação das suas sementes. Neste estudo, quatro matrizes apresentaram desempenho germinativo superior em relação às demais. Corrobora- se, então, com os resultados obtidos por Neto and Paula (2017), em que foram constatadas diferenças no processo germinativo de paineira rosa (Ceiba speciosa St. Hil.), confirmando uma alta variabilidade entre as matrizes selecionadas, indicando que tais diferenças nos percentuais germinativos podem estar relacionadas aos processos de fertilização e polinização das matrizes. Por fim, avaliar características como o vigor, IVG e o percentual de germinação auxilia na definição de estratégias para a formação de pomares de sementes para a recuperação ambiental. Dessa forma, aumenta-se a probabilidade de conservar genes em indivíduos selecio- nados, uma vez que estariam em outros locais com número maiores de indivíduos, reduzindo a chance de perdê-los (Sebben et al.; 2009). CONCLUSÕES • No ano 1 (2015) onze matrizes formaram o grupo de melhor desempenho de germinação e 17 matrizes formaram esse grupo, no ano 2(2016). • O maior percentual de germinação, para ambos os anos, foi de 93%. No ano 1 (2015) este valor foi alcançado pelas matrizes 146 e 156 e, no ano 2 (2016), tal valor foi obtido pela matriz 296. • O ano 2 (2016) apresentou os maiores percentuais de germinação das sementes, quando comparado ao ano 1(2015), com valores entre 93% e 40%, indicando melhor desempenho das matrizes no experimento instalado no segundo ano. • Considerando o vigor, em ambos anos somente duas matrizes obtiveram valor superior: as matrizes 175 e 11. A matriz 175 foi a que obteve o maior valor com 62% das sementes germinadas na data da primeira contagem no primeiro ano, enquanto para o ano 2, a matriz 11 foi a mais vigorosa, com 37% de germinação. • Em relação ao IVG, 10 matrizes obtiveram valores superiores no ano 1 e, no segundo ano, somente 4 matrizes formaram este grupo. A matriz 175 alcançou o maior valor do índice (3,10), indicando que esta matriz teve a maior germinação média diária, no ano 1. Para o segundo ano, a matriz 11 obteve valor de 2,51 para este índice. 37 Referências Brancalion, P. H. S., Novembre, A. D. D. L. C. and Rodrigues, R. R. (2010). Temperatura ótima de germinação de sementes de espécies arbóreas brasileiras., Revista Brasileira de Sementes 32: 15 – 21. Cherobini, E. A. I., Muniz, M. F. B. and Blume, E. (2008). Avaliação da qualidade de sementes e mudas de cedro., Ciência Florestal 18(1): 65–73. Davide, A. C. and Melo, L. (2012). Produção de mudas de candeia, O manejo sustentável da candeia: o caminhar de uma nova experiência florestal em Minas Gerais. Lavras: UFLA pp. 43–12. Davide, A. C., Silva, C. S. J., Silva, E. A. A., Pinto, L. V. A. and Faria, J. M. R. (2008). Estudos morfo-anatômicos, bioquímicos e fisiológicos durante a germinação de sementes de candeia (Eremanthus erythropappus (dc.) macleish)., Revista Brasileira de Sementes 30: 171 – 176. Davide, A. C., Tonetti, O. A. O. and Silva, E. A. A. (2011). 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Dessa forma, o objetivo desse trabalho foi avaliar a germinação, o vigor e o Índice de Velocidade de Germinação (IVG) de sementes e o crescimento de mudas de E. incanus de diferentes matrizes, em condições de viveiro. Foram coletadas sementes de 23 matrizes, durante o mês de outubro de 2015. As sementes foram semeadas no substrato comercial Trimix R© em casa de vegetação coberta com filme de PVC de 150 micra de espessura, tela de sombreamento de 50% e sistema de irrigação por nebulização. Após 45 dias, as mudas sobreviventes foram levadas para a casa de sombra e permaneceram até os 75 dias. A partir desta data o experimento foi transferido para a área de rustificação em pleno sol, procedendo-se medições mensais de altura (cm) e diâmetro (mm) das mudas. Os resultados obtidos mostraram que existe diferenças entre as matrizes para os caracteres avaliados e, dentre elas, a matriz 192 mostrou-se a melhor para os quesitos avaliados. Palavras-chave: Mudas Florestais, Teste de Progênies, Sementes Florestais. 43 ABSTRACT Eremanthus incanus, popularly known as candeia, is classified as family Asteraceae and belongs to the pioneer ecological group. Its wood is used to make fence posts for fences and piles, due to its high resistance, making the species has a high economic potential. However, there is little information about its cultivation and management. Thus, the objective of this work was to evaluate seed germination, vigor and Germination Speed Index (IVG) and seedling growth of E. incanus of different matrices under nursery conditions. Seeds were collected from 23 matrices during October 2015. The seeds were sown on the commercial substrate Trimix R© in a greenhouse covered with 150 micron thick PVC film, 50% shading screen and mist irrigation system. After 45 days, the surviving seedlings were taken to the shade house and remained until 75 days. From this date the experiment was transferred to the rustification area in full sun, taking monthly measurements of height (cm) and diameter (mm) of seedlings. The obtained results showed that there are differences between the matrices for the evaluated characters and, among them, the matrix 192 was the best one for the evaluated questions. Keywords: Forest Seedlings, Progeny Testing, Forest Seeds. 45 INTRODUÇÃO Eremanthus incanus (Less.) Less, popularmente conhecida como candeia, é clas- sificada como da família Asteraceae e pertence ao grupo ecológico das pioneiras. Seu tronco possui casca grossa, suas folhas são simples, opostas com pilosidade cinérea e o fruto do tipo aquênio. Sua madeira é frequentemente utilizada para a confecção de moirões para cercas e estacas, devido a sua alta resistência a pragas e doenças, além de ser utilizada para lenha, por possuir um elevado poder energético (Pérez et al.; 2004; Júnior et al.; 2017; Scolforo et al.; 2002; Araújo et al.; 2018). Na maioria dos casos, para a obtenção dos produtos da espécie Eremanthus erythro- pappus, é realizada a exploração predatória de candeais nativos que, na melhor das hipóteses, é amparada por planos de manejo. O acesso a esses candeais, porém, é cada vez mais restrito e, a maioria das informações, até então, vieram dos candeais nativos ou de experimentos em nível de casa de vegetação ou viveiro (Oliveira, Mello, Lima, Scolforo and Oliveira; 2011; Scolforo et al.; 2002). Dessa forma, faz-se necessário estudar a espécie E. incanus, uma vez que existem poucas informações sobre o seu cultivo e manejo. Mesmo apresentando resistência natural às condições ambientais adversas, torna-se necessária a seleção de genótipos de candeia com melhor desempenho em relação ao crescimento, desenvolvimento e adaptabilidade, para maximizar seu potencial restaurador e produtivo em sítios degradados. Assim, os programas de melhoramento genético com espécies nativas têm grande importância ecológica para os ecossistemas que dele participam, principalmente por propiciar a valorização da espécie em questão, a sua conservação e seu cultivo (Pacheco et al.; 2008; Sant’Ana et al.; 2013; Cusatis et al.; 2016). A principal forma de propagação dessa espécie é via seminal, cuja coleta é feita geralmente em povoamentos nativos, sem nenhum grau de melhoramento. Estudos demonstram que as sementes possuem baixas taxas de germinação e, para garantir uma boa porcentagem de germinação e produção de mudas de qualidade, é necessário selecionar as matrizes adequada- mente. Esses indivíduos devem apresentar características típicas da espécie alvo, serem vigorosos e apresentarem boas condições fitossanitárias (Scolforo et al.; 2002). Os estudos de crescimento das mudas, aliados às avaliações dos processos germinati- vos podem ser úteis na diferenciação de indivíduos da mesma espécie, uma vez que eles podem apresentar valores diferentes de germinação, bem como apresentar diferenças genéticas, o que pode ajudar no entendimento das estratégias de reprodução das espécies e nos programas de melhoramento (Souza et al.; 2015). Diante do que foi exposto, o objetivo desse trabalho foi avaliar a germinação, o vigor, o Índice de Velocidade de Germinação de sementes e o crescimento de mudas de E. incanus coletadas de diferentes matrizes, em condições de viveiro. 46 MATERIAIS E MÉTODOS 3.2.1 População de trabalho A população de candeia alvo do estudo está localizada em uma área onde funcionava um depósito de lixo na cidade de Diamantina, em Minas Gerais (Figura 6). Tal local fora isolado em 2002 para fins de restauração e está situado nas coordenadas 18o12’17” de latitude Sul e 43o34’08” de longitude Oeste, mais especificamente no Campus JK da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) (Machado et al.; 2012). A exsicata da espécie está disponível no banco de dados do Herbário Dendrológico Jeanine Felfili, localizado no Campus JK da UFVJM, sob código de registro HDJF – 3988. Figura 6 – Distribuição espacial das matrizes de E. incanus, localizadas na UFVJM (Cam- pus JK), no município de Diamantina/MG. Fonte: A autora. O clima da região está classificado por Köppen (1931) como Cwb, tipicamente tropical, com verões brandos e úmidos entre os meses de outubro e abril, e invernos mais rigorosos entre os meses de junho e agosto. O regime pluviométrico é caracterizado por apresentar precipitação média anual com valores variando de 1250 a 1550 mm e a temperatura média anual apresenta valores próximos de 18◦C (Santos et al.; 2017). Considerando a cidade de Diamantina, no ano de 2015, o valor para a precipitação foi de 1163 mm, aproximadamente, e os valores de temperatura máxima e mínima foram de 33,3◦C e 21,6◦C, respectivamente (INMET; 2019). 47 3.2.2 Seleção de indivíduos superiores Para a coleta de sementes, foi realizada a seleção fenotípica das matrizes, baseando- se em características como vigor, boas condições fitossanitárias, produção de sementes, tronco cilíndrico, entre outras. Foram selecionadas 23 árvores, constituindo 23 famílias de meios irmãos (FMI) de candeia, uma vez que as sementes são originadas de polinização aberta. As matrizes selecionadas estão localizadas em uma área de estudo de 2,15 hectares, onde os indivíduos de E. incanus se apresentam em maior número do que os indivíduos de outras espécies (Santos; 2019). 3.2.3 Coleta e beneficiamento das sementes A partir dos indivíduos selecionados, foram coletados ramos com os frutos de cada uma das 23 matrizes individualmente, com o auxílio de uma tesoura de poda, em outubro de 2015. Terminada a coleta, o material obtido foi transferido para o Centro Integrado de Propagação de Espécies Florestais (CIPEF), do Departamento de Engenharia Florestal, no Campus JK, da UFVJM; onde se executou o beneficiamento das sementes. O beneficiamento se iniciou com a catação manual das folhas remanescentes, seguido da separação das sementes com o uso de peneiras de diferentes granulometrias, com malhas grossa, média e fina (Figura 7). Após o beneficiamento, as sementes foram acondicionadas em sacos plásticos identificados por matriz e mantidos em câmara fria, com temperatura média de 4◦C e umidade relativa média de 40%, até o momento da instalação do experimento. O experimento foi instalado em dezembro de 2017. 3.2.4 Teste de germinação e crescimento das mudas Todas as etapas do experimento de germinação foram desenvolvidas no CIPEF/UFVJM. Foram semeadas seis sementes em cada tubete e, passados 45 dias, foi feito o raleio em que somente a plântula mais vigorosa foi deixada em cada recipiente. Cada tubete possuía volume de 180 cm3, contendo substrato comercial Trimix R©, adicionado de 5 kg de superfosfato simples e 600 gramas de Osmocote R© (com formulação 15-9-12 de NPK e liberação variando de 12 a 14 meses) para cada 100 litros de substrato. O experimento foi instalado em dezembro de 2017, em casa de vegetação coberta com filme de PVC de 150 micra de espessura, tela de sombreamento de 50% e sistema de irrigação por nebulização, com vazão de 28 litros a cada hora. As irrigações ocorreram diariamente, iniciando-se às 7:00 e finalizando às 17:00, a cada 20 minutos e com duração de 30 segundos. Após 45 dias, as mudas sobreviventes foram levadas para a casa de sombra com re- dução de 50% da luminosidade e permaneceram até os 75 dias. A partir desta data o experimento foi transferido para a área de rustificação em pleno sol, onde permaneceram até os 120 dias. A irrigação foi feita por microaspersão, com vazão de 12.160 litros por hora, iniciando-se às 6:30 e 48 Figura 7 – Etapas do beneficiamento e dos experimentos com sementes de E. incanus, cole- tadas em área localizada na UFVJM (Campus JK), no município de Diamanti- na/MG. A: Catação manual das folhas e galhos remanescentes. B: Primeira etapa da separação das sementes, com uso de peneira de malha grossa. C: Segunda etapa da separação das sementes, com o uso de peneira de malha média. D: Terceira etapa de separação das sementes, com o uso de peneira de malha fina. E: Sementes distribuídas nos tubetes. F: Plântula de candeia emergida. Fonte: A autora. finalizando às 19:20; com seis irrigações ao longo deste período, com cinco minutos de duração em cada uma. 3.2.5 Análise dos dados O experimento foi instalado em Delineamento em Blocos Casualisados (DBC), com quatro repetições e 23 tratamentos (matrizes). Foram consideradas germinadas aquelas sementes que apresentaram emergência da plântula. Os dados de percentual de germinação foram coletados diariamente, até o momento em que a taxa de germinação se manteve constante. Para o cálculo do percentual de germinação foram utilizados dados do 27◦dia da coleta, uma vez que nesse dia se obteve o máximo da germinação das sementes. Os valores da germinação referentes ao primeiro dia em que ela ocorreu são chamados de primeira contagem e foram utilizados para o cálculo do vigor das sementes de cada matriz. O Índice de Velocidade de Germinação (IVG) foi calculado conforme proposto por Maguire (1962). As medições de altura (cm) e diâmetro (mm) das mudas foram realizadas aos 90 e 120 dias de instalação do experimento. A medição da altura foi feita com uma régua graduada e do diâmetro foi feita com um paquímetro digital. 49 Foram realizados os testes de Lilliefors, para a verificação da normalidade, e o teste de Levene, para a verificação da homogeneidade dos dados, a fim de constatar o atendimento ou não às pressuposições da Análise de Variância (ANOVA). Para a germinação, IVG e vigor realizou-se a ANOVA e, quando significativa, procedeu-se com o teste de Scott Knott, a 5% de significância. Foi utilizado o Software R (Team; 2018), com o auxílio do pacote ExpDes.pt, na sua versão 1.2.0 (Ferreira et al.; 2014). Os dados de diâmetro e altura não atenderam às pressuposições da ANOVA optando- se, então, pela análise descritiva para esses caracteres. A análise descritiva dos dados foi feita com a confecção de histogramas das médias e desvio-padrão das matrizes e, para representar a distribuição por classes de valores de diâmetro e altura, analisou-se a população ao invés das matrizes individualmente. RESULTADOS No 15◦dia de avaliação iniciou-se o processo de germinação, quando se verificou que pelo menos em uma das matrizes havia sementes germinadas. A germinação mostrou-se constante, para todas as matrizes, a partir do 27◦dia. Houve diferença significativa de acordo com a ANOVA (p<0,05), para as características de vigor, IVG e percentual de germinação. As matrizes foram divididas em 3 grupos pelo teste estatístico, de acordo com o seu desempenho para todas as características avaliadas (Tabela 4). A média geral do IVG para as todas matrizes foi de 0,34 e o melhor desempenho observado foi da matriz 192, formando um único grupo, com valor de 0,80. O segundo grupo foi formado por oito matrizes, com valores de IVG variando de 0,59 a 0,38; seguido pelo terceiro grupo, composto pelas demais matrizes, representando a maioria delas. O menor valor de IVG foi atribuído à 14 matrizes, com a matriz 179 com o menor valor igual a 0,14 (Tabela 4). Ainda de acordo com a Tabela 4, observa-se que a matriz 192 foi a mais vigorosa, com emergência de 100% das sementes no dia em que se iniciou a primeira contagem. As matrizes 254, 13, 31 e 163 formaram o segundo grupo, com os percentuais de germinação variando de 72,91% a 52,08%. As demais matrizes foram agrupadas em um terceiro grupo, que variou de 41,67% a 16,67% de germinação na data da primeira contagem (Tabela 4). Para o percentual de germinação, a média geral para as matrizes foi de 44,74%. A matriz 192, novamente, formou um grupo isolado, com o melhor desempenho e germinação de todas as suas sementes. Oito matrizes formaram o segundo grupo, com percentual de germinação variando de 75% a 52,08% de sementes germinadas. O grupo com o pior desempenho germina- tivo foi formado por 14 matrizes, com o menor valor obtido pelas sementes da matriz 179, com valor de 18,75% de germinação (Tabela 4). 50 Tabela 4 – Índice de Velocidade de Germinação, Vigor e Percentual de Germinação das sementes de E. incanus, coletadas de diferentes matrizes no município de Dia- mantina/MG, em casa de vegetação. Matrizes IVG Matrizes Vigor Matrizes Germinação 192 0,80 a 192 100,00 a 192 100,00 a 254 0,59 b 254 72,91 b 254 75,00 b 13 0,50 b 13 62,50 b 170 64,58 b 163 0,46 b 31 56,25 b 146 64,58 b 31 0,46 b 163 52,08 b 13 62,50 b 170 0,45 b 348 41,67 c 163 60,41 b 146 0,43 b 11 41,67 c 31 58,33 b 151 0,38 b 159 41,67 c 151 54,16 b 159 0,38 b 170 41,67 c 159 52,08 b 11 0,35 c 151 37,50 c 11 45,83 c 348 0,34 c 143 35,41 c 348 43,75 c 143 0,28 c 146 35,41 c 143 35,41 c 215 0,26 c 215 31,25 c 215 35,41 c 331 0,26 c 226 27,08 c 156 35,41 c 156 0,25 c 331 27,08 c 331 35,41 c 101 0,24 c 91 27,08 c 101 33,33 c 226 0,23 c 101 25,00 c 226 31,25 c 91 0,22 c 408 25,00 c 91 29,16 c 408 0,20 c 156 22,91 c 175 25,00 c 175 0,19 c 175 22,91 c 408 25,00 c 67 0,16 c 157 18,75 c 67 22,91 c 157 0,16 c 67 16,67 c 157 20,83 c 179 0,14 c 179 16,67 c 179 18,75 c Médias com letras iguais são considerados iguais e médias com letras diferentes são considerados diferentes, pelo Teste Scott Knott a 5% de significância. Considerando o diâmetro médio das mudas, por matriz, pode-se observar que, aos 90 dias, 12 matrizes obtiveram valores abaixo de 1 mm, enquanto 11 delas apresentaram valores acima de 1 mm (Figura 8 A). A matriz 192 apresentou valores médios de diâmetro acima de 2 mm, se destacando sob as demais. Ao considerar a avaliação feita aos 120 dias percebe-se que 15 matrizes possuíam diâmetro maior do que 1 mm, indicando que 4 matrizes (157, 179, 331, 408) obtiveram um incremento nesse caractere (Figura 8 B). A matriz 192 continuou se destacando, com valor de diâmetro médio superior a 3 mm. A altura média das mudas, por sua vez, aos 90 dias de avaliação, foi abaixo de 2 cm para 16 matrizes (Figura 9 A). A matriz 192 apresentou valores médios de altura acima de 4 cm, se destacando sob as outras matrizes. Ao considerar a avaliação feita aos 120 dias percebe-se que apenas 5 matrizes (101, 179, 215, 331, 408) possuíam altura menor do que 2 cm, indicando um aumento em altura para a maioria dos indivíduos avaliados (Figura 8 B). A matriz 192 continuou se destacando, com valor de altura média superior a 9 cm. 51 Figura 8 – Diâmetro médio de mudas de E. incanus, aos 90 (A) e 120 (B) dias, advindas de sementes coletadas em 23 matrizes em área localizada na UFVJM (Campus JK), no município de Diamantina/MG. As barras indicam desvio padrão. Figura 9 – Altura média de mudas de E. incanus, aos 90 (A) e 120 (B) dias, advindas de sementes coletadas em 23 matrizes em área localizada na UFVJM (Campus JK), no município de Diamantina/MG. As barras indicam desvio padrão. 52 Para as características de diâmetro e altura, aos 90 e 120 dias de avaliação, considerando- se os centros de classe, observou-se uma tendência de distribuição normal dos indivíduos da população, nos dois períodos de medição (Figuras 10 e 11). Para o diâmetro, aos 90 dias, foram formadas seis classes, variando de 0,5 mm a 5,5 mm. A maioria dos indivíduos avaliados estavam contidos nas classes de 2,5 mm e 3,5 mm; com destaque para a classe de 2,5 mm, contendo mais de 250 indivíduos (Figura 10 A). Aos 120 dias, a classe diamétrica de 0,5 mm não apresentou indivíduos e as classes superiores aumentaram o número de mudas, indicando um incremento do diâmetro das mudas avaliadas, as mudas se desenvolveram, surgindo também a classe de 6,5 mm de diâmetro, que passou a possuir mudas (Figura 10 B). Pode-se observar, ainda, que as classes 3,5 mm e 4,5 mm passaram a conter a maioria dos indivíduos avaliados, somando mais de 350 mudas. Figura 10 – Classes de diâmetro de mudas deE. incanus, aos 90 (A) e 120 (B) dias, advindas de sementes coletadas em 23 matrizes em área localizada na UFVJM (Campus JK), no município de Diamantina/MG. Aos 90 dias, em relação à altura, pode-se perceber que os indivíduos se concentraram entre as classes de 0,5 cm e 11,5 cm. As classes de 4,5, 5,5 e 6,5 continham a maioria dos indivíduos, somando mais de 200 mudas. A classe de 6,5, apresentou o maior número de mudas, com 88 indivíduos. As classes de 0,5, 10,5 e 11,5 obtiveram as menores quantidades de mudas, somando menos de 20 indivíduos (Figura 11A). 53 Aos 120 dias, a classe de altura de 0,5 cm passou a não ter mais indivíduos e as classes diamétricas superiores aumentaram o número de mudas, indicando um incremento também na altura das mudas avaliadas, com o surgimento de novas classes, variando de 12,5 até 17,5 (Figura 11B). As classes de 7,5; 8,5; 9,5 e 10,5 passaram a conter a maioria dos indivíduos avaliados, totalizando 226 indivíduos. Figura 11 – Classes de altura de mudas de E. incanus, aos 90 (A) e 120 (B) dias, advindas de sementes coletadas em 23 matrizes em área localizada na UFVJM (Campus JK), no município de Diamantina/MG. DISCUSSÃO Os valores de germinação para espécies do Cerrado variam muito, podendo atingir sua totalidade bem como a ausência de germinação (Lima et al.; 2014). Tal variação pode ser verificada não só em diferentes populações de espécies, mas dentro de uma mesma população também. Velten and Garcia (2005) verificaram que, dentro de uma mesma população, pode haver variação entre os períodos de produção de sementes, quando analisou a germinação de sementes de E. incanus. Relacionaram, ainda, as variações temporais na viabilidade das sementes, ligando o estresse ambiental e a polinização à dificuldade na reprodução sexuada das espécies. 54 Considera-se que uma característica desejável no processo de formação de mudas é a germinação rápida, seguida da emergência da plântula. Pode-se dizer que plântulas em estágios iniciais do desenvolvimento que demoram a emergir do solo estão mais propensas às adversidades do meio. Além disso, a emergência das plântulas depende de características relacionadas ao substrato (estrutura, aeração, retenção de água), além da temperatura, umidade e profundidade de semeadura (Santana et al.; 2010). Assim, pode-se considerar que a temperatura afeta o processo germinativo direta- mente sobre a velocidade e percentual, dependendo da espécie e suas características genéticas. Outro fator que também pode influenciar nos processos germinativos é o substrato. Ele é res- ponsável por proporcionar às sementes condições favoráveis à germinação. Além disso, deve possuir boa aeração, uma estrutura que torne fácil o desenvolvimento inicial da plântula e boa capacidade de retenção de água (Pacheco et al.; 2008; Lima et al.; 2018). Silva et al. (2006) constataram que há exigências de temperaturas para o processo germinativo, bem como o de emergência, que podem variar ainda de acordo com a disponibilidade de água no substrato e suas características físicas. Tais características podem influenciar, também, no processo de embebição da semente e, por conseguinte, na germinação e emergência. A avaliação da primeira contagem da germinação é um indicativo da velocidade em que ela ocorre, uma vez que, quanto maior esse valor, mais rápida foi a germinação da amostra (Honório et al.; 2011). Freire et al. (2007) encontraram diferenças significativas para a germinação dentro de uma população de guapuruvu (Schizolobium parahyba), em que a capacidade germinativa variou de 10% a 100% entre as matrizes avaliadas. Sementes que apresentam maiores valores para o vigor, irão sofrer menos influência de patógenos, uma vez que estas possuem velocidades mais altas de germinação (Oliveira, Ribeiro, Ribeiro and Silva; 2011). Dessa forma, matrizes que apresentaram baixas taxas de germinação e emergência possuem baixo vigor, uma vez que estes fatores estão relacionados com a qualidade das sementes (Machado et al.; 2002). O Índice de Velocidade de Germinação (IVG) e o percentual de sementes germinadas constituem parâmetros que melhor diferenciam os tratamentos que, neste estudo, são constituídos pelas matrizes (Freire et al.; 2007). Nele, as matrizes foram diferenciadas seguindo esses dois critérios, sendo possível detectar alta variação do percentual de germinação e IVG entre as sementes das matrizes, enumerando os melhores desempenhos. Relacionada à velocidade de germinação está a velocidade de emergência, parâmetro que indica uma vantagem para as plântulas quanto maior for o seu valor, uma vez que permite que as plântulas tenham um estabelecimento antecipado e desenvolvimento de caule e raízes mais eficientes, conforme verificado por Freitas and Costa (2016) em estudo feito com pitanga vermelha (Eugenia calcyna). Neste trabalho os autores também puderam selecionar progênies com estabelecimento mais rápido, uma vez que os valores do índice de velocidade de emergência foram diferentes entre as matrizes avaliadas. O comportamento da germinação em Asteraceae está relacionado, principalmente, 55 com o histórico de formação das sementes, incluindo-se os estresses aos quais a planta mãe fora exposta, alterando o poder germinativo dos aquênios. Estes podem ter sofrido alguma alteração na sua forma e, consequentemente, alterações no desempenho da germinação (Ferreira et al.; 2001). A área em que as sementes foram coletadas, por se tratar de um ambiente em processo de recuperação (antigo lixão), pode ter sofrido modificações na rota de polinizadores de E. incanus, influenciando na sua reprodução e, consequentemente, na produção dos frutos (Júnior et al.; 2017). As plantas da família Asteraceae, de maneira geral, são polinizadas por grupos de insetos (abelhas) e a espécie Eremanthus erythropappus é alógama, possui flores hermafroditas, dispersão anemocórica dos frutos; sendo estas informações importantes para fornecer relações com as demais espécies do gênero Eremanthus (Vieira et al.; 2012). Dessa forma, as baixas taxas de germinação de algumas matrizes de E. incanus podem estar ligadas à má formação dos seus aquênios ou a falta do embrião (vazio), uma vez que a distribuição dos indivíduos pode afetar o sistema reprodutivo da planta; apesar da população desses frutos no gênero Eremanthus ser alta (Feitosa et al.; 2009; Davide et al.; 2011; Júnior et al.; 2017). O beneficiamento executado neste estudo foi exclusivamente manual com o uso de peneiras, não sendo utilizado o soprador para a separação das sementes mais leves. Geralmente, sementes mais leves de candeia são desprovidas de embrião e a não utilização do soprador neste trabalho pode ter ocasionado a semeadura de sementes nesta condição, resultando em baixos percentuais de germinação para algumas matrizes. O soprador, com regulação e tempo corretos, mostrou-se eficiente para separar sementes e E. erythropappus, conforme verificado por Tonetti et al. (2006). Vale destacar que outros fatores também podem interferir nos valores de germinação das sementes. Godinho et al. (2011), em estudo com Adenostemma brasilianum, verificaram que a espécie (também pertencente à família Asteraceae) possui plasticidade germinativa, uma vez que seus valores percentuais foram variados. Verificaram, ainda, que a viabilidade das sementes decresce com o armazenamento. Apesar das sementes de E. incanus serem classificadas como ortodoxas (Nery et al.; 2014), o armazenamento pode ter sido um fator que contribuiu para os baixos percentuais de germinação de algumas matrizes, uma vez que as sementes do presente trabalho foram armazenadas por dois anos antes que o experimento fosse instalado. As avaliações das mudas foram feitas ainda na fase juvenil, quando ocorre a formação das suas estruturas vegetativas, antes de completarem um ano de crescimento, em que muitos fatores ambientais e fisiológicos podem influenciar na expressão do seu desenvolvimento, o que pode justificar a mudança de classes de diâmetro e altura pelos indivíduos avaliados (Laviola et al.; 2010). 56 CONCLUSÕES • A matriz 192 foi a mais vigorosa, considerando que 100% das suas sementes estavam germinadas na primeira contagem; obteve o maior valor de IVG (0,80) e obteve o mais alto percentual de germinação, com 100% das sementes emergidas ao final da avaliação. • Considerando os valores médios de diâmetro e altura, as matrizes obtiveram um incremento, considerando os dois períodos de avaliação; com destaque para a matriz 192 que obteve os maiores valores médios de altura e diâmetro para 90 e 120 dias. 57 Referências Araújo, F. V., Silva, E. d. B., Silva, A. C., Barbosa, M. S., Nardis, B. O. and Pereira, I. 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O objetivo deste trabalho foi avaliar, por meio de testes de progênies, a variabilidade genética dentro de uma população de candeias, visando a seleção de indivíduos com capacidade de desenvolvimento superior, via REML/BLUP. Foram utilizadas sementes de 23 matrizes, que foram coletadas durante o mês de outubro de 2015. As sementes foram semeadas no substrato comercial Trimix e as mudas mantidas em casa de vegetação por 45 dias. Posteriormente, elas foram aclimatadas em casa de sombra até os 75 dias e rustificadas a pleno sol até os 120 dias. As medições de altura e diâmetro foram realizadas aos 90 e 120 dias de instalação do experimento. Foram estimados herdabilidade no sentido restrito em nível de média das progênies, coeficientes de variação genética aditiva individual e dentro de progênies, acurácia da seleção da progênie e ganho de seleção; para o diâmetro e altura, aos 90 e 120 dias de idade; utilizando o programa estatístico Selegen. Os resultados obtidos mostraram alta variabilidade genética adequada aos programas de melhoramento para a candeia. Palavras-chave: Herdabilidade, REML/BLUP, Testes de Progênies. 63 ABSTRACT Candeia is a tree species belonging to the Asteraceae family, occurring in several Brazilian domains, including the Cerrado, Caatinga and Atlantic Forest. It is a multi-purpose forest species, mainly in the production of fence posts, due to its high durability and resistance to termites and bacteria attack; and with restorative potential, requiring the selection of genotypes with better performance in relation to growth. The objective of this work was to evaluate, through progeny tests, the genetic variability within a lamp population, aiming at the selection of individuals with superior development capacity, through REML/BLUP. Seeds from 23 matrices were collected during October 2015. The seeds were sown on the commercial Trimix substrate and the seedlings kept in a greenhouse for 45 days. Subsequently, they were acclimatized in a shady house until 75 days and rustified in full sun until 120 days. Height and diameter measurements were performed at 90 and 120 days of experiment installation. Restricted heritability at mean progeny level, coefficients of additive genetic variation within and within progenies, accuracy of progeny selection and selection gain were estimated; for diameter and height at 90 and 120 days of age; using the Selegen statistical program. The results showed high genetic variability suitable for breeding programs for candeia. Keywords: Heritability, REML/BLUP, Progeny Tests. 65 INTRODUÇÃO Eremanthus incanus (Less.) Less, conhecida popularmente como candeia, é uma espécie arbórea pertencente à família Asteraceae, que ocorre no nordeste (Bahia) e sudeste (Minas Gerais) brasileiro, nos domínios do Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica (MacLeish; 1987; Loeuille; 2012). Trata-se de uma espécie florestal de múltiplos usos, principalmente para produção de moirões de cerca, devido à sua alta durabilidade e resistência ao ataque de cupins e bactérias (Scolforo et al.; 2012). Embora a espécie Eremanthus incanus apresente uma relativa distribuição em re- giões montanhosas no estado de Minas Gerais, esta vem sendo ameaçada pela grande pressão exploratória, ocasionando, assim, a diminuição da base genética das populações e a redução na frequência de alelos que conferem fenótipos desejáveis para características de interesse (Jennings et al.; 2001). Com isso, grande parte da população remanescente passa a ser constituída por indivíduos de qualidade inferior para esses caracteres (Moura; 2005). Mesmo em espécies como a candeia, que possui grande capacidade de regeneração, rusticidade e baixa exigência edáfica, se desenvolvendo em solos pouco férteis e rasos (Scolforo et al.; 2002), torna-se necessária a seleção de genótipos com melhor desempenho em relação ao crescimento, desenvolvimento e adaptabilidade, a fim de maximizar seu potencial restaurador e produtivo em sítios degradados. Dessa forma, programas de melhoramento com espécies nativas são realizados em função da grande relevância ecológica para os ecossistemas que dele participam, principalmente, no que tange a valorização da espécie, a sua conservação e seu cultivo (Santos; 2008). Para que seja possível definir critérios de seleção e recombinação genética, informa- ções sobre à variabilidade genética entre e dentro das populações de ocorrência da espécie, bem como estudos relacionados à descrição dos padrões de herança de caracteres de interesse, devem ser priorizados, objetivando à produção de materiais genéticos superiores (Mazuchowski et al.; 2014). Pelos motivos apresentados, a utilização de testes genéticos auxilia na seleção de materiais com maior crescimento, produtividade e qualidade. Entre eles, os testes de progênies têm sido considerados a estratégia mais adequada e de maior eficiência (Xavier; 2009). Esse método tem sido usado na estimação dos parâmetros genéticos e seleção de indivíduos, quando se busca avaliar a magnitude e a natureza da variância genética disponível, com vistas a quantificar os ganhos genéticos e predizer os melhores genótipos (Apiolaza and Garrick; 2001; Costa et al.; 2008; Fonseca; 2010). Adicionalmente, os testes de progênies constituem uma ferramenta importante nos estudos de melhoramento e conservação genética de espécies arbóreas, uma vez que eles permi- tem estimar parâmetros genéticos, selecionar indivíduos superiores, além de permitir monitorar a variabilidade genética ao longo do tempo (Otsubo et al.; 2015). Em razão da complexidade da base genética da espécie avaliada, associada à influên- cia da interação ambiental, esta seleção geralmente é um trabalho difícil. Assim, os programas 66 de melhoramento necessitam escolher os genitores para formar a população base, e a partir dela realizar a seleção dos indivíduos superiores, avaliá-los em ciclos de seleção e, finalmente, sele- cionar os genótipos mais promissores que poderão ser recomendados comercialmente (Carrijo et al.; 2008). Desse modo, é essencial que se alcance estimativas confiáveis de parâmetros gené- ticos, englobando dados associados à variabilidade das populações sob melhoramento, a fim de elucidar a estrutura genética das populações que futuramente comporão os programas de melhoramento da espécie (Junior et al.; 2014). Diante do exposto, considerando as diversas potencialidades da espécie Eremanthus incanus e carência de informações sobre seu melhoramento genético, este trabalho teve como objetivo avaliar a variabilidade genética de matrizes de candeia, dentro de uma população, via REML/BLUP, considerando o crescimento inicial das mudas em condições de viveiro, visando selecionar genótipos com maior capacidade de desenvolvimento. MATERIAIS E MÉTODOS 4.2.1 População de trabalho A população de candeia alvo do estudo está localizada em uma área onde funcionava um depósito de lixo na cidade de Diamantina, em Minas Gerais. Tal local fora isolado em 2002 para fins de restauração e está situado nas coordenadas 18o12’17” de latitude Sul e 43o34’08” de longitude Oeste, mais especificamente no Campus JK da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) (Machado et al.; 2012). A exsicata da espécie está disponível no banco de dados do Herbário Dendrológico Jeanine Felfili, sob código de registro HDJF – 3988. O clima da região está classificado por Köppen (1931) como Cwb, tipicamente tropical, com verões brandos e úmidos entre os meses de outubro e abril, e invernos mais frescos entre os meses de junho e agosto. O regime pluviométrico é caracterizado por apresentar precipitação média anual com valores variando de 1250 a 1550 mm e a temperatura média anual apresenta valores próximos de 18oC (Santos et al.; 2017). 4.2.2 Seleção de indivíduos superiores Para a coleta de sementes, foi realizada a seleção fenotípica das matrizes, baseando- se em características como vigor, boas condições fitossanitárias, produção de sementes, tronco cilíndrico, entre outras. Foram selecionadas 23 árvores, constituindo 23 famílias de meios irmãos (FMI) de candeia, uma vez que as sementes são originadas de polinização aberta (Figura 12). As matrizes selecionadas estão localizadas em uma área de estudo de 2,15 hectares, onde os indivíduos de E. incanus se apresentam de maneira agregada e em maior número do que os indivíduos de outras espécies (Santos; 2019). 67 Figura 12 – Distribuição espacial das matrizes selecionadas de E. incanus, localizadas na UFVJM (Campus JK), no município de Diamantina/MG. Fonte: A autora. 4.2.3 Coleta e beneficiamento das sementes Foram coletadas sementes de cada uma das 23 matrizes individualmente, em outubro de 2015. Terminada a coleta, o material obtido foi transferido para o Centro Integrado de Propagação de Espécies Florestais (CIPEF), do Departamento de Engenharia Florestal, no Campus JK, da UFVJM; onde se executou o beneficiamento das sementes. O beneficiamento se iniciou com a catação manual das folhas remanescentes, seguido da separação das sementes com o uso de peneiras de três diferentes granulometrias, com malhas grossa, média e fina (Figura13). Após o beneficiamento, as sementes foram acondicionadas em sacos plásticos identificados por matriz e mantidos em câmara fria, com temperatura média de 4◦C e umidade relativa média de 40%, até o momento da instalação do experimento, um mês após a coleta. 4.2.4 Instalação do experimento Todas as etapas do experimento de germinação foram desenvolvidas no CIPEF/UFVJM. Foram semeadas seis sementes em cada tubete e, passados 45 dias, foi feito o raleio em que somente a plântula mais vigorosa foi deixada em cada recipiente. Os tubetes possuíam volume de 180 cm3, contendo substrato comercial Trimix R©, adicionado de 5 kg de superfosfato simples e 600 gramas de Osmocote R© (com formulação 15-9-12 de NPK e liberação variando de 12 a 14 meses) para cada 100 litros de substrato. O experimento foi instalado e conduzido entre os meses de dezembro de 2017 e outubro de 2018, em casa de vegetação nos primeiros 45 dias, coberta com filme de PVC de 68 Figura 13 – Etapas do beneficiamento e dos experimentos com sementes de E. incanus, co- letadas em área localizada na UFVJM (Campus JK), no município de Diaman- tina/MG. A: Catação manual das folhas e galhos remanescentes. B: Primeira etapa da separação das sementes, com uso de peneira de malha grossa. C: Segunda etapa da separação das sementes, com o uso de peneira de malha média. D: Terceira etapa de separação das sementes, com o uso de peneira de malha fina. E: Sementes distribuídas nos tubetes. F: Planta de candeia emergida. Fonte: A autora. 150 micra de espessura, tela de sombreamento de 50% e sistema de irrigação por nebulização. Os bicos de irrigação são do tipo Nebulizador Fogger, com vazão de 28 litros a cada hora. As irrigações ocorreram diariamente, iniciando-se às 7:00 e finalizando às 17:00, a cada 20 minutos e com duração de 30 segundos. Após 45 dias, as mudas sobreviventes foram levadas para a casa de sombra e per- maneceram até os 75 dias, mantendo-se o arranjo e delineamento estatístico. A partir desta data o experimento foi transferido para a área de rustificação em pleno sol, procedendo-se medições mensais de altura (cm) e diâmetro (mm) das mudas, até o décimo mês de implantação do experimento. A medição da altura foi feita com uma régua graduada e o diâmetro, por sua vez, foi medido com um paquímetro digital. 4.2.5 Análise dos dados O experimento foi instalado em Delineamento em Blocos Casualisados (DBC), com quatro blocos e 23 tratamentos (matrizes), contendo 12 tubetes cada. Para a análise da variabilidade genética foram utilizadas as medições de diâmetro e altura aos 90 e 120 dias. Estimou-se a herdabilidade no sentido restrito em nível de média das progênies, 69 coeficientes de variação genética aditiva individual e dentro de progênies, acurácia da seleção da progênie e ganho de seleção, para o diâmetro e altura, com o auxílio do programa estatís- tico SELEGEN (Resende; 2016). O modelo estatístico utilizado foi o de Blocos Incompletos (modelo 6), uma vez que o número de indivíduos por parcelas era diferente no experimento, em decorrência da mortalidade. O modelo é descrito pela equação: y = Xr + Za+Wp+ Tb+ e Em que y é o vetor dos dados, r é o vetor dos efeitos de repetição (assumidos como fixos) somados à média geral, a é o vetor dos efeitos genéticos aditivos individuais (assumidos como aleatórios), p é o vetor dos efeitos de parcela (assumidos como aleatórios), b é o vetor dos efeitos dos blocos (assumidos como aleatórios), e é o vetor dos resíduos ou erros (aleatórios). As letras maiúsculas representam as matrizes de incidência para os referidos efeitos. RESULTADOS As estimativas dos parâmetros genéticos são apresentadas na Tabela 5, para as características de diâmetro (mm) e altura (cm) das mudas com 90 e 120 dias de avaliação. A herdabilidade média de progênies no sentido restrito foi alta para as duas idades avaliadas, com valores de 96% para o diâmetro e 98% para a altura, indicando que o ambiente contribuiu com 4% e 2%, respectivamente, para o fenótipo das mudas. Tabela 5 – Estimativas dos parâmetros genéticos e fenotípicos em progênies de E. incanus para os caracteres diâmetro (mm) e altura (cm), aos 90 e 120 dias. Estimativas Diâmetro (mm) Altura (cm) 90 dias 120 dias 90 dias 120dias h2mp 0,96 0,96 0,98 0,98 CVgi 16,49 14,64 45,69 40,77 CVgp 8,24 7,32 22,84 20,38 CVr 1,47 1,49 2,25 2,48 Acprog 0,97 0,98 0,99 0,99 Média Geral 2,84 3,81 4,91 8,74 h2mp = herdabilidade média de progênie no sentido restrito; CVgi = coeficiente de variação genética individual; CVgp = coeficiente de variação genética entre progênies; CVr = relação entre CVgi e CVe (CVgi/CVe); Acprog = acurácia da seleção de progênies. Os coeficientes de variação genética individual mostraram a quantidade de variação existente entre os indivíduos para cada caráter, em relação à porcentagem da média geral. Tais valores foram de 16,49% para o diâmetro aos 90 dias e de 14,64% para a medição aos 120 dias. Para a altura, o CVgi foi de 45,69% aos 90 dias e de 40,77% aos 120 dias, indicando uma maior variação da altura quando comparada ao diâmetro, em relação à média. 70 Os valores dos coeficientes de variação genética entre progênies estiveram entre 7% e 8,5% para o diâmetro, aos 90 e 120 dias, respectivamente. Para a altura, esses valores foram próximos a 20%, indicando uma maior variabilidade para este caractere nas duas medições avaliadas. Em relação ao CVr pode-se perceber que esse coeficiente teve valores maiores que 1 para os dois caracteres avaliados, nas duas datas de medição, indicando que a variabilidade genética dentro das progênies pode ser explorada para a seleção de genótipos superiores. Os valores de acurácia da seleção de progênies foram superiores a 0,97 para o diâmetro e para a altura, nas duas medições, indicando alto grau de confiabilidade desse dos resultados obtidos na avaliação genética e uma grande precisão na seleção de indivíduos. A Tabela 6 apresenta os valores genéticos aditivos, de ganho genético e da nova média, podendo-se observar matrizes selecionadas como genitores para o diâmetro e altura, aos 90 e 120 dias de avaliação. Foram selecionadas 11 matrizes para o diâmetro e 12 matrizes, quando se considerou a altura; baseando-se nos valores aditivos positivos. As estimativas dos valores genéticos aditivos variaram de 0,99 a 0,02 para o diâmetro aos 90 dias e de 0,88 a 0,14 para a mesma variável, aos 120 dias. Já para a altura tais valores variaram de 2,74 a 0,32 aos 90 dias e de 4,53 a 0,62 aos 120 dias. De maneira geral, os ganhos genéticos médios foram de 0,54 mm para o diâmetro aos 90 dias e de 0,61 mm aos 120 dias. Para a altura, estes valores foram de 2,26 cm aos 90 dias e de 3,62 cm aos 120 dias. Constata-se que a matriz 13 obteve os maiores valores de ganho para o diâmetro, nos dois períodos avaliados. Para a variável altura, duas matrizes diferentes obtiveram os maiores valores de ganho, sendo a matriz 31 aos 90 dias e a matriz 157 aos 120 dias de avaliação. Em relação aos valores da nova média da matriz 13, pode-se inferir que, para o diâmetro, houve um aumento de 22,% de 90 para os 120 dias e, para a altura, considerando a mesma matriz, houve um aumento de 78,74% para o mesmo intervalo de medição. Considerando a matriz 157, a nova média para o diâmetro obteve um aumento de 35,81% e a altura de 82,43%; uma vez que essa matriz obteve o maior valor de ganho genético para esta variável no período de 120 dias. A matriz 31, por sua vez, teve um aumento de 20,54% para o diâmetro e de 64,26% para a nova média da altura. 71 Tabela 6 – Valor aditivo, ganho genético e nova média de diâmetro (mm) e altura (cm) para matrizes de E. incanus, aos 90 e 120 dias. Diâmetro (mm) - 90 dias Diâmetro (mm) - 120 dias Genitor Valor Aditivo Ganho Genético Nova Média Genitor Valor Aditivo Ganho Genético Nova Média 13 0,99 0,99 3,84 13 0,88 0,88 4,69 91 0,55 0,77 3,62 175 0,72 0,80 4,61 31 0,45 0,66 3,51 163 0,67 0,76 4,57 175 0,43 0,61 3,45 157 0,49 0,69 4,50 163 0,33 0,55 3,40 159 0,44 0,64 4,45 408 0,26 0,50 3,35 11 0,37 0,59 4,41 157 0,24 0,46 3,31 91 0,35 0,56 4,37 179 0,10 0,42 3,27 226 0,23 0,52 4,33 143 0,10 0,38 3,23 408 0,19 0,48 4,29 159 0,08 0,35 3,20 179 0,16 0,45 4,26 192 0,02 0,32 3,17 31 0,14 0,42 4,23 Altura (cm) - 90 dias Altura (cm) - 120 Genitor Valor Aditivo Ganho Genético Nova Média Genitor Valor Aditivo Ganho Genético Nova Média 31 2,74 2,74 7,66 157 4,53 4,53 13,27 170 2,66 2,70 7,62 13 4,34 4,43 13,18 159 2,45 2,62 7,53 175 3,52 4,13 12,87 192 2,43 2,57 7,48 170 3,49 3,97 12,71 13 2,02 2,46 7,37 31 3,31 3,84 12,58 157 1,87 2,36 7,27 159 3,07 3,71 12,45 175 1,40 2,22 7,14 163 2,54 3,54 12,29 163 1,36 2,12 7,03 192 2,24 3,38 12,13 254 1,16 2,01 6,92 179 2,15 3,24 11,99 179 1,05 1,91 6,83 254 1,68 3,09 11,83 91 0,89 1,82 6,73 91 0,98 2,89 11,64 67 0,32 1,70 6,61 226 0,62 2,71 11,45 DISCUSSÃO As plantas estudadas no presente trabalho foram avaliadas em sua fase juvenil, quando ocorre a formação das suas estruturas vegetativas, antes de completarem um ano de crescimento, em que muitos fatores ambientais e fisiológicos podem influenciar na expressão do seu rendimento, o que pode justificar a mudança do ranqueamento das matrizes nas diferentes idades avaliadas (Laviola et al.; 2010). Para a escolha dos genitores a serem selecionados, foi levado em consideração o seu valor genético aditivo, em que somente indivíduos com valores positivos foram considerados; uma vez que valores superiores a zero indicam uma menor contribuição da variação ambiental no fenótipo dos indivíduos (Carias et al.; 2016; Henriques et al.; 2016). A estrutura genética de uma população pode ser refletida pela estimação dos seus 72 parâmetros genéticos, direcionando programas de melhoramento genético e facilitando os pro- cessos de seleção de indivíduos (Maia et al.; 2009). Os valores de acurácia obtidos neste estudo indicaram boas perspectivas para a seleção precoce, como também obtido por Juhász et al. (2010), em seu estudo com pinhão manso (Jatropha curcas L.) em fase juvenil. Considerando a herdabilidade no sentido restrito, quanto mais próximos de um são os seus valores, maior o controle genotípico da característica avaliada, ou seja, a característica se manifesta, predominantemente, pela ação gênica. Assim, diz-se que a característica é herdável, adequada à seleção de genótipos superiores para os programas de melhoramento genético (Resende; 2016). Ao analisarem a variabilidade genética do pinhão manso (Jatropha curcas L.) em fase juvenil, Abreu et al. (2009) obtiveram resultados que demonstraram ampla variabilidade entre o diâmetro e altura das mudas aos 90 dias, indicando a possibilidade de selecionar indivíduos com potencial para compor os programas de melhoramento da espécie ou para formarem pomares de sementes em plantios iniciais. Dessa forma, com a seleção de indivíduos pelo desempenho superior, tem-se que a característica de interesse somente será repassada às próximas gerações se tiver altos valores de herdabilidade (Costa et al.; 2016; Freitas and Costa; 2016). Portanto, para a possível seleção de indivíduos baseada no fenótipo, quanto mais herdável for uma característica mais facilmente ela será perpetuada para os descendentes. Silva et al. (2007) também encontraram valores de herdabilidade superiores à 90% para o diâmetro, ao avaliar a diversidade entre progênies de Eremanthus erythropappus, em fase juvenil, além de encontrarem um valor de CVr superior a 1,0, indicando situação favorável à seleção de genótipos superiores. Segundo Freitas and Costa (2016) a seleção de indivíduos supe- riores considerando diâmetro e altura é possível quando se tem estimativas altas de herdabilidade no sentido restrito e acurácia na seleção, mesmo contexto dos resultados obtidos pelo presente estudo. Os valores de herdabilidade no sentido restrito podem variar entre as idades avaliadas, podendo aumentar de uma avaliação para a outra. Sendo assim, considerando plantas jovens, os valores de herdabilidade podem ser superestimados devido a interação genótipo versus ano, associado aos valores de coeficientes de variação, devendo-se interpretar os resultados de maneira cautelosa (Laviola et al.; 2010; Resende et al.; 2001). Da mesma maneira, tais valores podem diminuir a medida em que o tempo decorre, conforme verificado por Coutinho et al. (n.d.) em seu estudo com Pinus taeda. Neste trabalho, os valores de herdabilidade diminuíram de um ano para o outro, devido aos efeitos do ambiente ligados à competição entre plantas. Tais autores discorrem sobre os valores da herdabilidade estarem associados ao ambiente, sendo que quanto mais favorável forem as condições ambientais maiores serão os valores de herdabilidade. Ou seja, a medida em que as plantas crescem, os recursos se tornam mais escassos, diminuindo os valores de herdabilidade (Henriques et al.; 2016; Oliveira et al.; 2018). 73 Os valores dos coeficientes de variação são utilizados para expressar a variabilidade genética dos caracteres avaliados, em que quanto maior o seu valor maior a probabilidade de se encontrar indivíduos para a seleção (Resende; 2002). A variabilidade genética entre as plantas avaliadas mostra-se fundamental para a seleção genética e este fator vai depender das plantas que expressam esta característica (Laviola et al.; 2010). Ao analisar os coeficientes de variação genotípica individual, percebe-se que os valores variaram de 16% a 40%, aproximadamente, indicando uma heterogeneidade entre os indivíduos. Neste caso, como o experimento foi avaliado ainda em fase juvenil, deve-se considerar que os indivíduos ainda possuem menores alturas, aumentando sua suscetibilidade às condições adversas do ambiente. Canuto et al. (2015) fizeram esta mesma observação em seus estudos com cumaru (Dipteryx alata Vog.), em que verificaram que os coeficientes de variação foram de 28% a 52%, aproximadamente, com tendência a aumentar nas avaliações posteriores e se manterem constantes à medida que as plantas se tornassem estáveis no ambiente. Os valores de CVgi em torno de 15% e 40%, para diâmetro e altura, respectivamente, são considerados altos aos três meses de idade, como também verificado por Canuto et al. (2015), indicando maior facilidade em encontrar indivíduos de desempenho superior, que poderão proporcionar ganhos com a seleção. Tais autores relatam que a existência de variabilidade genética entre os indivíduos favorece a implantação de testes de progênies para a formação de pomares de sementes por mudas e como propágulos para a recuperação de áreas degradadas. Os valores de CVr foram superiores a 1, para os dois parâmetros avaliados, nas duas medições, como também encontrado por Massaro et al. (2010) em seus estudos com eucalipto, em fase juvenil. Tal condição é desejável no processo de seleção, já que esta reflete que a variação genética supera a variação ambiental, em que quanto maior o valor desse parâmetro maior o controle genético dos caracteres e menor a influência do ambiente no fenótipo, convergindo em um processo de seleção mais eficiente (Souza et al.; 2017). De uma maneira geral, ao se praticar a seleção por meio de teste de progênies de meios irmãos permite-se explorar todos os componentes de variância genética aditiva presente, podendo-se selecionar indivíduos dentro e entre famílias. Tais estimativas podem ser usadas na escolha de matrizes promissoras, promovendo a presença de alelos favoráveis de materiais genéticos de interesse (Maia et al.; 2011). CONCLUSÕES • As estimativas dos parâmetros genéticos de diâmetro e altura de mudas, aos 90 e 120 dias, em matrizes de E. incanus, em fase juvenil, mostraram variabilidade genética adequada para programas de melhoramento genético. • Os valores dos parâmetros genéticos mostraram que a seleção dos genitores pode ser recomendada, uma vez que seus valores atingiram níveis satisfatórios. • Para o melhoramento genético da candeia pode-se utilizar a seleção baseada nos caracteres 74 de crescimento, uma vez que estes são capazes de discriminar genitores com melhores potenciais de desenvolvimento. 75 Referências Abreu, F. B., de Resende, M. D. V., Anselmo, J. L., Saturnino, H., Brenha, J. and de Freitas, F. (2009). Variabilidade genética entre acessos de pinhão-manso na fase juvenil., Embrapa Florestas . Apiolaza, L. A. and Garrick, D. J. (2001). Analysis of longitudinal data from progeny tests: some multivariate approaches., Forest Science 47(2): 129–140. Canuto, D. S. d. O., Zaruma, D. U. 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Variação genética em caracteres quantitativos em Pinus caribaea var. hondurensis., Embrapa Florestas . Xavier, A. (2009). Silvicultura clonal: princípios e técnicas., ed. UFV. 79 5 DIVERSIDADE GENÉTICA DE MATRIZES DE CANDEIA (Eremanthus incanus) (LESS.) LESS. (ASTERACEAE) UTILIZANDO MARCADORES MOLECULARES MICROSSATÉLITES RESUMO A candeia (Eremanthus incanus (Less.) Less), espécie alvo deste trabalho, é uma espécie brasileira, com principal ocorrência no estado de Minas Gerais, incluindo a região de Diamantina, que serve de matéria prima de diversos produtos para os moradores da região. Pode ser usada para lenha e para produção de moirões de cerca, devido ao seu potencial energético e à sua resistência natural a pragas e doenças. Dessa forma, a seleção de fenótipos de candeia com melhor desempenho em relação ao crescimento, desenvolvimento e adaptabilidade, para maximizar seu potencial, faz-se importante e pode ser obtida com os programas de melhoramento genético. Este trabalho teve como objetivo analisar a diversidade genética de dez matrizes selecionadas de E. incanus, utilizando marcadores moleculares microssatélites. O método CTAB, com algumas modificações, foi utilizado no processo de extração do DNA genômico, seguido das reações de amplificação do material extraído e eletroforese dos fragmentos amplificados, com gel de poliacrilamida não desnaturante. Foram utilizados nove primers, que amplificaram e geraram bandas polimórficas, permitindo concluir que o grupo de matrizes estudado possui variabilidade genética, recomendando-se estudos mais detalhados sobre a população de candeia. Palavras-chave: SSR, Dendrograma, Variabilidade. 81 ABSTRACT Candeia (Eremanthus incanus (Less.) Less), a target species of this work, is a Brazilian species, with a major occurrence in the state of Minas Gerais, including the Diamantina region, which serves as raw material for various products for the locals. It can be used for firewood and fence fence production due to its energy potential and natural resistance to pests and diseases. Thus, the selection of the best-performing lamp phenotypes in relation to growth, development and adaptability to maximize their potential is important and can be obtained through breeding programs. This work aimed to analyze the genetic diversity of ten selected matrices of E. incanus, using microsatellite molecular markers. The CTAB method, with some modifications, was used in the genomic DNA extraction process, followed by amplification reactions of the extracted material and electrophoresis of the amplified fragments, with non-denaturing polyacrylamide gel. Nine primers were used, which amplified and generated polymorphic bands, allowing to conclude that the studied matrix group has genetic variability, recommending more detailed studies on the candeia population. Keywords: SSR, Dendrogram, Variability. 83 INTRODUÇÃO A candeia (Eremanthus incanus (Less.) Less) é uma espécie brasileira, com principal ocorrência no estado de Minas Gerais, incluindo a região de Diamantina. Trata-se de uma espécie de valor econômico, que oferece multiprodutos da sua madeira, tanto pela sua alta durabilidade natural, resistência e poder energético quanto por se tratar da matéria prima de onde se extrai um óleo essencial. Tais produtos servem como fonte alternativa de renda para os proprietários rurais de suas regiões de ocorrência (Scolforo et al.; 2002, 2012; Gomide et al.; 2012; Silva et al.; 2014). Os estudos genéticos de populações naturais de espécies arbóreas visam ao co- nhecimento da variabilidade genética existente para uma determinada espécie, bem como da maneira que esta variabilidade está distribuída entre e dentro de suas populações naturais. Este conhecimento é fundamental para a efetivação de qualquer programa de conservação, manejo e melhoramento genético de uma espécie (Kageyama et al.; 2003; Moura; 2005; Estopa et al.; 2006; Aguiar et al.; 2013; Silva et al.; 2018). A partir disto consegue-se determinar tanto a diversidade de indivíduos quanto as divergências genéticas entre eles. O conhecimento de divergência genética é um processo a ser desenvolvido anteriormente a implantação de programas de melhoramento genético, pois o entendimento de divergência permite conhecer genótipos para instalação de pomares de sementes e maximizar a distância genética pela recombinação de genes ou complexos gênicos em novas combinações favoráveis (Caixeta et al.; 2003; Santos et al.; 2018). Assim, os marcadores moleculares podem ser usados como uma ferramenta eficiente para resolver questões relacionadas à variabilidade genética em populações de melhoramento, conservação e produção, sendo extremamente úteis nos programas de melhoramento, indepen- dente do estádio de desenvolvimento da planta e para qualquer espécie florestal (Borém; 2007; Gois et al.; 2018). Dessa forma, as informações moleculares podem complementar as informações ecológicas e morfológicas dos recursos genéticos, contribuindo para aumentar a eficiência dos processos de coleta, direcionar o enriquecimento da base genética, analisar diversidade e pureza genética, auxiliar em trabalhos de identificação botânica, subsidiar a seleção de genitores, além de permitir o planejamento dos cruzamentos e a seleção de genótipos com características desejadas em um programa de melhoramento (Faleiro; 2007; Lima et al.; 2015). Os microssatélites são marcadores moleculares que constituem pequenos fragmentos de DNA, sendo os mais utilizados para análise genética em seres vivos. Eles se apresentam em maior frequência, além de estarem distribuídos ao acaso e formarem locos genéticos mais polimórficos. A partir disso, tais marcadores são os mais indicados para espécies florestais, pois estes apresentam maior conteúdo de informações, são de fácil utilização, além de serem codominantes e não sofrerem infuência do ambiente (Borém; 2007). Diante do exposto, considerando a importância da candeia para a região e suas potencialidades, este trabalho teve como objetivo analisar a diversidade genética de matrizes de 84 E. inacnus, utilizando marcadores moleculares microssatélites. MATERIAIS E MÉTODOS 5.2.1 População de trabalho A população de candeia alvo do estudo está localizada em uma área onde funcionava um depósito de lixo na cidade de Diamantina, em Minas Gerais. Tal local fora isolado em 2002 para fins de restauração e está situado nas coordenadas 18o12’17” de latitude Sul e 43o34’08” de longitude Oeste, mais especificamente no Campus JK da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) (Machado et al.; 2012). A exsicata da espécie está disponível no banco de dados do Herbário Dendrológico Jeanine Felfili, sob código de registro HDJF – 3988. O clima da região está classificado por Köppen (1931) como Cwb, tipicamente tropical, com verões brandos e úmidos entre os meses de outubro e abril, e invernos mais frescos entre os meses de junho e agosto. O regime pluviométrico é caracterizado por apresentar precipitação média anual com valores variando de 1250 a 1550 mm e a temperatura média anual apresenta valores próximos de 18oC (Santos et al.; 2017). 5.2.2 Seleção e coleta do material vegetal Para a extração do DNA genômico, foram coletadas amostras foliares de 10 matrizes selecionadas aleatoriamente, em outubro de 2018, constituindo 10 famílias de meios irmãos (FMI) de candeia, uma vez que as sementes são originadas de polinização aberta (Figura 14). Foi realizada a seleção fenotípica das matrizes, baseando-se em características como vigor, boas condições fitossanitárias, produção de sementes e tronco cilíndrico. As matrizes selecionadas estão localizadas em uma área de estudo de 2,15 hectares, onde os indivíduos de E. incanus se apresentam em maior número do que os indivíduos de outras espécies (Santos; 2019). Foram coletadas de duas a três folhas jovens por matriz, escolhidas sem danos aparentes ou sinal de doença e ataque de pragas. Em seguida, as amostras recém coletadas foram devidamente identificadas e colocadas em sacos plásticos. Do campo, o material coletado foi levado para o Laboratório de Genética e Biotecnologia Florestal, do Departamento de Engenharia Florestal, Campus JK, da UFVJM; onde foram armazenadas em freezer a - 80◦C. Todas as demais etapas do presente estudo foram realizadas no mesmo laboratório. 5.2.3 Extração do DNA genômico O método CTAB (Doyle and Doyle; 1990), com algumas modificações, foi utilizado no processo de extração do DNA genômico, em que 200 mg de tecido foliar, previamente armazenado a -80◦C, foi macerado por 15 segundos, em micro tubos metálicos de 1,8 ml, na presença de duas esferas de aço inoxidável (beads) com diâmetro de 3,2 mm, adicionados a 800 85 Figura 14 – Distribuição espacial das matrizes selecionadas de E. incanus, localizadas na UFVJM (Campus JK), no município de Diamantina/MG. Fonte: A autora. µl de tampão de extração pré-aquecido (CTAB 2%, NaCl 1,4 M, EDTA 20 mM, tris HCl 100 mM – pH 8,0, PVP 1%, mercaptoetanol 0,2%). Os tubos foram colocados em banho-maria a 65◦C, por 60 minutos, com inversões manuais em intervalos de 10 minutos. Os tubos foram retirados do banho e a parte líquida foi transferida, com a ajuda de uma micropipeta, para tubos plásticos de 1,5 ml, devidamente identificados de acordo com cada matriz. Em cada tubo foram adicionados 600 µl de solvente orgânico clorofórmio álcool isoamílico, na proporção de 24 partes de clorofórmio para uma parte de álcool isoamílico (CIA 24:1). Em seguida, os tubos foram agitados manualmente por 5 minutos e, na sequência, as amostras foram levadas para a centrifugação, a 12.000 rpm, por 10 minutos (Centrífuga Beckman Coulter – Modelo Allegra X-22 R). O sobrenadante (fase aquosa) foi retirado e transferido para um novo tubo, em que se adicionou 60 µl de solução CTAB 10% (CTAB 2%, NaCl 1,4 M), seguido de homogeneização manual, adição de 600 µl de solvente orgânico clorofórmio álcool isoamílico (CIA 24:1) e centrifugação a 12.000 rpm, por 10 minutos. Novamente, a fase aquosa foi transferida para um novo tubo em que foi adicionado 450 µl de isopropanol gelado e deixou-se precipitar no freezer (overnight). Após esta etapa, as amostras de DNA foram centrifugadas por 30 minutos a 12.000 rpm, a uma temperatura de 4◦C. Neste momento foi possível se observar um pellet contendo o DNA. O sobrenadante foi descartado e procedeu-se três lavagens do pellet: as duas primeiras com 100 µl de álcool 70% e a terceira com 100 µl de álcool 95%; todas elas com centrifugação a 12.000 rpm, por cinco minutos e com descarte do sobrenadante depois de cada centrifugação. 86 Após as lavagens, o pellet foi seco a vácuo e ressuspendido em 50 µl de solução TE 10:0,01 (10 mM Tris HCl – pH 8,0; 0,1 mM EDTA), com RNAse 10 g/ml. Os tubos foram levados ao banho-maria em 37◦C, por 30 minutos, em que se observou a completa dissolução do pellet. Para finalizar esta etapa, os tubos foram armazenados em freezer a -20◦C, até o momento do uso. 5.2.4 Reação da Polimerase em Cadeia - PCR A partir da extração do DNA, as reações de amplificação foram preparadas com volume final de 15 µl; contendo 3 µl de DNA genômico previamente diluído, 3,8 µl de água ultrapura, 1,5 µl de tampão 10x da enzima, 3,0 µl de MgCl2, 1,5 µl de dNTP (dATP, dCTP, dGTP, dTTP), 1,0 µl de cada marcador (direto e reverso) e 0,2 µl da enzima Taq DNA polimerase. Os primers foram desenvolvidos para E. erythropappus, espécie do mesmo gênero, uma vez que esses marcadores específicos inexistem para E. incanus. A descrição de cada primer se encontra na Tabela 7. Tabela 7 – Sequência dos oligonucleotídeos, repetições, tamanho esperado do fragmento e temperatura de anelamento (Ta) para o loco SSR, desenvolvidos para E. eryth- ropappus. Loco Sequência Primer (5’-3’) Repetição Tamanho (Pb) ERE02 F: TCTTGCTTACGCGTGTGACT (GA)21 119 R: TGCATCCACTCCAATCACTT ERE03 F: GAAGGGAGACATCGGAAGAA (CTT)32 232 R: ACGGAACGGAGAAGAAGAAA ERE04 F: CAGTGAGGGGAAGGGAGAAT (CTT)37 398 R: CCTCCACTATAGGGCGGAAT ERE07 F: GCGTGGGACTAACCCATTC (CTT)9 120 R: ACCTGTTGGTGAAAGGATGC ERE08 F: GAGCCTTCCATGGGAGTAGG (AGC)5 238 R: TGGGAGGGAGAAATTGAACA ERE09 F: GCTTACGCGTGGGACTAACT (CA)3; (GA)8; (GTA)6 269 R: GCGTGGACTAGGAAAACGAA ERE10 F: GATCATCGCCATGAAGGAAT (GAA)3; ATA; (GAA)27 244 R: CAGTGAGGGGAAGGGAGAAT ERE13 F: GAGACCCTGGCTGTCTTCAT (CT)6; (CA)6 378 R: GCGTTGAGTTTCGGAGAAGT ERE14 F: CATCGATTTGGAGGCTTCAT (CT)11; (AT)8; (GT)18 207 R: TGCTTACGTGTGCTCTTGCT Fonte: (Rocha; 2019). As reações foram realizadas em termociclador (Termociclador Biorad – Modelo MyCicler 1.065), submetidas a desnaturação inicial a 94◦C por três minutos, seguida de 30 ciclos de desnaturação a 94◦C por 30 segundos, temperatura de 54◦C para o anelamento por 30 segundos, extensão a 72◦C por um minuto. Por fim, obteve-se a fase final de extensão a 72◦C 87 por sete minutos. Em seguida, a temperatura foi mantida a 4◦C até a retirada das amostras do aparelho. 5.2.5 Eletroforese dos produtos amplificados Após a amplificação, os fragmentos foram separados em gel de poliacrilamida não desnaturante 6% (acrilamida 30%, persulfato de amônio 10%, TBE 10x – Tris-Borato-EDTA, 14 µl TEMED). A solução foi preparada, homogeneizada e aplicada com o auxílio de uma seringa. As placas molde para a montagem do gel foram higienizadas previamente. Após a aplicação, as placas foram mantidas em repouso por 180 minutos para a polimerização. Passado este tempo, as amostras amplificadas foram aplicadas no gel, que foi levado, em seguida, para a cuba de eletroforese; onde procedeu-se a corrida a 120 V, por 120 minutos. Após a corrida, o gel foi corado em solução de nitrato de prata para a visualização dos fragmentos. Inicialmente, foi submetido à solução fixadora (etanol 10% - ácido acético glacial 0,5%) sob agitação por 15 minutos, passando para a solução de nitrato de prata 0,2%, por 15 minutos. Em seguida, o gel foi lavado em água destilada por 30 segundos e transferido para a solução reveladora (NaOH 3% - formaldeído 0,5%) até que os fragmentos se tornassem visíveis. Ao final, os géis foram visualizados e suas imagens foram capturadas em fotodocumentador (LPix Image EX Loccus Biotecnologia). A determinação dos tamanhos dos fragmentos gerados foi feita com a aplicação do marcador de 1000 pb. 5.2.6 Análise dos dados A partir da leitura e interpretação dos géis gerou-se uma matriz binária de presença (1) e ausência (0) de bandas dos indivíduos que foram genotipados. De posse desses dados, no ambiente estatístico R (Team; 2018), foi obtida uma matriz de dissimilaridade genética, utilizando-se o coeficiente de similaridade de Jaccard (Jaccard; 1901). Foram utilizados os pacotes MASS (Ripley et al.; 2013; Oksanen et al.; 2018). Com base nessa matriz, foi produzido um dendrograma a partir das dissimilaridades genéticas pelo método de agrupamento de médias aritméticas não ponderadas (UPGMA). RESULTADOS A partir do material genético extraído, foram feitas as reações de amplificação, em que nove primers foram utilizados, todos foram amplificados e todos apresentaram polimorfismo, sendo utilizados para as análises de diversidade das matrizes (Figura 15). Ainda considerando os primers avaliados, pode-se observar que foram detectados nove alelos diferentes no total. Para o marcador ERE 08 foi detectado apenas um alelo; para o ERE 04 foram obtidos dois alelos; para os marcadores ERE 02, ERE 03 e ERE 07 foram obtidos três alelos; para os marcadores ERE 09 e ERE 10 foram obtidos quatro alelos; os marcadores ERE 13 e ERE 14 obtiveram cinco alelos cada. 88 Figura 15 – Gel de poliacrilamida da amplificação com marcador molecular microssaté- lite Ere 10, do material genético de dez matrizes selecionadas de E. incanus, localizadas na UFVJM (Campus JK), no município de Diamantina/MG. Fonte: A autora. O dendrograma gerado agrupou as matrizes em três grupos distintos: um grupo formado pelas matrizes 348, 146 e 156; outro grupo formado pelas matrizes 192 e 408 e o terceiro grupo formado pelas matrizes 254, 11, 175, 13, 179 (Figura 16). A partir dos grupos formados pelo dendrograma pode-se considerar que houve a formação de subgrupos. No primeiro grupo, foram formados dois subgrupos, em que a matriz 348 é geneticamente diferente das matrizes 146 e 156, que são mais aparentadas entre si. O segundo grupo foi formado apenas pelas matrizes 192 e 408, indicando uma similaridade genética entre elas. O terceiro grupo foi formado por três subgrupos: o primeiro deles formado pela matriz 254, diferente geneticamente das demais; o segundo formado pelas matrizes 11 e 175, similares entre si e diferente das demais; e o terceiro subgrupo formado pelas matrizes 13 e 179, também similares entre si e diferente das demais. 89 Figura 16 – Dendrograma de diversidade das dez matrizes selecionadas de E. incanus, lo- calizadas na UFVJM (Campus JK), no município de Diamantina/MG. Fonte: A autora. DISCUSSÃO Os nove marcadores moleculares microssatélites utilizados na genotipagem das 10 matrizes deste estudo foram polimórficos, de fácil interpretação no gel de poliacrilamida e amplificaram nove alelos. Oliveira et al. (2010) obtiveram resultados semelhantes em seus estudos com Euterpe oleracea, em que foram utilizados sete primers SSR e todos amplificaram e obtiveram locos polimórficos. Os primers utilizados no estudo foram desenvolvidos para Eremanthus erythropap- pus, porém o seu uso para E. incanus foi satisfatório, uma vez que eles amplificaram nas reações de PCR e geraram polimorfismo. Motta et al. (2019) conseguiram resultados positivos para a transferibilidade de marcadores microssatélites entre as espécies Croton urucurana e Croton floribundus. Furlan et al. (2007) também conseguiram a transferibilidade dos primers entre diferentes espécies de pinus, com resultados de sucesso. Mesmo utilizando um pequeno número de primers obteve-se um grau de polimorfismo, indicando que os indivíduos estudados têm potencial para serem utilizados em programas de melhoramento (Estopa et al.; 2006). Além disso, Borém (2007) considera que a transferibilidade para o mesmo gênero é uma característica desejável para os marcadores SSR. O número de alelos obtidos para espécies que apresentam elevada densidade popula- cional é alto, ao mesmo tempo em que populações com baixa densidade populacional apresentam poucos alelos (Gois et al.; 2018). Por se tratar de uma população pequena, pode-se considerar que o número de alelos encontrados nas matrizes estudadas foi baixo. Contudo, pode-se consi- derar que o número de fragmentos polimórficos em plantas é bastante variável, ao se estudar variabilidade genética, independente se a espécie é melhorada ou não (Estopa et al.; 2006). O princípio geral de todo método de agrupamento é tornar máxima a similaridade 90 dentro de um grupo e a dissimilaridade entre grupos. O UPGMA é um método que tem sido comumente utilizado em estudos de diversidade genética, uma vez que considera as médias aritméticas das medidas de dissimilaridade, evitando-se caracterizar a dissimilaridade pelos valores extremos entre os indivíduos(Cruz; 2003; Alfenas; 2006). A diferença genética entre matrizes pode estar associada à distância geográfica entre elas, conforme estudo feito por Estopa et al. (2006), ao estudarem populações naturais de E. erythropappus. Neste estudo, os indivíduos de candeia foram agrupados por sua similaridade, formando pequenas populações isoladas, indicando que a altitude poderia estar influenciando na distribuição dos genótipos. De acordo com os resultados obtidos pelo presente estudo, tem-se que a matriz 348 está distante geograficamente 134 metros, aproximadamente, das demais matrizes 146 e 156, que compõem o seu grupo de similaridade; o que pode explicar sua diferença no genótipo. Tal fato pode ser comprovado também ao se analisar a distância geográfica das matrizes 146 e 156, similares entre si e diferentes da matriz 348. A matriz 146 está a 15 metros da matriz 156, podendo haver troca de alelos entre elas exclusivamente. O segundo grupo formado pelo dendrograma obteve comportamento distinto, em que as matrizes 192 e 408 foram classificadas como geneticamente similares, porém estão distantes 141 metros, aproximadamente. O mesmo aconteceu no terceiro grupo, em que as matrizes similares geneticamente estavam a, pelo menos, 40 metros de distância uma da outra; e a matriz classificada como diferente geneticamente estava a, aproximadamente, 70 metros das demais. As plantas da família Asteraceae, de maneira geral, são polinizadas por grupos de insetos (abelhas) e a espécie Eremanthus erythropappus é alógama, possui flores hermafroditas, dispersão anemocórica dos frutos (Vieira et al.; 2012); sendo estas informações importantes para fornecer relações com o fluxo dos genes entre as matrizes avaliadas. Em seus estudos com espécies arbóreas tropicais, Kageyama et al. (2003) detecta- ram cruzamentos entre indivíduos aparentados, em populações de Trema micranta, Cecropia pachystachya, Cariniana legalis e Esenbeckia leiocarpa, que costumam apresentar distribuição agregada e tamanho populacional variado; em que se detectou que o agrupamento está relacio- nado com o sistema de dispersão da espécie. Tal característica aumenta a probabilidade de se obter progênies próximos à matriz, em decorrência de cruzamentos aparentados. CONCLUSÕES • O grupo de matrizes estudada possui variabilidade genética, recomendando-se estudos mais detalhados da população de candeia. • Os dados obtidos podem ser utilizados no programa de melhoramento genético da candeia, para o estabelecimento e avaliação de testes de progênies, com finalidade de produção ou conservação. 91 Referências Aguiar, R. V., Cansian, R. L., Kubiak, G. B., Slaviero, L. B., Tomazoni, T. A., Budke, J. C. and Mossi, A. J. (2013). Variabilidade genética de eugenia uniflora l. em remanescentes florestais em diferentes estádios sucessionais, Revista Ceres 60(2): 226–233. Alfenas, A. C. (2006). Eletroforese e marcadores bioquímicos em plantas e microrganismos, UFV. Borém, A. (2007). Biotecnologia florestal, Universidade Federal de Viçosa. Caixeta, R. P., Carvalho, D. d., Rosado, S. C. d. S. and Trugilho, P. F. (2003). Variações genéticas em populações de eucalyptus spp. detectadas por meio de marcadores moleculares, Revista Árvore 27(3): 357–363. Cruz, C. D. 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Floral biology of candeia (eremanthus erythropappus, asteraceae), Pesquisa Florestal Brasileira 32: 477–481. 95 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos resultados do segundo capítulo foi possível concluir que a matriz 175 foi a melhor, quando comparada com as demais matrizes selecionadas, uma vez que ela apresentou os melhores valores de germinação, vigor e velocidade de germinação, em condições de laboratório; nos dois anos de montagem do experimento. Considerando os valores médios de diâmetro e altura encontrados no terceiro capítulo, pode-se destacar a matriz 192, que obteve os maiores valores para 90 e 120 dias de avaliação. Além disso, essa matriz foi a mais vigorosa, obteve o maior valor de IVG e o mais alto percentual de germinação, em ambiente de viveiro. Dessa forma, os dados acerca da germinação forneceram informações relevantes para subsidiar a escolha de matrizes para formação de pomar de sementes, uma vez que conseguiu selecionar as melhores matrizes pelos percentuais de germinação e vigor, sendo possível escolher árvores fornecedoras de sementes com qualidade de germinação superior. Com o quarto capítulo, pode-se inferir que as estimativas dos parâmetros genéticos de diâmetro e altura de mudas, aos 90 e 120 dias, em matrizes em fase juvenil, mostraram variabilidade genética adequada para programas de melhoramento genético. Dessa forma, pode- se selecionar genitores baseado nos caracteres de crescimento, uma vez que estes foram capazes de discriminar genitores com melhores potenciais de desenvolvimento. O quinto capítulo mostrou que o grupo de matrizes estudada neste trabalho possui variabilidade genética, recomendando-se estudos mais detalhados da população de candeia. De maneira geral, os dados obtidos podem ser utilizados no programa de melhoramento genético da candeia, para o estabelecimento e avaliação de testes de progênies, com finalidade de produção ou conservação.